Menu
Economia

Governo reage à crise de dividendos na Petrobras com discursos conflitantes

A Petrobras perdeu R$ 56 bilhões em valor de mercado com a decisão do conselho da estatal, na véspera, de reter o pagamento de dividendos

Redação Jornal de Brasília

12/03/2024 7h19

Foto: Petrobras/Divulgação

O governo federal respondeu nesta segunda-feira, 11, à crise dos dividendos na Petrobras com discursos simultâneos e conflitantes a mais um dia em que a mão do Estado pairou sobre a empresa.

Ao final de uma reunião de mais de três horas no Planalto, que contou com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de diretores da estatal e de membros do governo, os ministros Fernando Haddad (Fazenda) e Alexandre Silveira (Minas e Energia) garantiam que a governança da petroleira estava sendo respeitada na discussão.

Na sexta-feira, 8, a Petrobras perdeu R$ 56 bilhões em valor de mercado com a decisão do conselho da estatal, na véspera, de reter o pagamento de dividendos extraordinários aos acionistas.

Nesta segunda, os ministros admitiram a possibilidade de rever a decisão, como havia sido revelado pelo Estadão/Broadcast no início da tarde. A hipótese de realizar o pagamento teve como efeito imediato a valorização das ações da companhia. Durante a tarde, elas chegaram a subir 1,03% (ON) e 2,33% (PN), após notícias de que Haddad defenderia que o pagamento de dividendos extras renderia R$ 12 bilhões ao caixa do Tesouro.

Enquanto a reunião do governo ocorria em Brasília, o SBT exibia uma entrevista com Lula, gravada pela manhã. Nela, o presidente criticou “a choradeira do mercado” e o pagamento de dividendos aos acionistas da Petrobras em detrimento de investimentos para “mais pesquisa, mais navio, mais sonda”.

Trechos de sua fala veiculados ao longo da tarde já haviam tratado de derrubar novamente mais um pouco as ações da empresa. O papel ON recuou 1,92%, enquanto a PN teve queda de 1,30%. A íntegra das declarações de Lula — mais do que o discurso afinado dos ministros — deixou claro o norte dado pelo Palácio do Planalto à empresa.

“O que não é correto é a Petrobras, que tinha que distribuir R$ 45 bilhões de dividendos, querer distribuir R$ 80 bilhões. E R$ 40 bilhões a mais que poderiam ter sido colocados para investimento, fazer mais pesquisa, mais navio, mais sonda… Não foi feito”, disse o presidente.

Ao falar sobre a possibilidade de a decisão ser revista, Haddad justificou a retenção dos dividendos extras pela Petrobras como uma tentativa de equilibrar os interesses do País e os dos acionistas.

“O que se fez foi colocar recurso numa conta de remuneração do capital, enquanto se processam as informações necessárias para que o conselho tenha a segurança de que ele vai fazer esse balanço entre distribuição e investimento sem colocar em risco os compromissos com acionistas e o plano de investimentos, que vai gerar desenvolvimento. É um sopesamento que tem que ser feito para que a companhia produza os melhores resultados para si e para o desenvolvimento do País”, disse o ministro.

À noite, Silveira voltou a falar sobre a Petrobras e disse que os membros do governo federal estão unidos e seguem “rigorosamente” a posição de Lula. Ele tentava desfazer a imagem de mal-estar entre uma ala do Executivo, que une Silveira ao ministro da Casa Civil, Rui Costa, favoráveis à retenção dos dividendos extras, e outra, o presidente da estatal, Jean Paul Prates, e o chefe da equipe econômica, Fernando Haddad, que defendem o pagamento — ou parte dele.

“Nós todos sabemos da experiência, da altivez e da liderança do presidente, que é o único presidente da história que governa o Brasil pela terceira vez. Nós todos temos juízo e quem tem juízo segue rigorosamente a posição do seu líder”, disse Silveira.

O chefe de Minas e Energia disse que Lula discute “naturalmente como acionista controlador a compatibilização entre o interesse da empresa e o interesse nacional, sempre dentro da mais rigorosa e absoluta compreensão de que a empresa precisa e está sendo cada vez mais valorizada porque nós respeitamos o investidor”. Silveira acrescentou que o governo continuará firme no respeito aos contratos, olhando, principalmente, para a previsibilidade.

Mais cedo, durante a entrevista, Lula indicou que a prioridade da Petrobras, no entanto, precisa ser “pensar no povo”, o que significa abaixar os preços. “Tivemos uma conversa séria com a direção da Petrobras. Tenho compromisso com o povo brasileiro de reduzir o preço do combustível, da gasolina, do gás de cozinha e do óleo diesel. A gente não tem por que ter preço equiparado a preço internacional”, concluiu.

Estadão Conteúdo

    Você também pode gostar

    Assine nossa newsletter e
    mantenha-se bem informado