PEDRO LOVISI
FOLHAPRESS
As siderúrgicas instaladas no Brasil reduziram 5.100 empregos e suspenderam R$ 2,5 bilhões em investimentos até novembro deste ano em meio às fortes pressões causadas pelas importações de aço chinês no país. Os dados foram divulgados nesta terça-feira (16) a jornalistas pelo Instituto Aço Brasil, que não detalhou os valores por empresa.
Neste mesmo período, quatro alto-fornos, uma aciaria e cinco minimills (usinas semi-integradas que fundem sucatas em fornos elétricos) tiveram que ser paralisados devido a uma menor demanda pelo aço produzido internamente em comparação com o ano passado.
O instituto, que representa o setor no país, revisou para baixo a produção de aço bruto no Brasil de uma queda de 0,8% para uma queda de 2,2%. A estimativa é que, ao final de 2025, as siderúrgicas brasileiras tenham produzido 33,1 milhões de toneladas de aço e vendido 21,1 milhões no mercado interno e 10,2 milhões para o externo -nessas últimas houve aumento de 6,9% na projeção.
Quanto às importações de aço bruto, a estimativa para o fim do ano é de um aumento de 7,5% em relação a 2024 e de 20,5% em relação aos aços laminados, principal produto vendido para a construção civil, além de fabricantes de automóveis e maquinários. Houve queda na projeção do instituto, que previa aumento de 19,1% e 32,2%, respectivamente.
A queda, segundo o instituto, se dá pela redução de preços dos produtos das siderúrgicas brasileiras, que precisaram se adequar para competir com as empresas chinesas. Mas, apesar da redução, o setor ainda enxerga a entrada de aço chinês no país como o principal entrave do mercado.
Até novembro, o Brasil importou 5,4 milhões toneladas de aço laminado, contra uma média de 2,2 milhões anuais entre 2000 e 2019 -a disparada de importações começou após a pandemia de Covid-19, quando a intensidade do consumo interno de aço na China diminuiu, provocando aumento de exportações pelas empresas chinesas. Do total de importações até novembro, por exemplo, 64% vieram da China.
Além disso, outras 6,2 milhões de toneladas de aço entraram de forma indireta no país, já convertidas em produtos finais, como eletrodomésticos, automóveis e maquinários.
O Instituto Aço Brasil atribui a entrada massiva de aço chinês no Brasil ao que chama de estratégias ilegais do governo chinês.
A jornalistas, a organização apresentou dados da Platts, plataforma de monitoramento global de preços, que indicam queda exponencial no preço do aço chinês de janeiro de 2024 (quando a tonelada de bobinas a quente eram vendidas a US$ 560) para novembro de 2025 (US$ 454). A queda, no entanto, acontece no mesmo momento em que há redução das margens das usinas chinesas, o que, segundo o Instituto Aço Brasil, representa dumping comercial, quando empresas vendem produtos no exterior abaixo do custo ou preço do mercado interno para eliminar a concorrência.
Em maio, o governo brasileiro atendeu a um pleito do setor e renovou as cotas para entrada de 16 tipos de aço no país, sendo que 76% desses produtos vinham da China. A medida, no entanto, apesar de ser vista como positiva pelas siderúrgicas, não resolveu os problemas do setor.
No terceiro trimestre de 2025, por exemplo, o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) das siderúrgicas com instalação no Brasil foi de R$ 2,8 bilhões, quase metade do registrado no mesmo período do ano passado. Já a margem Ebitda, que leva em conta a proporção do índice sobre a receita líquida das empresas, reduziu de 12,9% para 7,7%.
Agora, o setor tenta convencer o governo federal a aumentar as tarifas de importação de aço, hoje entre 9% e 16% sobre os produtos alvos da medida do governo federal e de 25% sobre a quantidade que ultrapassam as cotas determinadas em maio.
Outra frente dos esforços institucionais do setor diz respeito às tarifas de 50% impostas pelos Estados Unidos a qualquer tipo de aço que entra no país, independentemente do país de origem.
De acordo com o presidente executivo do Instituto Aço Brasil, Marco Polo de Mello Lopes, o instituto espera que, em meio à melhora nas relações entre os dois países, o governo de Donald Trump anule as tarifas ao produto brasileiro e retome o sistema de cotas criado em 2018. Neste período, as siderúrgicas brasileiras podiam exportar até 3,5 milhões de toneladas aço semiacabado para os americanos sem pagar tarifas.
“Em 2018, o Trump fez rigorosamente a mesma coisa […] e no nosso entendimento, no exemplo de 2018, se for exitoso esse canal negocial, o acordo pode ser restabelecido e o Brasil forneceria a cota e, em vez de ser taxado em 50%, ficaria com 0%”, afirmou.