A queda nos preços de combustíveis nos próximos meses em virtude da sazonalidade da safra de cana-de-açúcar e da produção de etanol já está na conta de inflação dos analistas. Na manhã desta quarta-feira, 23, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, citou a produção de etanol como fator que vai colaborar para a redução dos preços dos combustíveis em maio e junho e ajudar a controlar a inflação, mas a informação não surpreendeu o mercado. Apesar de a safra ter começado em abril, é nos próximos meses que a produção de etanol se intensifica. O economista da LCA Étore Sanchez afirma que, de fato, as análises apontam uma queda sazonal nos preços de etanol, com o ponto mais baixo registrado em junho. Isso não evita, contudo, que o IPCA rompa o teto da meta no mesmo mês.
“Já está na conta. O ponto mais baixo para o etanol é esperado para o final de junho”, disse Sanchez. Em março, o etanol subiu 4,07%, com reflexo sobre o preço da gasolina, que registrou alta de 0,67%. De acordo com Sanchez, a queda no etanol em junho deve ser de 4%, com impacto aproximado no IPCA – considerando o peso do item na apuração mais recente do indicador – de 0,04 ponto porcentual negativo. Mesmo assim, a LCA projeta que a inflação acumulada em 12 meses chegue a 6,55% em junho, superior ao teto da meta, de 6,5%.
Alessandra Ribeiro, economista e sócia da Tendências Consultoria Integrada, corrobora: “Temos esse movimento na conta, já esperamos o arrefecimento nos combustíveis por conta da entrada da safra.” A Tendências também projeta rompimento do teto da meta de inflação em junho, quando o IPCA em 12 meses deve chegar a 6,86%, nos cálculos da consultoria. O mês de junho, também nas previsões da Tendências, assim como nas estimativas da LCA, deve registrar maior recuo nos combustíveis.
“Trabalhamos já no cenário com a volta de combustíveis a patamares mais baixos principalmente em junho. O que poderia atrapalhar seria um período mais chuvoso”, aponta. “Junho vai ser o pior momento da inflação em 12 meses”, disse Alessandra. A queda nos preços do etanol terá influência também sobre o valor da gasolina, com defasagem. De acordo com Sanchez, o ponto mais baixo esperado para os preços da gasolina será visto em julho, com queda de 0,60%. “A redução do preço do etanol causa uma migração do usuário flex para o etanol e arrefece a demanda de gasolina”, explicou o economista da LCA.
A previsão da Tendências é de que o subgrupo combustíveis, que contempla, além de etanol e gasolina, óleo diesel e gás, registre deflação de 0,74% em maio e de 0,84% em junho.
Em rápida entrevista em Brasília nesta tarde, Mantega negou que o governo vá aumentar a participação de álcool anidro na gasolina para ajudar no combate à inflação. Étore Sanchez, da LCA, aponta que a maior participação do etanol na gasolina reduziria o preço do combustível, mas ressalta que há um problema na safra de cana-de-açúcar e na oferta de anidro neste ano. “Nosso cenário é de que a mistura vai se sustentar nos atuais 25%”, avaliou. Na Tendências, também não é considerada no cenário uma possível mudança na mistura dos combustíveis.
A proposta de elevar a participação na gasolina, segundo reportagem publicada pelo Broadcast nesta quarta-feira (23), divide o governo, deixando Ministério da Agricultura em campo oposto ao da Fazenda.
Pressões.
A ajuda dos preços de combustíveis na desaceleração da inflação nos próximos meses é dada como certa pelos economistas. O pico da taxa de inflação, diz Étore, foi registrado em março, quando o IPCA registrou alta de 0,92%, e daqui para frente será observada uma desaceleração nas variações mensais pelos próximos cinco meses. O cenário, contudo, contempla outras pressões.
Já em maio a inflação em 12 meses se aproxima do teto da meta, chegando a 6,47% na previsão da LCA. “A surpresa da inflação neste ano podemos colocar na conta de energia, que também em virtude dos reajustes recentes já gerou alteração da expectativa para o ano”, disse Sanchez, citando o boletim Focus divulgado ontem (22), no qual a projeção para o IPCA de 2014 chegou a 6,51%, de 6,47% na semana anterior. Para o economista da LCA, a mudança é resultado dos reajustes mais recentes – realizados nas tarifas da gaúcha AES Sul, na sequência da cearense Coelce, da baiana Coelba e outras.