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Economia

Ibovespa tem leve realização de lucros após série de recordes na semana passada

Nesta segunda-feira, 22, o índice conseguiu reter os 145 mil pontos no fechamento

Redação Jornal de Brasília

22/09/2025 18h30

Foto: B3/Divulgação

Foto: B3/Divulgação

São Paulo, 22 – O Ibovespa iniciou a semana em leve correção após uma série de renovações de máximas históricas no intervalo anterior, que o colocou aos 146 mil pontos no intradia. Nesta segunda-feira, 22, o índice conseguiu reter os 145 mil pontos no fechamento, contendo perdas que chegaram a superar 1% mais cedo na sessão, quando veio a notícia de que os Estados Unidos decidiram enquadrar também Viviane Barci de Moraes, esposa do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), na Lei Magnitsky. No fim da tarde, o governo americano também confirmou a imposição de novas restrições de vistos a autoridades brasileiras, sem especificar nomes.

No fechamento, o índice da B3 mostrava baixa de 0,52%, aos 145 109,25 pontos, entre mínima de 144.117,01 e máxima de 145.863,86 pontos na sessão, correspondente ao nível de abertura. O giro financeiro foi a R$ 20,6 bilhões nesta segunda-feira. No mês, o Ibovespa avança 2,61% e, no ano, tem alta de 20,64%.

Para além do noticiário político, a segunda-feira reservou poucas novidades, na agenda econômica. Destaque apenas para o Boletim Focus, que trouxe arrefecimento na estimativa do IPCA suavizado para 12 meses à frente, a 4,36% (de 4,43%) – aquém do teto da meta, de 4,50%. Por sua vez, a projeção para 2025 seguiu em 4,83% e a de 2027 – foco da política monetária, na medida em que o primeiro trimestre de 2027 é o horizonte relevante -, manteve-se em 3,90%, assim como a expectativa para a Selic ao final de 2025, ainda a 15% ao ano, no mesmo nível em que está, hoje.

Na terça, a agenda de dados econômicos ganha tração, a começar pela ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) realizada na terça e quarta-feira passada. A agenda da semana reserva também outros pontos altos, como o IPCA-15 de setembro e o Relatório de Política Monetária (RPM), no Brasil. Lá fora, atenção para o Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA e o índice PCE, métrica de inflação ao consumidor preferida do Federal Reserve.

Nesta terça-feira, logo cedo, as atenções estarão voltadas à ata do Copom, observa Camilo Cavalcanti, gestor de portfólio da Oby Capital. “O comunicado divulgado após a reunião apresentou poucas alterações em relação ao anterior, enfatizando o elevado grau de incerteza do cenário e a cautela que deve ser adotada na definição de política monetária nesta situação”, diz. “Diante das poucas informações adicionadas no comunicado, e com projeções mais altas do que o esperado pelo mercado, foi lido pelos participantes em tom mais duro que o antecipado, ao menos até a divulgação da ata desta terça-feira”, acrescenta.

Na B3, a moderação das perdas do Ibovespa ao longo da tarde foi assegurada pelo desempenho do carros-chefes das commodities, Vale (ON +0,14%) e, em especial, Petrobras (ON +1,07%, PN +1,00%). Os bancos mitigaram as perdas vistas mais cedo, quando voltaram a ficar no foco dos investidores ante novas movimentações do governo americano para sancionar o Brasil e autoridades do País, ainda na esteira da condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro. As perdas entre as maiores instituições ficaram entre 0,51% (Banco do Brasil ON) e 1,44% (Itaú PN) no fechamento. Bradesco, por sua vez, conseguiu se descolar e encerrou em alta de 0,26% na ON e de 0,17% na PN.

Na ponta ganhadora do Ibovespa, Embraer (+4,63%), após a notícia de que Latam Airlines e afiliadas assinaram um acordo para aquisição de até 74 aeronaves da fabricante. Logo depois, na lista das vencedoras, aparecem WEG (+2,09%), Rumo (+2,05%) e Brava (+1,13%). No lado oposto, Cosan (-18,13%), depois de entendimento para aporte de R$ 10 bilhões pelo BTG e a Perfin na empresa. Também na ponta perdedora na sessão, Raízen (-7,75%), BRF (-5,38%), Natura (-4,97%) e Marfrig (-4,61%).

Dólar

O dólar apresentou alta moderada nesta segunda-feira, 22, na contramão do comportamento predominante da moeda americana no exterior. Investidores adotaram uma postura cautelosa diante da possível escalada das tensões entre EUA e Brasil na véspera do discurso do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, na Assembleia Geral da ONU.

No fim da manhã, o governo norte-americano anunciou sanções à esposa do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), com base na Lei Magnitsky. Viviane Barci de Moraes terá eventuais bens nos EUA bloqueados. A administração Trump também revogou vistos americanos do advogado-geral da União, Jorge Messias, e de outras autoridades do Judiciário brasileiro.

No momento de maior estresse, em meio ao impacto do anúncio das sanções, o dólar à vista superou o nível de R$ 5,35 e registrou máxima de R$ 5,3660. Ao longo da tarde, com o aprofundamento das perdas da moeda americana no exterior e a avaliação de que as ações dos EUA estão, por ora, limitadas a certas autoridades, a divisa se afastou das máximas.

Após operar ao redor dos R$ 5,33 nas últimas horas da sessão, o dólar à vista encerrou em alta de 0,32%, a R$ 5,3381. Foi o quarto pregão consecutivo de avanço da moeda americana, após o fechamento abaixo de R$ 5,30 no dia 16, véspera da superquarta, marcada pelo primeiro corte de juros pelo Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) em 2025. O dólar ainda recua 1,55% em relação ao real em setembro, o que leva as perdas no ano a 13,63%.

Para a economista-chefe do Ouribank, Cristiane Quartaroli, houve nesta segunda um movimento natural de correção no mercado de câmbio local, uma vez que o real experimentou um movimento forte de apreciação nas últimas semanas, com base na perspectiva de ampliação do diferencial de juros interno e externo nos próximos meses.

“O mercado está operando com cautela por conta da agenda de indicadores desta semana, com ata do Copom e IPCA-15 no Brasil, além de dados de inflação e atividade nos EUA”, afirma Quartaroli. “Além disso, vamos ter a fala do presidente Lula amanhã na ONU.”

Em nota, o Ministério das Relações Exteriores afirmou que recebeu “com profunda indignação” as sanções à esposa de Moraes, ressaltando que o uso da Lei Magnitsky simboliza uma “nova tentativa de ingerência indevida em assuntos internos brasileiros”. O governo dos EUA já havia alertado na semana passada que haveria reação à condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro pelo STF por tentativa de golpe de Estado e outros crimes.

Em publicação na rede social X, o secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio, disse que as sanções à advogada Viviane Barci servem de alerta a quem ameaça os “interesses dos EUA protegendo e habilitando atores estrangeiros como Moraes”.

Lá fora, o índice DYX – que mede o comportamento do dólar em relação a uma cesta de seis divisas fortes – operou em baixa moderada ao longo do dia e girava ao redor dos 97,330 pontos no fim da tarde, perto da mínima da sessão, aos 97,309 pontos. A moeda americana caiu frente à maioria das divisas emergentes, mas apresentou leve alta em relação aos peso mexicano e chileno, pares do real.

Dirigentes do Fed adotaram posturas distintas em relação à condução da política monetária, após a redução de 25 pontos-base na taxa básica americana na última quarta-feira, 17. O presidente do Fed de St. Louis, Alberto Musalem, pregou cautela e disse ver “espaço limitado” para cortes adicionais dos juros. Indicado recentemente por Donald Trump, o diretor do Fed Stephen Miran – que votou por corte de 50 pontos-base na semana passada – afirmou que os juros deveriam estar aproximadamente entre 2% e 2,5%.

A perspectiva de um dólar globalmente mais fraco, com apostas em três cortes de juros pelo Fed neste ano, levou o BTG Pactual a reduzir a projeção da taxa de câmbio para o fim deste ano, de R$ 5,40 para R$ 5,20, e de 2026, de R$ 5,60 para R$ 5,50.

A economista Iana Ferrão, do BTG, observa que fatores estruturais, como a “diversificação gradual” de reservas internacionais e a “normalização de instrumentos de hedge pelos investidores”, também tendem a reduzir a demanda por dólar.

“Nesse contexto, o real deve acompanhar a trajetória do DXY, beneficiado pelo elevado diferencial de juros doméstico e por condições financeiras globais mais favoráveis”, afirma Ferrão, em relatório.

Juros

Após terem tocado máximas intradiárias no início da tarde, os juros futuros seguiram em tendência de firme alta no restante do pregão desta segunda-feira. A piora de percepção sobre o cenário político e fiscal doméstico elevou os prêmios de risco, na medida em que as manifestações de ontem foram interpretadas como um sinal negativo para a direita nas eleições de 2026. Com a maior tensão no ambiente local, o movimento dos Treasuries, também de ascensão, mas mais contida, ficou em segundo plano.

O mercado também monitorou a discussão de pautas em trâmite no Legislativo que ampliam os gastos públicos, assim como a nova rodada de sanções dos Estados Unidos, com a aplicação da Lei Magnitsky à esposa do ministro do STF Alexandre de Moraes, Viviane Barci.

Encerrados os negócios, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2027 subiu de 13,978% no ajuste de sexta-feira para 14,050%. O DI para janeiro de 2028 avançou de 13,227% no ajuste a 13,355%. O DI para janeiro de 2029 marcou 13,260%, vindo de 13,131% no ajuste precedente, e o DI para janeiro de 2031 aumentou de 13,301% no ajuste anterior a 13,435%.

Neste domingo, milhares de pessoas se reuniram em mais de 30 cidades para protestar contra a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Blindagem e a anistia a condenados pela trama golpista. Economista-chefe e fundadora da Buysidebrazil, Andrea Damico avalia que as manifestações de ontem não implicam uma leitura precipitada sobre os resultados do próximo pleito presidencial, mas indicaram que a esquerda tem uma narrativa melhor calibrada e colocaram a direita em “maus lençóis”, o que pressionou os DIs. “As manifestações dão maior fôlego para a esquerda”, diz Andrea, acrescentando que a restrição imposta à esposa de Moraes acentuou o ‘risk off’.

Segundo Erich Decat, head de Análise Política da Warren Investimentos, os atos tiveram grande repercussão no Congresso, e está em curso uma movimentação para levar a PEC da Blindagem para a Constituição de Comissão e Justiça “e, então, enterrá-la por lá”. “Podemos considerar que foi um tiro no pé quem abraçou a PEC da Blindagem porque agora só vai restar o desgaste junto a setores da sociedade”, avalia.

Além do impacto das manifestações, que, em sua visão, não foi preponderante, Tiago Hansen, diretor de gestão e economista da Alphawave Capital, destaca a instabilidade do dólar e projetos de teor fiscal no Congresso como fatores que elevaram as taxas futuras.

O pico nos DIs na sessão foi alcançado por volta de meio dia, quando saiu a notícia sobre a aplicação da Magnitsky à esposa de Moraes, observa. Mas também fizeram preço, de acordo com Hansen, a discussão sobre o projeto de isenção do Imposto de Renda (IR) para quem ganha até R$ 5 mil, que deve ser votado na próxima semana, assim como o PL que institui o pacote de socorro a empresas afetadas pelo tarifaço, com votação prevista para esta terça-feira. “Tivemos uma sequência de notícias ruins para o cenário fiscal, com medidas provisórias e projetos do governo que elevam gastos. As atenções ao fiscal estão ditando os mercados de risco”.

Do lado dos indicadores, o boletim Focus mostrou uma interrupção na tendência de melhora das expectativas inflacionárias. Entre a semana passada e a atual, o consenso do mercado para a alta do IPCA neste ano ficou estacionado em 4,83%. Para 2026, houve redução de 0,01 ponto, para 4,29%, enquanto as projeções para 2027 e 2028, foram mantidas em 3,9% e 3,7%, respectivamente. O centro da meta perseguido pelo BC é de 3%.

Lá fora, o dia foi marcado por declarações de quatro dirigentes do Fed que, em sua maioria, sinalizaram uma abordagem mais prudente nos próximos passos da política monetária americana, o que se refletiu em aumento nos rendimentos dos Treasuries.

Estadão Conteúdo

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