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Economia

Sair da casa dos pais traz independência. E despesa

Arquivo Geral

24/09/2018 7h00

Foto: Myke Sena/Jornal de Brasília.

João Paulo Mariano
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Para uns, é um sonho. Para outros, uma necessidade. E ainda tem aqueles que a enxergam como um ato de independência. A saída da casa dos pais para morar em outro canto — e não simplesmente para constituir nova família — faz parte da realidade de muita gente. O problema é enfrentar sem preparação todos os desafios que vem com esse voo solo, principalmente os financeiros, pois a mudança pode trazer muita dor de cabeça se não tiver todas as despesas calculadas.

Até porque o aumento de gastos ao sair debaixo das asas familiares pode aumentar entre 60% a 70% para aqueles que já dão alguma ajuda financeira em casa. Para quem nunca ajudou e vai começar a morar só ou com os amigos, tem que se preparar para um choque maior.

As estimativas são do economista Francisco Nunes, que lembra que é necessário uma preparação emocional para que a transição seja mais eficaz. “Além da preparação financeira, a pessoa precisa aprender a ficar longe dos pais e a resolver todo tipo de situação. Sem contar com a falta de presença física se for morar só. Podem ser coisas difíceis de se acostumar”, afirma.

O especialista ainda alerta que, sem uma análise dos riscos contidos, essa saída de casa pode se tornar um “tiro no pé”. O jovem vai ter que se perguntar algumas coisas básicas: “Eu me preparei financeiramente para isso? É para eu ter minha independência? Eu tenho um trabalho que me dá sustentabilidade? Estou preparado para as crises que vem com isso?”. Isso tudo para que a pessoa não precisa voltar para casa dos pais em um estado financeiro pior que o existente na saída.

O engenheiro de software Vinícius Franco, de 27 anos, sempre procurou guardar dinheiro para o momento de sair da casa dos pais. Ele já teve a chance de morar no exterior durante um intercâmbio de seis meses. Porém, era algo temporário e contava com auxílio emocional e financeiro dos genitores.

Só em 2017 ele sentiu o gosto da independência total, ao sair da casa dos pais — agora, ele espera ser para sempre, apesar de não achar ruim morar com a família. No ano passado, os pais moravam em Luziânia/GO e ele conseguiu um trabalho no Plano Piloto. Para ele, ir e vir de carro todos os dias não era boa opção: tinha de percorrer os mais de 120 km da viagem de ida e volta para sua cidade .

Para o economista Francisco Nunes, para sair da casa dos pais, os jovens precisam se preparar a curto e médio prazo. Se pretende sair em três anos, esse é o tempo que eles têm para juntar o dinheiro necessário à eventual saída.

Porém, ele alerta que, se existe a escolha de ficar na casa dos pais por mais um tempo, deve-se utilizar isso para fazer uma boa reserva. Assim, se optar pelo aluguel ou pelo financiamento terá aporte financeiro para fazer tal escolha.

Quando se divide, fica mais fácil

Quem faz opção pela mudança precisa contabilizar não só a coluna das receitas como a de despesas. Caso elas sejam divididas, fica mais fácil cobrir esses gastos. O problema é quando essa divisão não dá certo. O orçamento em geral duplica e a receita não acompanha.

Foi o que aconteceu com Vinicius, que preferiu se juntar a uma amiga e, mesmo com gastos superiores, morar no Lago Norte, perto de onde trabalha, na Asa Norte. O dinheiro que ele tinha guardado serviu para amortizar os primeiros gastos que teve ao sair de casa. De início, ele viu o gasto chegar a R$ 1,8 mil por mês, incluindo o aluguel. Contudo, no início deste mês, houve um acréscimo, já que a amiga se mudou para Águas Claras e ele teve que arcar com tudo sozinho.

O jeito foi se mudar para outro apartamento, mais barato. Continua pagando R$ 1,8 mil mensais, mas agora juntando todos os gastos. “A gente sabe que é mais caro morar sozinho, mas não tenho muita opção. Ou é isso ou mais de três horas de trânsito na BR todos os dias”, analisa Vinícius.

Quando é compulsório

Se para Vinícius deu tempo de se preparar minimamente, com Lucas Rodrigues, de 24 anos, a história foi diferente. Gerente de uma padaria do Cruzeiro, teve que buscar outra casa para viver após a separação dos pais. “Minha mãe foi morar com minha irmã em um apartamento em Sobradinho e não tinha muito espaço para mim. Tive de ir para a casa de uns amigos e fiquei em um dos quartos do apartamento deles que estava vago”, diz.

Isso tudo ocorreu no início de 2017. Como ele já tinha uma boa cama, um guarda-roupa e uma modesta reserva financeira, achou que daria para enfrentar as despesas. Mas o dinheiro guardado serviu apenas para pagar a mudança e comprar algo mais urgente.

Em fevereiro deste ano, ele se mudou novamente porque lhe foi dada a oportunidade de morar em uma quitinete no prédio onde fica a padaria em que ele trabalha. Além de diminuir a distância do local de trabalho, alguns gastos caíram. Deu certo, mas, para ele, se houvesse uma maior preparação seria ainda mais fácil a transição.

Vinícius acha que a mudança que fez só compensou. Mas recomenda que a pessoa não saia da casa dos pais para morar só. “Sempre procure dividir o apartamento porque os custos caem bastante. E não se fica sozinho, vai ter gente para compartilhar tudo”, diz.

Saiba Mais

Para sobreviver com o salário, é preciso uma educação financeira boa. “Tem que se manter no trabalho e se atualizar para não perder o emprego”, diz o economista Francisco Nunes.

Como regra geral, quem tem emprego e faz essa opção percebe que há mais vantagens que desvantagens em morar sozinho. Para o gerente Lucas Rodrigues, a independência de moradia traz mais responsabilidades com os gastos, já que coloca tudo na caneta. Tem, portanto, aspectos positivos, embora até mesmo às saídas com os amigos sejam colocadas em xeque na hora de fazer as contas.

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