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Economia

Inflação assusta e coloca pressão no Copom por novos aumentos de juros

Segundo economistas, a tendência é que o BC mantenha o ritmo de aumento dos juros, mas a taxa deve subir mais ao longo do ano

Redação Jornal de Brasília

11/06/2021 7h01

Foto: Agência Brasil

Douglas Gavras
São Paulo, SP

A surpresa com a alta da inflação nos últimos meses aumentou a pressão sobre o Banco Central, que irá definir o novo patamar da Selic (taxa básica de juros) na próxima quarta-feira (15).

Segundo economistas, a tendência é que o BC mantenha o ritmo de aumento dos juros, mas a taxa deve subir mais ao longo do ano.

A preocupação com a alta de preços começa a se fazer notar nas previsões para os juros básicos em 2021. No Boletim Focus do BC, a estimativa há um mês era de uma Selic de 5,5%. No último boletim, a previsão dos economistas consultados passou para 5,75% ao ano, número que deve subir no próximo levantamento, que levará em consideração a inflação de maio acima das previsões.

Nesta quinta (10), o Itaú revisou as estimativas de Selic para o fim do ano. Antes, eram esperados juros de 5,5% ao ano, agora, a expectativa é de 6%. O banco ressalta que os juros mais altos poderiam trazer o IPCA para perto da meta no ano que vem.

A pressão da energia elétrica fez a inflação acelerar em maio, pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor – Amplo). O indicador subiu 0,83% —o maior resultado para maio desde 1996. No acumulado de 12 meses, a alta foi de 8,06% (acima do teto da meta, de 5,25% para este ano).

A expectativa do mercado para a inflação deste ano subiu de 5,31%, há uma semana, para 5,44%, de acordo com o mais recente Boletim Focus. ?

Para tentar conter a alta de preços, o Copom (Comitê de Política Monetária) subiu a taxa de juros em maio em 0,75 ponto percentual, para 3,50% ao ano. Na ocasião, o BC também sinalizou que faria uma nova alta, na mesma magnitude, em junho, para 4,25%.

A instituição também falou em uma “normalização parcial do estímulo monetário” nos próximos meses, de maneira que a taxa ainda ficasse em um nível suficientemente baixo para estimular a economia.

O economista e pesquisador do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas) José Júlio Senna diz que a pressão para o BC agir com firmeza existe há um bom tempo, pela rapidez na deterioração do quadro inflacionário.

Pesa, ainda, o fato de o ponto de partida do novo ciclo de alta dos juros ter sido muito baixo, de 2% ao ano. “A vida do BC teria ficado um pouco mais fácil se o ponto de partida fosse 3%, por exemplo”, diz.

Senna, que também foi diretor do Banco Central, estima, no entanto, que o ritmo de 0,75 ponto percentual de aumento tem sido adequado, mesmo com a pressão maior da inflação pelos resultados recentes do IPCA.

“A prática de anunciar previamente o tamanho do ajuste seguinte deve ter continuidade na reunião da próxima semana. Na medida em que tal estratégia de fato permaneça, o ajuste de política monetária já me parece bem substancial e talvez não se faça necessário acelerar o ritmo.”

Para a economista Zeina Latif, o resultado recente da inflação não deve pesar na decisão, em si, pois não faria sentido o BC reagir a um sinal de curto prazo. Ela avalia que o Banco Central deve manter seu diagnóstico, levando em conta também que o dólar mudou de patamar, o que pode gerar uma melhora nas projeções.

“Acredito que o BC deve manter o discurso sereno, talvez deixando uma porta aberta para um novo aumento de 0,75, mas sem guinadas no discurso”, diz ela. “Isso não significa, no entanto, que o resultado da inflação não traga elementos preocupantes que precisam ser monitorados.”

O economista-chefe da Necton, André Perfeito, diz que o mais importante agora é o ajuste total e um sinal de que o BC irá tirar a taxa de juros do campo de incentivo para o campo neutro.

“A inflação realmente veio alta e isso gera um desconforto para que se entenda a dinâmica do aperto a ser feito pela autoridade monetária”, diz.

As informações são da FolhaPress

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