ALEX SABINO
FOLHAPRESS
Um dos mais antigos parceiros comerciais do Brasil, a Noruega quer fazer da assinatura do acordo entre Mercosul e EFTA (Associação Europeia de Livre Comércio) a plataforma para desafiar o reinado chileno no salmão.
Na importação de pescado do país, quase 48% vêm do Chile, principalmente o salmão.
“Temos um marco para a cooperação no setor pesqueiro mais promissor do que nunca. É um acordo que pode beneficiar o salmão norueguês”, afirma Marianne Sivertsen Naess, ministra da Pesca e Política Oceânica da Noruega.
Ela esteve em São Paulo na última semana para promover os produtos noruegueses, reforçar a cooperação entre os dois países e falar sobre política sustentável na pesca. Sivertsen esteve na Seafood Show, feira realizada no Anhembi.
A ideia é aumentar a competição em relação aos chilenos e chineses. O mercado brasileiro representa 90% de tudo o que a Noruega vende de frutos do mar para o Mercosul. A maior parte é bacalhau seco e salgado.
É o mesmo produto que iniciou a relação comercial entre as duas nações, com a chegada do veleiro Estrela do Norte no Rio de Janeiro em 1842.
Com o acordo de livre comércio Mercosul-EFTA, a Noruega quer vender também salmão fresco, filés congelados e saithe (um tipo de bacalhau) salgado inteiro.
“Achamos que o salmão será o próximo [a ter a venda incrementada]. E sabemos produzi-los de maneira muito sustentável e isso vai ser bom para os dois países”, disse Sivertsen.
O Brasil produziu 1,35 milhão de toneladas de pescado (conjunto de todos os animais aquáticos comestíveis) no ano passado. Desse total, 478,9 mil toneladas vieram da pesca. O restante, da aquicultura. Na piscicultura, a criação de peixes em ambientes controlados, foram 968,7 mil toneladas. A maior parte (662 mil toneladas) foi de tilápias.
A importação de pescado cresceu 7,5% no ano passado. Foram cerca de 300 mil toneladas, sendo que 87% desse volume foi representado pelo salmão.
“A minha ambição é que a gente também coopere com o Brasil na questão de tecnologia, porque nós queremos a liderança também quando se trata de sustentabilidade e bem-estar dos peixes. Nós estamos realmente comprometidos com a produção sustentável de pescado”, diz Sivertsen.
A Noruega trabalha com sistema de quotas de pesca, o que a própria ministra afirma poder ser motivo de tensão entre o setor produtivo e a comunidade científica. A tarefa de manter o interesse econômico e o número que garante a preservação e expansão das espécies pode ser difícil.
A Noruega tem o segundo maior litoral do mundo, com extensão de 58.133 quilômetros, devido ao seu formato acidentado, com fiordes, baías e cerca de 150 mil ilhas. Fica atrás apenas do Canadá.
“Nós temos de ouvir os cientistas porque, se pescamos demais, haverá consequências nos anos seguintes. Então, nosso objetivo é que as pessoas possam continuar vivendo e trabalhando ao longo da costa. Há muitas vilas que são dependentes da pesca. Se nós pensarmos apenas no lado econômico, as consequências nos anos seguintes podem ser dramáticas”, completa.
Nos últimos anos, o governo do país europeu colocou a discussão dos efeitos das mudanças climáticas no centro da discussão sobre a sua política pesqueira. Estas são apoiadas nos estudos do Instituto de Pesca Marinha da Noruega. Há impostos de carbono no setor, assim como a exigência do uso de biocombustíveis nas embarcações. Todas as atividades pesqueiras que liberam CO2 são taxadas. A ambição é reduzir as emissões pela metade até 2030, em comparação com os níveis de 2005.
Marianne Sivertsen viajou ao Brasil para compartilhar essas experiências, mas também para vender o peixe norueguês. Ela vê espaço para crescer o mercado entre os dois países na cooperação tecnológica e comercial.
“Temos muito a avançar e queremos trabalhar juntos com outros países. O Brasil faz parte disso.”
Além de São Paulo, ela foi a Santos, cidade do principal porto da América Latina.
“Terra do Pelé”, apressou-se em acrescentar um assessor que, em seguida lembrou ser a Noruega um dos raros países jamais derrotados pelo Brasil no futebol, mesmo em Copa do Mundo.
“Não sou muito do futebol”, desconversou a ministra. “Prefiro a pesca.”