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Economia

Reunião do Copom: Analistas preveem Selic ‘contracionista’ por período bastante prolongado; entenda

O Santander calcula que a projeção da autarquia para o horizonte relevante deve diminuir em 0,10 ponto porcentual, para 3,3%

Redação Jornal de Brasília

04/11/2025 7h24

selic

Foto: Getty Images

O Comitê de Política Monetária (Copom) deve reforçar, na comunicação de quarta-feira, 5, a mensagem de que a taxa de juros permanecerá em nível significativamente contracionista por um período prolongado. No entanto, o colegiado pode promover um leve ajuste para baixo em sua projeção de inflação no horizonte da política monetária, que agora se estende até o segundo trimestre de 2027.

A avaliação é de analistas do mercado financeiro consultados pelo Estadão/Broadcast. Eles consideram que a revisão se justificaria pela melhora registrada recentemente nas expectativas de inflação, no Boletim Focus, e por dados correntes de inflação mais benignos.

Desde a última reunião, a mediana do Focus para a inflação de 2025 caiu de 4,83% para 4,55% — ligeiramente acima do teto da meta de inflação, de 4,50% —, e de 2026, de 4,30% para 4,20% — ainda acima do centro da meta, de 3,0%. No intervalo, o IPCA-15 desacelerou a 0,18% em outubro, ante 0,48% em setembro.

“Ele deve mexer muito pouco, mas se mexer já é um bom sinal, de que ele considerou que o dado corrente está fazendo efeito no carrego estatístico para o horizonte relevante. Isso ajuda a ancorar as expectativas”, afirma a economista-chefe do PicPay, Ariane Benedito.

Ela lembra que, na reunião anterior, de setembro, o colegiado manteve a estimativa de alta de 3,4% para a inflação no 1º trimestre de 2027, então horizonte relevante, contrariando a expectativa de parte do mercado, que já esperava uma revisão para baixo. Na ocasião, o Comitê optou por somente ajustar o cenário cheio para o IPCA de 2025, de 4,9% para 4,8%. A projeção para o IPCA de 2026 também permaneceu inalterada, de alta de 3,6%.

Para Benedito, essa decisão foi entendida como uma sinalização mais dura da autarquia. “Se o BC não está ancorando a própria inflação, o mercado não vai fazer isso. Ou seja, é mais um alerta de risco”, disse.

O Santander calcula que a projeção da autarquia para o horizonte relevante deve diminuir em 0,10 ponto porcentual, para 3,3%. No entanto, o chefe de política monetária do banco, Marco Caruso, pondera, em relatório, que é possível que o comitê prefira “errar pelo lado da cautela”, a fim de evitar que uma estimativa menor seja entendida como uma sinalização de cortes.

A redução estimada é similar à da economista-chefe da SulAmérica Investimentos, Natalie Victal. Ela observa, porém, que o BC ainda não incorporou eventuais efeitos da ampliação da faixa de isenção do Imposto de Renda ao cenário. Como o assunto já está “meio mapeado”, não descarta que o comitê já incorpore o impacto às estimativas, mas diz que o mais provável é que o colegiado espere o projeto passar também pelo crivo do Senado.

Segundo Victal, caso a incorporação ocorra agora, tende a deixar a projeção para o horizonte relevante estável. Ela enfatiza, no entanto, que uma manutenção da projeção no nível atual sem a incorporação do IR será uma sinalização “especialmente hawk (postura mais agressiva de alta de juros)” do BC.

Ainda neste tema, o economista-chefe da ARX Investimentos, Gabriel Barros, entende que é possível que o Comitê realize uma alteração muito marginal nas estimativas, mas que reserve uma alteração mais sensível para dezembro.

Bastante prolongado

A manutenção da taxa de juros em 15% na reunião de novembro é consenso no mercado, mostra pesquisa Projeções Broadcast, e é majoritária (60 de 65 instituições) a percepção de que o juro deve ficar estacionado nesse nível até o final do ano.

No período entre reuniões, a mensagem de que o juro deve permanecer em nível contracionista por tempo prolongado foi reafirmada por integrantes do colegiado, incluindo o presidente do BC, Gabriel Galípolo.

Para analistas consultados pela reportagem, o mais provável é que o Copom repita o tom adotado no encontro de setembro nesta quarta-feira. Eles ressaltam que o cenário entre reuniões se desenvolveu em linha com o desenhado pelo colegiado; com dados mais benignos de inflação corrente e sinais mistos da atividade, mas com indicação de uma ligeira desaceleração.

Enfatizam que há, no entanto, grande incerteza sobre o cenário no ano que vem. No âmbito doméstico, o destaque é o ambiente fiscal, com a proximidade do período eleitoral. Já no internacional, a grande interrogação é se haverá continuidade no ciclo de afrouxamento promovido pelo Federal Reserve (Fed, o Banco Central americano), frente a dados mais fortes do que o esperado do mercado de trabalho, atividade e inflação nos Estados Unidos.

Benedito, do PicPay, projeta início dos cortes da Selic em março, com reduções de 0,50 ponto porcentual. “Faz sentido esperarmos um pouquinho mais, para ganharmos mais tração nesse dado corrente de inflação menor e importarmos menos inflação advinda do câmbio, de commodities”, detalha ao explicar a escolha por março ao invés de janeiro no cenário.

Ela estima que a Selic será reduzida até 12%, mas, pondera, que uma taxa de 11,75% pode vir a se tornar o cenário. Para isso, seria necessária uma continuidade na evolução vista atualmente nos dados de inflação e uma desaceleração um pouco mais acentuada da atividade econômica no mês a mês, diz.

Um primeiro corte de 0,50 ponto em março também é o cenário da SulAmérica, mas a casa prevê Selic terminal de 11,50%, com viés para cima. Segundo Victal, a possibilidade de um juro maior no fim do ciclo está associada à atividade econômica ainda bastante resiliente e à incerteza em relação ao fiscal em âmbito doméstico. A interrogação em torno de como será a postura do Fed ao longo do ano que vem também a embasa. “Podemos ter um cenário internacional um pouco mais turbulento”, diz.

Barros, da ARX, por sua vez, prevê um corte de 0,25 ponto em janeiro, seguido por cortes de 0,50 ponto a partir de março, levando a Selic a 12%, mas pondera que as eleições podem impactar esse cenário. “A escolha de um candidato de direita pode ter uma influência grande na taxa de câmbio e curva de juros, com efeitos sobre a inflação. Acredito que em março, mais tardar, essa dúvida será sanada e o BC terá espaço aberto ou limitado para continuar o ciclo de corte”, diz.

Estadão Conteúdo

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