João Paulo Mariano
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A vida dos brasileiros que têm recursos para aplicar no mercado financeiro, e assim reforçam seu orçamento do dia-a-dia, não está nada fácil nos últimos anos. Em especial, para aqueles que poupam há uma década ou mais. Essa faixa da população, formada por pessoas que vivem ou sobrevivem da remuneração desses investimentos, tem visto o rendimento anual baixar e, em alguns momentos, até anular os ganhos reais.
É que os juros pagos pelos títulos do governo permaneceram altos na maior parte dos anos que se seguiram ao Plano Real. Assim, os investidores – há quem prefira chamá-los de rentistas, como os presidenciáveis Ciro Gomes e Fernando Haddad – tinham rendimentos elevados com aplicações seguras. Não mais. Os juros despencaram.
Para entender melhor, é preciso lembrar que, há 20 anos o Brasil vivia um momento bem diferente em relação aos investimentos e os seus ganhos. “A inflação era alta e os juros também. Assim, havia uma cultura dos rentistas. Inclusive muitos viviam disso. As pessoas se habituaram a ficar em uma zona de conforto. pois o ganho real era grande já que ele ficava bem acima da inflação”, explica a professora Myrian Lund, da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Porém, atualmente, a inflação está variando entre 3 a 4% e o ganho real acaba ficando bem mais baixo. Também especialista em finanças pessoais, Myrian Lund analisa que se há 20 anos alguém vendesse um imóvel por R$ 1 milhão e o colocasse em uma aplicação conservadora, mesmo na poupança, tinha um rendimento tão bom que era comum que quisesse viver daí para a frente apenas com essa renda.
Seria perfeitamente possível encontrar uma aplicação absolutamente segura, como a renda fixa, que rendesse uns 13% ao ano. O ex-dono do terreno teria R$ 130 mil de ganho, ou R$ 10.800 ao mês.
Só que a inflação baixou, o desemprego subiu e o problema passou a ser estimular a economia. Os juros despencaram.
Nos dias atuais, a conta não é tão fácil. Colocando esse mesmo milhão em um investimento conservador, é possível que só renda uns 3% ao ano. O dono do dinheiro faturaria R$ 30 mil para gastar em um ano, ou R$ 2,5 mil por mês.
A renda dessa mesma aplicação não daria para pagar aluguel, prestação de carro, escola particular para os filhos e outras contas obrigatórias como água, luz e telefone.
“No Brasil, as pessoas se acostumaram a querer viver de renda dos investimentos, mas de forma conservadora. Até porque muitos conservadores ganhavam mais que um investidor arrojado ganharia hoje. Isso é diferente do que ocorre em outros países em que as pessoas estão acostumadas a ficar fora da zona de conforto e precisam aprender a se arriscar”, alerta Myrian Lund.
Para ela, é necessário sair da zona de conforto, ou dos 3% ao ano garantidos pela poupança. Até porque se a inflação também ficou em torno dos 3% e o ganho real – aquela grana a mais que vem do ato de poupar – não existe. Assim, ter uma carteira de investimentos plural é o mais interessante para todos os casos. Em outras palavras, para se ter renda maior é preciso aplicar em algo mais arriscado.
Marcos Rech, planejador financeiro, acredita que existe uma tendência natural do mercado: a pessoa começa a investir no mais prático e seguro – renda fixa – e depois se envereda na que não é.
Como multiplicar ganhos
“Eu não quero saber simplesmente se os riscos são grandes. Eles podem existir, mas eu quero é ganhar mais”. A afirmação vem do planejador financeiro Marcos Rech, 28, que resolveu levar muito a sério os estudos sobre investimentos e ganhar o máximo de dinheiro possível em suas transações. O que Marcos quer mesmo é multiplicar o ganho em qualquer aplicação.
Ele lembra que desde os 10 anos economizava um pouco das mesadas que recebia. Naquela época, a intenção era sempre comprar algum presente bacana, como um vídeo game ou o aeromodelo que adquiriu aos 14 anos. O homem pegou gosto pelo negócio e tornou isso profissão.
Hoje, ele se autodefine como um investidor arrojado porque acredita que estudando o mercado e sabendo o que se faz é possível planejar um presente e um futuro com muito mais dinheiro no bolso.
Contudo, não só de sorrisos se faz a vida de alguém mais arrojado. Ele lembra que, em 2017, investiu em um fundo imobiliário, de renda variável – aqueles em que se entra sem necessariamente saber se ao final haverá rendimento. Acabou perdendo 15% do montante inicial que aplicou.
“Eu vi que na crise eu também posso ganhar, pois oportunidades novas se criam no mercado da renda variável. Mas, se não estudar e achar que qualquer aplicação vale, fará errado”, afirma. Ele não sabe exatamente a rentabilidade de todos os seus investimentos, mas acredita que é bem melhor que a de pessoas com pensamento mais conservador, já que, um acerto, em seu caso, pode valer muito mais que várias perdas.
Os riscos a que Marcos se coloca também estão dentro dos planejamentos financeiros dele. Ele espera que em 10 ou 12 anos possa abandonar o trabalho e viver só dos lucros obtidos com os investimentos ao longo dos anos.
Até lá, ele espera juntar R$ 3 milhões já que esse seria o montante que ganharia se trabalhasse até a época de se aposentar. “Para chegar até lá, tem que deixar de fazer muitas coisas, mas faz parte”, afirma.
Saiba mais
Existe um postulado econômico que mostra: quanto maior é o risco, maior será a remuneração e, por outro lado, quanto menor o risco, menor será a renda.
A elevada dívida interna do País e a alta de juros para combater a espiral inflacionária levaram a aumento na remuneração dos títulos do governo. É uma distorção.
Em países como Japão ou Estados Unidos, os títulos públicos têm rendimento até negativo. O investidor não tem muita escolha a não ser buscar as ações, onde o risco é sempre elevado.
A renda variável a que Marcos Rech se refere, só para lembrar, é o investimento em que não se tem certeza da remuneração.
Pode-se ganhar, até ganhar muito. Mas também se pode perder. Até perder tudo. É o que se tem agora: arriscar perdas ou receber menos.