São Paulo, 03 – O Ibovespa alcançou os inéditos 150 mil pontos na manhã desta segunda-feira, 3, e conseguiu se segurar nesse nível, renovando recorde de fechamento pelo sexto pregão consecutivo. A alta espelha o movimento do S&P 500 e do Nasdaq, em Nova York, e tem respaldo na expectativa do mercado pelo comunicado do Copom na quarta-feira, com o entendimento de que um corte na Selic está cada vez mais perto. A temporada de balanços também segue a todo vapor, com destaque para resultados do Itaú e da Petrobras nesta semana.
Pela nona sessão seguida, o Ibovespa fechou em alta, aos 150 454,24 pontos (+0,61%), com giro financeiro de R$ 21,28 bilhões
Para a economista-chefe da InvestSmart XP, Mônica Araújo, o Brasil surfa na alta vista no cenário internacional. “Por mais que as ações aqui tenham múltiplos bem atrativos para o investidor local e estrangeiro, a alta de 2025 vem muito mais do cenário externo. Há uma realocação de investidores globais que deixam de colocar 100% dos ativos no mercado americano e colocam 1%, 2% em outros mercados – montante suficiente para fazer com que os preços ganhem uma relevância maior”, afirma.
Além de seguir os movimentos dos mercados internacionais, o Ibovespa também sobe na expectativa da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), avalia o head de alocação de investimentos e sócio da GT Capital, Nicolas Gass “Tem expectativa de queda nos juros chegando. O mercado vai olhar de perto o comunicado, ver se o Copom vai dar algum ‘spoiler'”, afirma.
Levantamento do Projeções Broadcast mostra que o mercado antecipou a previsão de corte na taxa Selic de março para janeiro de 2026. Assim que o ciclo de afrouxamento começar, a Bolsa deve subir 12% no trimestre seguinte e 25% em seis meses, calcula o diretor de Renda Variável para a América Latina do Goldman Sachs, Juliano Arruda, em entrevista ao Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado.
“O Brasil é o mercado emergente mais alavancado, em taxas de juros locais, de toda a amostra que o Goldman Sachs acompanha. Então se o Brasil está indo para um ciclo de corte nos juros, a renda variável aqui tende a performar muito bem”, disse.
Nesta segunda, o cenário de afrouxamento monetário foi reforçado nas estimativas para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) no Focus, visto que a projeção para IPCA de 2025 passou de 4,56% para 4,55%.
Araújo, da InvestSmart XP, nota que grande parte do fôlego do Ibovespa nesta segunda-feira se dá pela alta de Petrobras PN (+1,18%) e ON (+0,89%) e do setor financeiro, com Itaú PN (+1,67%) liderando os ganhos entre grandes bancos. Ambas reportam resultados nesta semana, com expectativa de balanços robustos, diz a economista.
Dólar
O dólar apresentou queda firme no mercado local nesta segunda-feira, 3, marcada por valorização de divisas latino-americanas, na esteira de indicadores acima das expectativas na China. Segundo operadores, o real também pode ter se beneficiado por fluxo externo para a bolsa doméstica, com o Ibovespa alcançando a marca histórica dos 150 mil pontos.
Investidores também ajustam posições à medida que digerem falas de dirigentes do Federal Reserve e aguardam a decisão, nesta quarta-feira, 5, do Comitê de Política Monetária (Copom), que deve manter a taxa Selic em 15% ao ano. A perspectiva é que a atratividade do carry trade, com amplo diferencial entre juros interno e externo, mitigue parte das pressões sobre o real vindas do aumento das remessas ao exterior no fim do ano.
Com mínima a R$ 5,3455, o dólar à vista fechou em baixa de 0,43%, a R$ 5,3574, após ter encerrado outubro com ganhos de 1,08%. No ano, a moeda americana recua 13,31% em relação ao real, que apresenta o melhor desempenho entre as divisas latino-americanas no período.
“O comportamento das moedas emergentes reflete hoje dados da China um pouco melhores que o esperado, o que impulsiona praticamente os preços de todas as commodities”, afirma o economista-chefe da Frente Corretora, Fabrizio Velloni.
Pesquisa da S&P Global divulgada ontem à noite, em parcial com a RatingDog, mostrou que o Índice de Gerentes de Compras (PMI) Industrial da China recuou de 51,2 em setembro para 50,6 em outubro. A leitura, contudo, ficou acima das projeções de analistas, de 49,8, e se manteve acima de 50, o que indica expansão da atividade.
Termômetro do comportamento do dólar em relação a uma cesta de seis moedas fortes, o índice DXY operou em ligeira alta no fim da tarde, perto do nível dos 100 mil pontos, com máxima aos 99,988 pontos. O Dollar Index foi impulsionado, sobretudo, pelos ganhos de mais de 0,40% do euro.
Na ausência de indicadores de emprego da economia americana, diante do “apagão de dados” provocado pela paralisação parcial (shutdown) do governo dos EUA, investidores buscam em declarações de dirigentes do Fed informações para calibrar as apostas sobre o nível de juros no fim do ano.
O debate sobre o tamanho do alívio monetário esquentou após o presidente do Fed, Jerome Powell, sugerir que pode haver uma pausa no afrouxamento em dezembro, após dois cortes seguidos de 25 pontos-base na taxa básica americana.
Pela manhã, o diretor do Federal Reserve (Fed) Stephen Miran – indicado por Donald Trump e voto vencido por corte de 50 pontos-base na reunião do Fed na semana passada – disse que a postura do BC americano é “muito restritiva”, o que aumenta os riscos de recessão.
À tarde, o presidente do Fed de Chicago, Austan Goolsbee, afirmou que não tomou uma decisão sobre o que fará na reunião de política monetária de dezembro, mas alertou que “o limite para cortar os juros é mais alto que nas reuniões anteriores”.
Presidente do Fed de São Francisco, Mary Daly disse que mantém a “mente aberta” em relação ao próximo passo do Fed e defendeu que a taxa de juros continue “modestamente restritiva”, dado que a inflação ainda está acima da meta. Ecoando fala de Powell, a diretora do Federal Reserve (Fed) Lisa Cook disse que a polícia monetária não está em trajetória predeterminada.
“Parece que há muitas dúvidas dentro do Fed, após os cortes de juros. Além da incerteza sobre o impacto das tarifas, temos o prolongamento do shutdown, que impede a divulgação dos dados de emprego. O Fed está praticamente trabalhando no escuro”, afirma Velloni, ressaltando que, apesar do ambiente de cautela em relação aos EUA, as divisas emergentes se apoiam na valorização das commodities.
Juros
A dois dias da decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) que deve manter a Selic nos atuais 15%, os investidores deixaram em segundo plano a leve melhora das expectativas inflacionárias, em um dia de agenda enxuta de indicadores locais, e os juros futuros negociados na B3 subiram seguindo a tendência do exterior, a despeito da queda de 0,43% do dólar na sessão.
Após duas semanas de redução mais contundente das estimativas de inflação, o movimento observado no boletim Focus divulgado nesta segunda-feira, 3, foi mais tímido, o que reforçou a percepção de grande parte dos analistas de que o Banco Central ainda não vai suavizar a comunicação conservadora no encontro da quarta-feira
Já lá fora, as incertezas trazidas pela continuidade do shutdown nos Estados Unidos e sobre qual será a definição de juros do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) em dezembro mantiveram os Treasuries em firme elevação. A abertura da curva americana, na visão de agentes, foi o principal impulsionador das taxas futuras por aqui.
Encerrados os negócios, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2027 aumentou de 13,849% no ajuste de sexta-feira para 13,875%. O DI para janeiro de 2029 oscilou de 13,075% no ajuste antecedente a 13,080%. O DI para janeiro de 2031 marcou 13,375%, vindo de 13,351% no ajuste.
No mesmo horário, a taxa da T-Note de 2 anos avançava a 3,598%, e a de 10 anos, a 4,107%. Neste trecho da curva, pesaram mais as dúvidas sobre se o Fed vai afrouxar a política monetária em dezembro, avalia Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, mas o rendimento do título soberano de 30 anos também abria, a 4,688%.
“Os efeitos do shutdown sobre a política agrícola e o agravamento dos impactos da paralisação, pela cegueira estatística e consequências na distribuição de recursos, elevam as incertezas”, diz Sanchez. Já sobre os títulos dos EUA com vencimentos curtos e intermediários, o economista destaca o aparente dissenso no Comitê de Mercado Aberto (FOMC, na sigla em inglês), sobre a próxima decisão de juros do Fed.
Após o presidente da autarquia, Jerome Powell, ter esfriado apostas de mais uma redução em dezembro, diretores como Christopher Waller e Stephen Miran mantêm uma linha mais ‘dovish’, observa o economista. De outro lado, a diretora Lisa Cook disse nesta segunda que a política de juros “não está em trajetória predeterminada”. Devido ao shutdown, Cook comentou que a última reunião de 2025 do FOMC vai considerar dados econômicos atualizados.
No cenário local, o boletim Focus desta segunda trouxe novo ajuste das expectativas inflacionárias, mas mais discreto do que nas duas semanas anteriores. A projeção para o aumento do IPCA deste ano caiu 0,01 ponto, para 4,55%, mais próxima do teto da meta de inflação, de 4,5%. A previsão para 2026 ficou em 4,2%, e para 2027 e 2028, diminuiu de 3,82% a 3,80% e de 3,54% para 3,50%, respectivamente.
Gestor de renda fixa da Inter Asset, Ian Lima pondera que, a despeito da melhora inequívoca das expectativas do Focus, que já sugere uma reancoragem parcial das projeções do mercado, assim como um quadro qualitativo de inflação corrente bastante benigno e condizente com a eficácia da atual política restritiva, o comunicado da reunião de quarta-feira do Copom deve permanecer conservador e com poucas alterações ante o último documento.
“O Copom deve manter a Selic em 15%, como amplamente esperado pelo mercado, e com a comunicação reforçando a estratégia de manutenção nesse patamar por um ‘período bastante prolongado’, diante da persistente desancoragem das expectativas ainda presente”, avalia Lima, que mantém a perspectiva para o primeiro corte do juro básico em janeiro, com a taxa em 12,25% ao final de 2026. O gestor avalia, no entanto, que a probabilidade de que a redução seja postergada avançou.
Estadão Conteúdo