São Paulo, 19 – O Ibovespa voltou a marcar 146 mil pontos – renovando nesta sexta-feira recorde intradia, aos 146.398,76 -, mas deixou escapar a linha inédita em fechamento, sustentada em boa parte da sessão: ainda assim, nova máxima histórica também para o encerramento, a quarta em cinco sessões da semana. No intervalo, foram quatro ganhos e apenas um leve revés – na quinta-feira, de 0,06% -, em agregado que colocou os ganhos do período a 2,53%, após leve perda de 0,26% no anterior – por sinal, o único recuo semanal na série que retroage a 4 de agosto
Após um início de setembro hesitante que o colocou abaixo dos 140 mil no fechamento do último dia 3, da sessão seguinte em diante o Ibovespa mostra avanço consistente, tendo colhido perdas – todas suaves – em apenas quatro sessões desde então, e registrado oito altas. Nesta sexta, saiu de abertura aos 145 499,49 – quase equivalente à mínima da sessão, de 145.495,55 pontos – e fechou em alta de 0,25%, aos 145.865,11 pontos, com giro a R$ 28,3 bilhões em dia de vencimento de opções sobre ações. No mês, o Ibovespa sobe 3,14% e, no ano, avança 21,27%.
Em Nova York e Londres, o petróleo cedeu 1,3%, colocando Petrobras entre as blue chips de pior desempenho na sessão da B3, com a ON em baixa de 1,46% e a PN, de 1,11%, no fechamento. Vale ON subiu 0,40%, acumulando ganho de 1,61% na semana. Entre os maiores bancos, destaque nesta sexta para Bradesco (ON +1,68%, PN +1,78%), que também foi o ponto alto do setor na semana, com avanço de 5,00% e 5,23%, respectivamente, no intervalo. Principal papel do segmento, Itaú PN também foi bem, em alta de 1,33% no dia e de 4,33% na semana.
Na ponta ganhadora do Ibovespa na sessão, destaque para as duas ações de Eletrobras (ON +3,16%, PNB +3,08%) e para Fleury (+2,83%). No lado oposto, Marfrig (-6,74%), Natura (-4,65%) e Cosan (-4,46%).
“Dia de poucos acontecimentos na agenda econômica, esvaziado com relação a dados. E a Bolsa seguiu em máximas por aqui, enquanto lá fora os mercados também foram bem, ainda repercutindo a redução de juros nos Estados Unidos, na quarta-feira, em movimento que deve prosseguir”, diz Willian Queiroz, sócio e advisor da Blue3 Investimentos. “Há muito tempo os investimentos em renda variável não estavam tão atrativos como agora.”
No quadro doméstico, na semana, houve “um pequeno banho de água fria com a decisão do Copom, que segurou um pouco mais o corte de juros, prometendo até mais aumento se for necessário, em comunicado hawkish”, aponta Leonardo Santana, sócio da casa de análise Top Gain. “Mas ainda está ocorrendo entrada de capital, muito por conta da taxa Selic alta, de 15% ao ano, e da queda de juros nos Estados Unidos, que favorece o fluxo de capital para o Brasil”, acrescenta.
Nesta sexta-feira, o diretor do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) Stephen Miran, indicado do presidente Donald Trump e que votou na quarta-feira por corte maior, de 50 pontos-base na taxa do Fed, afirmou não ver “nenhuma evidência” de aumento da inflação nos EUA por conta das tarifas impostas às importações. “Sou claramente minoria por não me preocupar com inflação decorrente das taxas”, disse Miran em entrevista à CNBC
Ele afirmou também que não acredita que um corte de 50 pontos-base na taxa de juros do país preocuparia os mercados. “É um ritmo equilibrado. Chegar à taxa neutra em meio ponto por vez é razoável”, acrescentou na mesma entrevista.
Em meio à sequência de recordes, o mercado ampliou o otimismo em relação ao comportamento das ações no curtíssimo prazo, conforme o Termômetro Broadcast Bolsa desta sexta-feira. Entre os participantes, 66,67% esperam alta para o índice na próxima semana, contra 16,67% que preveem estabilidade e outros 16,67% que acreditam em queda. Na edição anterior, a expectativa era de alta para 50,00%; de baixa para 33,33%; e de variação neutra para 16,67%.
Dólar
Em pregão morno e de liquidez bem reduzida, o dólar pouco se mexeu e terminou a sessão da sexta-feira, 19, praticamente estável, na casa de R$ 5,32. Sem indicadores relevantes aqui e lá fora para guiar os negócios, investidores se limitaram a promover ajustes finos de posições.
Após a onda recente de apreciação do real, com o rompimento definitivo do piso de R$ 5,40 nesta semana, operadores afirmam que não houve gatilhos que justificassem levar o dólar abaixo de R$ 5,30, embora a expectativa continue sendo de enfraquecimento adicional da moeda americana.
Declarações de dirigentes do Federal Reserve e relatos da conversa por telefone entre o presidente Donald Trump e o líder chinês, Xi Jinping, foram monitorados, mas não tiveram impacto relevante na formação da taxa de câmbio.
Com oscilação de pouco mais de dois centavos entre a mínima (R$ 5,3171) e a máxima (R$ 5,3390), o dólar fechou cotado a R$ 5,3209 (-0,03%). Na semana, a divisa recuou 0,62%, o que levou a desvalorização em setembro para 1,86%. No ano, as perdas são de 13,90%.
No exterior, o dólar avançou em relação a moedas fortes e à maioria das divisas emergentes e de países exportadores de commodities, embora tenha recuado frente a dois pares relevantes do real, o peso chileno e o rand sul-africano.
O head de banking da EQI Investimentos, Alexandre Viotto, destaca que, com a agenda esvaziada e sem sinalizações relevantes do encontro entre Trump e Xi Jinping, o mercado trabalhou em ritmo lento. Viotto vê continuidade da tendência de apreciação do real no curto prazo, com o aumento do diferencial de juros nos próximos meses e as apostas em torno do quadro eleitoral.
“O dólar deve vir abaixo dos R$ 5,30 no curto prazo porque o carrego está muito alto. O BC não deu nenhuma sinalização de redução de juros antes de janeiro”, afirma Viotto, em referência ao comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom) na última quarta-feira, 17, quando a taxa Selic foi mantida em 15% ao ano.
A expectativa é de que o Federal Reserve, que reduziu nesta semana a taxa básica em 25 pontos-base, promova mais dois cortes dos juros até o fim do ano. Para Viotto, o presidente do BC americano, Jerome Powell, já mostra desconforto com as tentativas de interferência da administração Trump, o que sugere não haver clima político para uma postura mais cautelosa do Fed, apesar da inflação ainda acima da meta.
À tarde, o diretor do Fed Stephen Miran disse que espera convencer seus colegas a cortar juros e que uma redução de 50 pontos-base não preocuparia o mercado. Indicado por Trump, Miran foi o único integrante do comitê de política monetária do Fed (Fomc) a votar por corte de 50 pontos-base nesta semana.
“Além do diferencial de juros, a gente continua apostando também em queda do dólar frente ao real por conta do cenário político, com um candidato mais ao centro representando à direita em vez da família Bolsonaro, o que é bem visto pelo mercado. Parece que houve uma estagnação na recuperação da popularidade do presidente Lula”, afirma Viotto.
A perspectiva de continuidade do movimento de perda de força global da moeda americana e o aumento do diferencial de juros nos próximos meses levaram a consultoria 4intelligence a reduzir a projeção para taxa de câmbio no fim deste ano de R$ 5,70 para R$ 5,45. Para o ano que vem, a estimativa caiu de R$ 5,70 para R$ 5,60.
Ao justificar a expectativa de depreciação do real ao longo do próximo ano, a consultoria observa que o dólar deve perder força de forma bem mais contida no período. Além disso, a avaliação é que “o fator de suporte proporcionado pelo diferencial de juro perderá intensidade a partir do primeiro trimestre de 2026”, quando o Banco Central deve iniciar um ciclo de cortes da taxa Selic.
A 4intelligence ressalta, contudo, que o principal fator para a formação da taxa de câmbio no ano que vem “será de natureza doméstica e estará intrinsecamente ligado ao risco político e fiscal decorrente do processo eleitoral”.
A previsão de dólar em R$ 5,60 em dezembro de 2026 reflete um diferencial de juros “menos favorável” e, sobretudo, “o significativo risco de aversão ao ativo brasileiro gerado por um cenário eleitoral turbulento”, com falta de clareza “quanto ao futuro arcabouço macrofiscal”, afirma a 4Intelligence.
Juros
Em um dia de liquidez reduzida e agenda esvaziada de indicadores aqui e lá fora, a postura conservadora do Comitê de Política Monetária (Copom) nesta semana ainda repercutiu sobre os juros futuros mais curtos, que tiveram alta moderada no pregão desta sexta-feira. Os vencimentos intermediários e mais distantes também subiram, digerindo notícias que pioram a percepção sobre o quadro fiscal e tendo ainda como pano de fundo o aumento no rendimento dos Treasuries.
No fechamento, a taxa do contrato de depósito interfinanceiro (DI) para janeiro de 2027 avançou de 13,978% no ajuste de ontem para 14%. O DI para janeiro de 2028 passou de 13,227% no ajuste a 13,265%. O DI para janeiro de 2029 terminou o dia negociado a 13,145%, vindo de 13,098% no ajuste precedente. O DI para janeiro de 2031 aumentou de 13,276% no ajuste da véspera a 13,305%.
Gestor de renda fixa da Inter Asset, Ian Lima afirma que o mercado seguiu recolhendo apostas, em continuação ao movimento da sessão de ontem, quando os vértices mais curtos também subiram. Faltando 45 dias para a próxima decisão de juros do Banco Central, os investidores tentam fazer um script dos próximos passos à luz do comunicado mais recente, disse. Como, na próxima semana, serão conhecidos a ata do Copom e o Relatório de Política Monetária (RPM), que trarão mais detalhes sobre o cenário do BC, os ajustes hoje foram contidos.
No âmbito fiscal, os investidores monitoram o projeto do Senado Federal que define um teto para a dívida pública, de 80% sobre o PIB. O texto deve ser colocado para votação na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado na próxima semana. A repórter Célia Froufe, da Broadcast, apurou que senadores e assessores receberam mensagens extraoficiais do Banco Central sobre pontos negativos e “consequências graves” da aprovação da proposta. O relator do projeto, senador Oriovisto Guimarães (PSDB-PR), disse nesta tarde que vai analisar cada um dos argumentos do BC. Ao Valor Econômico, técnicos da equipe econômica do governo também manifestaram preocupação com o projeto, devido ao risco de moratória da dívida daqui a alguns anos.
Além deste tema, Lima destaca o movimento global de deterioração nos mercados de renda fixa, após os sinais menos ‘dove’ do que o previsto vindos do Federal Reserve (Fed). O BC americano entregou um corte de juros, mas divulgou projeções ambíguas para o PIB, inflação e desemprego, observa ele. “Não dá para o mercado ficar animado com a perspectiva de um corte profundo de juros lá fora. Há pressão altista dos juros globais e isso também afeta os mercados aqui.”
A despeito do comunicado do Copom cujo tom foi considerado mais duro, dos ruídos fiscais e da abertura da curva de juros americana, a curva futura local se deslocou levemente para baixo no saldo semanal. “Podemos credenciar à própria postura do BC o achatamento da curva de juros: tanto pela via do câmbio mais valorizado, quanto porque uma postura mais dura hoje aumenta a chance de cortes mais acentuados em um segundo momento”, avalia a equipe econômica do Santander em relatório.
Devido a este mesmo raciocínio, Lima, da Inter Asset, avalia que a alta nos DIs hoje foi modesta, porque o mercado parece disposto a ficar aplicado em juros. Quanto mais o início do ciclo de cortes for adiado – o que, pelo comunicado, não deve ocorrer este ano -, maior deve ser o orçamento de redução da Selic em 2026, disse.
Na próxima semana, a divulgação da ata do Copom, que ocorre na terça-feira, e o Relatório Trimestral de Política Monetária (RPM), na quinta-feira, devem ter peso mais relevante na formação de expectativas dos agentes. Também estarão em foco a revisão bimestral do orçamento do governo, na segunda-feira, e o IPCA-15 de setembro, que o IBGE publica na quinta.
Estadão Conteúdo