JÚLIA MOURA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
A Fitch manteve a avaliação de risco do Brasil em BB, com perspectiva de estabilidade, informou a agência de classificação de risco nesta quarta-feira (25). A nota está dois degraus abaixo do grau de investimento.
A empresa cita o “alto e crescente nível de dívida pública em relação ao PIB [Produto Interno Bruto], rigidez orçamentária, baixas pontuações de governança e crescimento potencial relativamente baixo” na sua avaliação.
Ela também menciona o risco de as eleições presidenciais piorarem o quadro fiscal, que seria endereçado apenas em 2027, bem como a piora na relação entre o governo Lula e o Congresso.
“As eleições de outubro de 2026 podem aumentar os incentivos a políticas populistas, especialmente diante da queda na aprovação do governo Lula, como já demonstrado com subsídios a utilidades públicas e possíveis aumentos de benefícios sociais, como visto no último ciclo eleitoral. As eleições não devem trazer desvios significativos de política econômica, em nossa visão, mas podem afetar o sentimento do mercado e as perspectivas para reformas fiscais cruciais”, diz a Fitch em seu relatório.
A agência destaca ainda que a queda no déficit primário federal de 2,4% do PIB em 2023 para 0,4% do PIB em 2024 foi pontual, relacionada aos precatórios e receitas extraordinárias, e não fruto de uma melhora estrutural robusta.
“O governo Lula enfrenta resistência crescente do Congresso a aumentos de impostos, enquanto os esforços administrativos têm decepcionado e as pressões de gastos continuam altas. Um pacote fiscal apresentado no final de 2024 para enfrentar essas questões estruturais agravou, em vez de aliviar, as incertezas, provocando volatilidade no mercado.”
A agência prevê que a dívida do governo geral atinja 79,3% em 2025 e continue em trajetória ascendente de cerca de 3 pontos percentuais por ano, divergindo da mediana dos países ‘BB’ (53%). Ano passado, a medida ficou em 76,5% do PIB e, em 2023, 73,8%.
COMO FUNCIONAM AS NOTAS DE CRÉDITO
A Fitch é uma das três maiores agências de classificação de risco do mundo, e suas notas de crédito consistem em avaliações da probabilidade de um emissor de títulos honrar com suas obrigações financeiras.
O grau de investimento é uma condição atribuída por agências internacionais de classificação de risco a papéis, empresas ou países para definir que se trata de um investimento seguro -ou seja, com baixo risco de calote.
Investidores internacionais ficam atentos às notas dadas por essas agências na hora de escolher onde aportar seus recursos. Se o investidor acredita que, mesmo com uma nota menor, vale a pena apostar nos títulos do país, ele então cobra um prêmio maior, adequado ao risco oferecido pelo emissor.
As notas de crédito também são importantes para os fundos: muitos deles são impedidos de aplicar em papéis sem grau de investimento. Se um emissor de dívida (país ou empresa) é rebaixado, esses fundos são obrigados a tirar os títulos com grau especulativo da carteira. Vale ressaltar que essas notas não são medidas absolutas, mas apenas uma ferramenta usada no processo de tomada de decisões.