A economia global está se saindo melhor do que o esperado, mas não o suficiente, disse a diretora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kristalina Georgieva, nesta quarta-feira (8).
A dirigente fez a declaração em seu tradicional discurso de abertura antes das reuniões do FMI e do Banco Mundial, agendadas para a próxima semana em Washington.
Georgieva convidou, por outro lado, a América Latina a “aspirar a mais” e aproveitar as mudanças na economia mundial, ao mesmo tempo em que apontou a Argentina como um modelo de ajuste econômico.
A economia mundial “de modo geral resistiu a tensões agudas” e evolui “melhor” do que se esperava, “mas pior do que precisamos”, afirmou Georgieva.
O relatório anual do FMI sobre o estado da economia mundial, que será publicado na terça-feira, deverá antecipar “um crescimento mundial em torno de 3% a médio prazo”, em linha com os anos anteriores, mas ainda “em retrocesso em relação aos 3,7% [de média anual] observados antes da pandemia”, destacou.
“Em abril passado, vários especialistas — nós não estávamos entre eles — previram uma recessão de curto prazo nos Estados Unidos, com consequências negativas para o resto do mundo. Mas a economia americana, assim como a de numerosos países desenvolvidos e emergentes, se manteve”, explicou.
Alguns fatores que explicam isso são que as tarifas dos Estados Unidos são menores do que se esperava inicialmente, mesmo que hoje esse país esteja entre os que mais taxam produtos importados, bem como as condições financeiras que sustentam a economia, um setor privado que se adaptou e fundamentos políticos sólidos.
No entanto, se a economia resistiu aos abalos, sua “resistência ainda não foi posta plenamente à prova”, advertiu Georgieva, ao enumerar vários sinais de alerta, como “um aumento da demanda mundial por ouro” e o risco persistente de que as tarifas impulsionem a inflação.
– Argentina, como exemplo –
A chefe do FMI teme que a confiança dos círculos financeiros acabe “se invertendo brutalmente”, o que poderia ameaçar o financiamento necessário para as empresas.
Ela também observou o risco de uma “correção violenta” nas cotações das empresas vinculadas ao desenvolvimento da inteligência artificial (IA), cuja “capitalização parece caminhar para níveis que não víamos há 25 anos”, durante a “bolha” da internet.
Diante desses riscos, Georgieva instou os Estados Unidos a preservarem o comércio internacional “enquanto motor de crescimento”.
Como em outras reuniões anteriores, a dirigente também pediu aos Estados que “coloquem a casa em ordem”, em particular recriando margens orçamentárias para poder enfrentar futuras crises, ao mesmo tempo em que ponham “fim aos desequilíbrios excessivos”, como o consumo exagerado nos Estados Unidos ou os investimentos excessivamente elevados na China.
A Argentina, disse Georgieva, é um exemplo de um país que enfrenta “um programa de ajuste muito dramático”.
“O sucesso consistirá em conseguir que o povo te acompanhe”, acrescentou.
Após uma rodada de perguntas, Georgieva afirmou que a América Latina deve “aproveitar a reorganização das cadeias globais de suprimentos para examinar o que constitui um dano autoinfligido. E há muito disso em vários países”, indicou.
“Já não é possível tolerar” o que qualificou como “lentidão” na “hora de captar o que está por vir”.
A trajetória da dívida pública mundial segue sem se desviar e prevê-se que sua proporção alcance 100% do PIB mundial em 2029, impulsionada em particular pelos Estados Unidos, China e países europeus, enquanto os mercados de títulos se tensionam e as taxas de juros aumentam consideravelmente para países como Japão, França ou Reino Unido.
A consequência para os países são “juros crescentes, uma pressão ascendente sobre os custos de financiamento que pesa sobre outros gastos e reduz a capacidade dos governos de resistir a choques”, alertou Georgieva.
© Agence France-Presse