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Economia

Índices imobiliário, de serviços essenciais e de bancos puxam Bolsa em 2025

Em segundo lugar do ranking dos índices de melhor desempenho aparecem as empresas de utilidades públicas

Redação Jornal de Brasília

09/11/2025 13h30

Foto: B3/Divulgação

Foto: B3/Divulgação

MAELI PRADO
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

Em um cenário de forte entrada de recursos estrangeiros na Bolsa e de expectativa de início de queda nos juros em 2026, o Ibovespa avançou 28% em 2025 até agora, puxado por empresas dos setores imobiliário, serviços essenciais e bancos.

Na outra ponta, a queda do dólar foi determinante para que os setores de agronegócio e materiais básicos (como siderurgia e mineração) tivessem o pior desempenho do ano, como mostra ranking elaborado pela consultoria Elos Ayta a partir dos índices setoriais da B3.

Os dados mostram que, a despeito de uma taxa básica de juros (Selic) no maior patamar em quase 20 anos, o índice imobiliário (IMOB) vem sendo o destaque do ano, com avanço de 69% até o dia 6 de novembro.

Além da perspectiva de corte nos juros, o setor vem sendo impulsionado por dois segmentos considerados mais resilientes à Selic elevada: o da alta renda, que consegue poupar, e o da baixa renda, favorecido pela ampliação do programa habitacional Minha Casa, Minha Vida.

“O desempenho do IMOB em 2025 não se explica apenas pelo ciclo de juros. Relatórios setoriais apontam que o mercado imobiliário brasileiro registrou crescimento substancial de lançamentos e vendas no fim de 2024, o que gerou um efeito de base para valorização das incorporadoras em 2025”, aponta Einar Rivero, CEO da Elos Ayta.

Para Rodrigo Santoro, superintendente de renda variável da Bradesco Asset, a demanda por imóveis na baixa renda também resiste porque há um movimento de troca do aluguel pela parcela do financiamento imobiliário. “As empresas desse segmento vêm conseguindo crescimento de rentabilidade, justificando a boa performance no ano”, diz.

É a mesma avaliação de Daniel Gewehr, estrategista-chefe de ações do Itaú BBA, que aponta ainda para a elevada liquidez das empresas do setor na Bolsa.

“As empresas mais líquidas do setor imobiliário estão em dois nichos. O da Minha Casa, Minha Vida, que é mais inelástico em relação aos juros e onde há uma demanda reprimida gigantesca, e projetos de alto padrão, que dependem menos de financiamento.”

Em segundo lugar do ranking dos índices de melhor desempenho aparecem as empresas de utilidades públicas (como energia, saneamento e gás), que são mais alavancadas (ou seja, têm dívidas maiores) e que se beneficiam do cenário de queda de juros antes do esperado. O UTIL, índice que mede o desempenho do setor, avançou 54,8% no ano até agora.

“É um setor com previsibilidade operacional e que possui a receita ajustada pela inflação, e portanto tem menos risco de queda de um trimestre para outro”, afirma Gewehr. “Além disso, são empresas que têm uma alta correlação com juros, beneficiando-se de uma potencial queda.”

Segundo Santoro, outro ponto que impulsiona essas empresas é o fato de serem ações menos dependentes da atividade econômica, já que possuem fluxos de caixa mais previsíveis por serem serviços essenciais.

“São ações menos cíclicas, menos dependentes da atividade econômica”, explica. “E vêm sendo afetadas positivamente também pelo posicionamento de gestores, que têm focado empresas sem muito risco de demanda e que possam se beneficiar do movimento de taxas de juros no futuro.”

Já o setor financeiro, cujo índice IFNC avançou 41,6% no ano até agora, vem se beneficiando entre outros fatores pelo fato de ter rentabilidade acima da média no mundo, segundo Gewehr.

“Quando o estrangeiro quer entrar na Bolsa brasileira, quer uma liquidez relevante. E os papéis de bancos têm bastante liquidez e têm relevância dentro do índice. São empresas cíclicas de qualidade para se estar exposto, com resultados sempre consistentes”, diz.

No acumulado do ano até agora, lembra ele, já entraram quase R$ 26 bilhões em recursos de estrangeiros na Bolsa. “Historicamente, quando o Federal Reserve [banco central americano] corta juros, as bolsas de países emergentes sobem 6,5%, em média”, aponta.

Mas esse bom momento não alcança todas as empresas listadas. As companhias altamente exportadoras estão entre os setores de pior desempenho no ano, já que foram prejudicadas pela valorização do real, que torna os bens brasileiros mais caros no mundo.

O Iagro, de agronegócio, foi o único índice setorial que caiu no ano, com queda de 5,9% no ano até o dia 6 de novembro. O Imat, de materiais básicos (com destaque para siderurgia e mineração), teve o segundo pior desempenho ao subir 2,21% na mesma comparação, bem abaixo do Ibovespa.

“As empresas exportadoras foram o destaque negativo, já que o preço das commodities caiu em dólar e o real se valorizou”, aponta Gewehr. “Isso vale para petróleo, celulose, minério e para o agronegócio, que também sofreu porque a matéria-prima da safra foi comprada com o dólar alto do ano passado.”

No caso do setor industrial, que também está entre os segmentos que menos cresceram neste ano, as empresas sofrem com o elevado patamar da taxa de juros, que encarece o crédito. O Indx, que é o índice que acompanha o setor industrial, subiu 6,6% no ano.

A expectativa dos especialistas é que o bom momento para a Bolsa permanecerá nos próximos meses, já que esses fatores —perspectiva de queda de juros no Brasil e desvalorização do dólar, com forte entrada de estrangeiros— devem se manter.

“Acreditamos que 80% do movimento na Bolsa é ligado ao cenário global, com o dólar mais fraco no mundo e queda de juros nos Estados Unidos”, diz Gewehr.

Além disso, a avaliação de gestores e analistas é que a perspectiva de acomodação dos preços elevados no mercado acionário americano pode impulsionar a procura de investidores estrangeiros por ativos de países emergentes, como o Brasil.

Por outro lado, há riscos para a Bolsa brasileira, como o das eleições presidenciais de 2026, com expectativa de elevada polarização e de aumento de gastos públicos em meio ao pleito.

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