São Paulo, 29 – O Ibovespa iniciou a semana em renovação, mais uma vez, de recorde intradia, pela manhã na marca de 147 558,22 pontos. No fechamento, o índice da B3 mostrava ganho um pouco mais acomodado, de 0,61%, aos 146.336,80 pontos, perto também de estabelecer nova marca para o encerramento – sem romper o pico mais recente, da última quarta-feira, então aos 146.491,75 pontos. Com a que ora começa, a semana dá prosseguimento a uma série de renovações de marcas para o Ibovespa, deflagrada ainda no final de agosto, no dia 29, há exatamente um mês.
Nesta segunda-feira, saiu de mínima na abertura aos 145.446,71 pontos, operando sempre no positivo à espera, nesta semana, da possível conversa entre os presidentes Donald Trump e Lula sobre o tarifaço imposto pelos Estados Unidos ao Brasil e, em especial, de novos dados americanos, com destaque para o payroll, na sexta-feira.
No mês, que chega ao fim na terça, o Ibovespa acumula alta de 3,48%, após salto de 6,28% em agosto – o melhor desempenho para o índice desde agosto do ano passado (+6,54%). Se confirmado o ganho de 3,5% para setembro, será a melhor performance para o mês desde 2019 (+3,57%) ou de 2017 (+4,88%). O giro financeiro desta segunda-feira ficou em R$ 18,1 bilhões. No ano, o Ibovespa avança 21,66%.
Entre os ativos globais, o petróleo foi o destaque, em queda superior a 3% em Nova York e Londres, com foco na oferta da Opep+ que pode aumentar em novembro – um ajuste de preços na commodity que manteve as ações de Petrobras (ON -1,89%, PN -1,36%) na contramão das demais blue chips na B3 nesta abertura de semana. Vale ON subiu 0,33%. Entre os principais bancos, destaque para Bradesco, com a ON em alta de 1,26% e a PN, de 1,02%. Na ponta ganhadora do Ibovespa, Eletrobras (PNB +4,30%, ON 3,93%) e CSN Mineração (+3,95%). No campo oposto, Braskem (-5,13%), Magazine Luiza (-5,09%) e Vamos (-2,99%).
Felipe Paletta, estrategista da EQI Research, destaca que a semana começou bem com mais uma revisão, para baixo, nas projeções de mercado para o IPCA de 2025 e 2026, conforme o boletim Focus, o que ampara a visão de que a Selic deve, em breve, começar a ser cortada pelo Banco Central. “Esse processo contínuo de revisões nas expectativas para a inflação dá sustentação à ideia de que a Selic começará a cair no começo do próximo ano”, acrescenta.
Outro desdobramento do dia também corrobora a percepção de que a Selic tende a ser cortada antes cedo do que tarde, observa o estrategista: a leitura abaixo do esperado para a geração de vagas de trabalho formais no Brasil em agosto, conforme os dados do Caged, nesta tarde.
Para Raphael Figueredo, estrategista de ações da XP, o Ibovespa refletiu o ‘risk on’ e o ajuste de câmbio – que prosseguiu na segunda, com dólar a R$ 5,32, em baixa de 0,30% -, favorecido pelo carry trade: uma combinação que tem beneficiado também os ativos cíclicos locais, na B3, levando o Ibovespa a uma nova máxima histórica intradia mesmo numa segunda-feira de agenda econômica relativamente fraca.
“Super de olho no payroll da sexta-feira, na medida em que o mercado aqui, como outros emergentes, está num momento de grande influência do fluxo estrangeiro, nesse processo de ajuste do dólar desde que o Fed sinalizou – e efetivou – o início do corte de juros nos Estados Unidos”, acrescenta Figueredo.
“Esses dados de emprego da sexta-feira serão muito importantes para o que se pode esperar das duas reuniões de política monetária do BC americano que ainda faltam para o fim do ano”, diz Matheus Spiess, analista da Empiricus, lembrando de números de atividade na semana passada, como a última leitura do PIB americano para o segundo trimestre, que surpreenderam pela força – o que resultou em certa dúvida, no mercado, quanto ao número de cortes de juros americanos que vinha precificando.
Dólar
O dólar começou a semana em baixa no mercado local, mas manteve-se acima de R$ 5,30 pelo quarto pregão seguido. O movimento refletiu a queda global da moeda americana diante do impasse orçamentário que ameaça paralisar o governo dos EUA e da expectativa de novos cortes de juros pelo Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano).
Com mínima de R$ 5,3057, o dólar à vista fechou esta segunda-feira, 29, em baixa de 0,30%, a R$ 5,3057. A moeda soma perdas de 1,84% em setembro e de 13,88% no ano. Na terça, a rolagem de contratos futuros e a disputa pela última Ptax de setembro devem ampliar a volatilidade.
O real apresentou o melhor desempenho entre emergentes latino-americanos. Operadores citam o otimismo com o encontro entre o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, e o presidente norte-americano, Donald Trump, e o tom duro do presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, em evento em São Paulo.
A perspectiva de Selic em 15% até, ao menos, o início de 2026 sustenta operações de carry trade, sobretudo com alívio monetário nos EUA. Dados fracos do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) para agosto não influenciaram o câmbio.
O superintendente da Mesa de Derivativos do BS2, Ricardo Chiumento, diz que o mercado segue otimista com novo corte do Fed em outubro, apesar de indicadores fortes.
O mercado local acompanhou mais uma vez o ambiente externo, com a fala de Galípolo ajudando um pouco mais o real. O carry continua bastante alto, é o maior dos países do G20″, afirma Chiumento, que alerta para o que vê como “excesso de otimismo” com o aceno de Trump a Lula. “O mercado está se posicionando de forma muito positiva na expectativa dessa conversa. É preciso um pouco de cautela”.
O Dollar Index (DXY) operou em leve baixa, pouco abaixo dos 98,000 pontos. O iene subiu mais de 0,60% após dirigente do Bank of Japan (BoJ, na sigla em inglês) sinalizar alta de juros. Moedas emergentes resistiram ao tombo de 3% do petróleo, provocado por expectativa de oferta maior e possível cessar-fogo na Faixa de Gaza.
Para o economista-chefe da Western Lima, Adauto Lima, fatores externos comandam o dólar aqui. Ele alerta que o impasse orçamentário no Congresso dos EUA, que pode paralisar o governo na quarta, tende a gerar novo estresse. O Bureau of Labor Statistics (BLS) avisou que a divulgação do payroll de setembro, prevista para sexta-feira, 3, pode ser adiada.
“A paralisação do governo pode ter impactos na atividade americana. O balanço de risco do Fed está mais inclinado para a atividade, principalmente para o mercado de trabalho. Na semana passada, os dados vieram mais fortes do que o esperado”, afirma Lima.
O economista prevê que o ciclo de cortes iniciado pelo Fed leve a taxa básica, hoje entre 4,25% e 4,50%, para 3,50% a 3,75%. “Em seguida, ele deve fazer uma pausa. O foco está agora na atividade, mas a inflação ainda está longe da meta”, afirma. Ele vê espaço para o real ganhar força, mas em ritmo menor: “Seria preciso um recuo maior do dólar lá fora para o real se apreciar muito mais.”
Juros
Os juros futuros se descolaram do comportamento mais benigno do ambiente externo e da queda do dólar na segunda etapa do pregão desta segunda-feira, apagando o viés de baixa observado até o início da tarde. A reversão ocorreu por volta das 15h, logo após a divulgação do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) de agosto – que veio consideravelmente abaixo do esperado, mas não impediu que os DIs tocassem máximas intradia em toda a extensão da curva.
No fechamento, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2027 aumentou de 14,037% no ajuste de sexta-feira para 14,065%. O DI para janeiro de 2028 subiu a 13,385%, de 13,338% no ajuste. O DI para janeiro de 2029 avançou de 13,231% no ajuste antecedente para 13,290%. O DI para janeiro de 2031 marcou 13,485%, vindo de 13,432% no último ajuste.
Segundo agentes, embora seja difícil apontar um gatilho específico para a piora do mercado de renda fixa, uma vez que a moeda americana se manteve no terreno negativo, a mensagem conservadora reforçada em discursos de autoridades do Banco Central em meio a um ambiente de expectativas desancoradas pode ter feito mais preço sobre a curva na sessão de hoje.
Ruídos de comunicação do governo também podem ter neutralizado o potencial alívio de uma frustração com o Caged: na semana passada, o ministro do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho, deu indicações de que o número de agosto seria fraco, o que pode ter provocado maior dispersão nas projeções, disse um participante do mercado à Broadcast.
No mês passado, foram abertas 147.358 vagas com carteira assinada, ante 134.251 postos de trabalho criados em julho. A mediana do Projeções Broadcast previa 182 mil vagas para a leitura atual. Pouco antes da publicação do Caged, o diretor de Política Econômica do Banco Central (BC), Diogo Guillen, reforçou que a autoridade monetária segue desconfortável com o aquecimento do mercado de trabalho e com a desancoragem das expectativas inflacionárias em seu segundo compromisso público do dia, em evento do HSBC. O incômodo do Copom, segundo Guillen, ocorre muito mais em razão da inflação de serviços, que segue resiliente, por ter maior correlação com o hiato do produto.
Mais cedo, o presidente do BC, Gabriel Galípolo, repetiu que a desancoragem das estimativas de inflação do mercado “incomoda bastante”.
Para o diretor de Investimentos da Azimut Brasil Wealth Management, Marco Antonio Mecchi, não houve uma subida de tom dos dois representantes do BC em relação às comunicações recentes. Mas os discursos alinhadamente ‘hawkish’ seriam um contraponto ao Caged abaixo das expectativas, e reforçam a percepção de que a Selic vai permanecer em patamar restritivo por mais tempo. “Parece que o BC está bastante preocupado em relação ao nível de atividade do mercado de trabalho, que está superaquecido. A taxa de desemprego ficou em 5,6% em julho, e isso é coerente com o movimento da curva, que mostrou ajustes pequenos hoje”, avalia Mecchi.
No cenário da Azimut, o primeiro corte da Selic será em março de 2026. Mecchi pondera que alguns participantes do mercado apontam que o maior diferencial de juros em relação aos EUA, que ajuda a controlar o câmbio, pode contribuir para o BC reduzir a taxa básica mais cedo, mas esta não é a sua visão, justamente devido ao mercado de trabalho resistente.
Economista-chefe e fundadora da Buysidebrazil, Andrea Damico afirma que, a despeito do headline mais fraco que o previsto, os salários de admissão e demissão do Caged ainda vieram elevados. O salário admissional real médio atingiu R$ 2.281, alta de 0,9% sobre agosto de 2024, e o salário demissional real médio cresceu 0,5% em igual base, para R$ 2.359. Damico também destaca as declarações mais conservadoras de Guillen hoje como outro fator que pode ter pressionado a curva na segunda etapa da sessão.
Estadão Conteúdo