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Economia

Investigação vai apurar se Master pagou comissão a servidores em consignado

Institutos que pagam aposentadorias a servidores municipais e estaduais aplicaram R$ 1,87 bilhão em letras financeiras do Master, um papel sem garantia do FGC

Redação Jornal de Brasília

20/11/2025 8h21

banco master

Foto: Reprodução

ADRIANA FERNANDES, THAÍSA OLIVEIRA E ANA POMPEU
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS)

As investigações que apuram a suspeita de organização criminosa na gestão do Banco Master vão analisar potenciais comissões pagas pelo banco de Daniel Vorcaro com o objetivo de expandir carteiras falsas de crédito consignado para servidores públicos .

Os créditos inventados teriam nascido na Bahia pelas mãos do empresário Augusto Lima, preso na operação Compliance Zero da Polícia Federal, de acordo com pessoas que acompanham as análises. Posteriormente, esse esquema teria sido ampliado para outros estados.

Os investigadores suspeitam que assessores de entes públicos e até mesmo governadores receberam comissões elevadas para expandir a criação de falsos créditos consignados, um esquema que teria ajudado a agigantar a atuação do Master.

Também está em investigação a participação de políticos e agentes públicos na venda de letras financeiras para fundos de pensão de estados e municípios, apurou a reportagem.

A defesa de Lima afirmou nesta terça-feira (18) que recebeu com “absoluta surpresa” a operação porque o executivo já havia se “desligado definitivamente de todas as suas funções executivas” no Master em maio de 2024.

Na decisão que fundamentou as prisões na âmbito da operação Compliance Zero, o juiz Ricardo Leite afirma que outro ponto que não pode ser desprezado e demanda mais investigação é o “limite da influência dos diretores do Banco Master em repartições públicas”, conforme apontado pelo Ministério Público Federal. Ele dá “destaque para a captação de regimes próprios e fundos de pensão” que investiram “recursos de seus pensionistas em ativos altamente arriscados, evitados por investidores privados”.

“Este ponto guarda ligação com o modo de agir dos dirigentes do Banco Master e o Banco Regional de Brasília, mas que não constitui objeto desta investigação, sendo apenas considerado como indício”, apontou o magistrado na decisão obtida pela Folha de S.Paulo.

Institutos que pagam aposentadorias a servidores municipais e estaduais aplicaram R$ 1,87 bilhão em letras financeiras do Master, um papel sem garantia do FGC (Fundo Garantidor de Créditos) entre outubro de 2023 e dezembro de 2024, de acordo com o Ministério da Previdência Social.

A aquisição desses ativos, que não encontravam muito apetite por parte de investidores privados, foi considerada pelo MPF incompatível com a natureza dos fundos de pensão, que devem buscar segurança e liquidez para garantir a aposentadoria de seus beneficiários.

Ex-sócio de Vorcaro no Master, Augusto foi preso com cerca de R$ 1,6 milhão em espécie em sua residência, em São Paulo.

A sociedade do controlador do Master com Lima começou quando Vorcaro ainda dava os primeiros passos no mercado financeiro com o Banco Máxima, adquirindo uma participação minoritária em 2017.

Com a ajuda do modelo de negócios que começou na Bahia com o Credcesta, um cartão de crédito consignado voltado para servidores públicos, o Máxima ganhou musculatura. Em 2019, Vorcaro adquiriu o controle do banco, que dois anos depois foi renomeado Master.

Reportagem de outubro do ano passado da revista Piauí afirma que esse tipo de operação consignada foi replicada pelo Master em outras 23 unidades da federação. Investigadores citam, além da Bahia, o Distrito Federal e o Paraná.

Os indícios apontam que Lima ainda estaria por trás de duas associações —Asteba (Associação dos Servidores Técnico-Administrativos e Afins do Estado da Bahia) e a Asseba (Associação dos Servidores da Saúde e Afins da Administração Direta do Estado da Bahia). Ambas teriam sido criadas por ele e usadas para camuflar as operações de crédito consignado inexistentes, que teriam sido adquiridas pelo BRB (Banco de Brasília).

Essas carteiras foram investigadas pela área de fiscalização do Banco Central (BC), que cobrou explicações ao Master. O banco respondeu que elas tinham origem nas duas associações de servidores da Bahia.
Os fiscais do BC identificaram que não foram encontradas nas associações movimentações financeiras compatíveis com a cessão de créditos para o Master. O MPF oficiou a Secretaria de Administração da Bahia, que enviou a quantidade de descontos consignados de servidores.

A investigação do MPF identificou que os descontos realizados nos contracheques do estado são referentes a mensalidades e serviços associativos de baixo valor e jamais poderiam ter gerado R$ 6,7 bilhões em carteiras de empréstimos consignados adquiridos pelo BRB.

Essas carteiras teriam sido infladas e estariam por trás da operação de venda frustrada do Master para o banco do Distrito Federal. Um investigador, ouvido pela reportagem sob condição de anonimato, disse que as associações teriam sido usadas para ludibriar o Banco Central. Como essas associações não oferecem crédito consignado, ele explica que elas teriam servido de justificativa para o pagamento bilionário que o BRB fez ao Master na aquisição das carteiras.

Como o BC determinou a devolução das carteiras ao Master, a solução encontrada teria sido a compra do Master pelo BRB para camuflar a fraude no balanço dos dois bancos.

O que mais chamou atenção dos investigadores é que, a partir de janeiro de 2025, as cessões de crédito passaram a envolver CPFs de diversas localidades do Brasil.

A decisão judicial que autorizou a operação desta terça afirma que, para cobrir um rombo de R$ 12 bilhões, a solução do Master “consistiu em se associar, ilicitamente, a uma Sociedade de Crédito Direto, com o objetivo de inflar seu patrimônio artificialmente, por meio da aquisição de carteiras de créditos inexistentes e revendê-las ao BRB”.

A investigação tem indícios de que Lima teria colocado como laranjas nas duas associações pessoas que eram empregadas por ele em outras empresas, segundo a reportagem apurou. Lima inclusive teria procurações para atuar em nome das associações.

Investigadores afirmam que o sócio de Vorcaro inclusive teria se reunido com o presidente do BC, Gabriel Galípolo, em abril de 2025 ao lado de Vorcaro para defender a venda do Master para o BRB.

A PF cumpriu mandados de busca e apreensão na sede da Asseba e da Asteba, em Salvador, nesta terça.

A Folha de S.Paulo ligou para a Asseba cinco vezes nesta quarta-feira (19), mas não obteve retorno.

A reportagem também ligou para a Asteba duas vezes. Na segunda, uma mulher que se identificou como Andreza disse que não poderia fornecer o contato de um advogado ou responsável. “Até o momento nós não temos informações. Não teria como te orientar referente a isso”, declarou.

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