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Economia

Governo Lula aposta em sensibilizar consumidor dos EUA contra sobretaxa de Trump

Nos encontros com representantes da indústria e do agronegócio, ficou acertado que, a partir de agora, estes empresários deverão buscar os importadores nos EUA para apresentar a eles diretamente os impactos negativos que a taxação de Trump deve ter sobre os consumidores americanos

Redação Jornal de Brasília

16/07/2025 10h28

Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil

JOÃO GABRIEL E ANDRÉ BORGES
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS)

O governo Lula (PT) aposta em sensibilizar o mercado consumidor dos Estados Unidos para tentar reverter a sobretaxa de 50% imposta por Donald Trump ao Brasil. Os articuladores envolvidos nessas discussões acreditam que será possível incluir esse passo numa negociação por etapas.

O vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), que lidera os diálogos, sinalizou, em conversas com auxiliares que acompanham o tema, que os setores produtivos brasileiros podem funcionar como ponta de lança dessa estratégia. Neste roteiro, em primeiro lugar, estão as reuniões com setores do mercado brasileiro, que começaram nesta terça-feira (15).

Nos encontros com representantes da indústria e do agronegócio, ficou acertado que, a partir de agora, estes empresários deverão buscar os importadores nos EUA para apresentar a eles diretamente os impactos negativos que a taxação de Trump deve ter sobre os consumidores americanos.

O próprio governo brasileiro tem conversas previstas com representantes comerciais dos EUA como, por exemplo, a Câmara Americana de Comércio para o Brasil, a Amcham. O encontro de Alckmin com o grupo está previsto para esta quarta-feira (16).

O plano A de Alckmin é que essa etapa ajude numa negociação com os americanos e que a questão seja revertida antes de 1º de agosto, quando a taxa de 50% aos produtos brasileiros começaria a valer.

Um dos argumentos preparados pelo governo é o fato de que, nos últimos anos, a importação americana de produtos brasileiros cresceu três vezes mais que a outra via de comércio —ou seja, a tarifa deve impactar um número relativamente grande de consumidores dessa produção.

Entre os setores que fazem parte desta equação estão, por exemplo, a carne bovina, que é essencial para a produção de hambúrgueres nos EUA, o suco de laranja, também um item do dia a dia do país, e o café, que faz parte do cotidiano dos trabalhadores.

“Todos vamos trabalhar juntos, e eles [empresários] vão trabalhar junto aos seus congêneres e parceiros norte-americanos, importadores, exportadores, CEOs de empresas…”, afirmou Alckmin.

O objetivo é dialogar com os empresários americanos, mostrando que isso tem um prejuízo não só para o Brasil, mas também para a população americana. Segundo o vice-presidente, a aposta é a “complementaridade econômica” entre os dois países.

Daí em diante, segundo um interlocutor, o governo brasileiro precisa levar em consideração como será a resposta da administração Trump, e como o diálogo entre os países terá evoluído até lá —um ponto de incerteza até aqui, já que há diferenças ideológicas envolvidas.

Representantes do governo brasileiro dizem que não aceitam debater temas jurídicos, em referência à tentativa de Trump de fazer com que essa negociação afete o inquérito sobre a tentativa de golpe, no qual o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) é réu no Supremo Tribunal Federal (STF).

A depender do desenvolvimento das negociações comerciais e da sinalização do lado trumpista, passa-se a avaliar a tentativa de prorrogação do prazo para além de 1º de agosto ou as alternativas de retaliação.

Nos setores da indústria e do agronegócio, por outro lado, já há um consenso sobre a necessidade de prolongar este período, afastando a necessidade de aplicação do princípio da reciprocidade.

A Confederação Nacional da Indústria (CNI), por exemplo, sugeriu ao governo tentar adiar o prazo por mais três meses.

“O mais importante [que foi definido na reunião] também é que o Brasil não pretende ser reativo intempestivamente. Nós entendemos dessa reunião que o Brasil não se precipitará em medidas de retaliações, para que elas não sejam interpretadas como simplesmente uma disputa”, disse Ricardo Alban, presidente da CNI.

“[Nossa] sugestão é de imediato, se possível, [tentar] uma prorrogação do início dessa taxação. Existem contratos em andamento, não dá tempo até o dia 1º [de agosto] de desfazer”, complementou Roberto Perosa, Presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes.

Alban ressaltou que o governo foi solícito à sugestão de ampliar o prazo por mais 90 dias, mas ressaltou: “É óbvio que, se pudermos resolver antes do dia 31 de julho, essa estabilidade é melhor para todo mundo”.

Com a sinalização política de diálogo, o governo federal também procura assumir o protagonismo das negociações e aplacar qualquer efeito prático que possa surgir da movimentação do governo de São Paulo.

O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) teve encontro nesta terça-feira com representantes de empresas e membros da embaixada dos EUA no Brasil, um gesto para sinalizar a possibilidade de acordos provocados pela gestão estadual.

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