Menu
Economia

Em leve alta no fim, Ibovespa estende série de recordes, pelo 2º dia a 146 mil

Na semana, o Ibovespa acumula leve ganho de 0,43%, colocando o avanço do mês a 3,58% e o do ano a 21,79%

Redação Jornal de Brasília

24/09/2025 19h00

ibovespa (1)

Foto: Reprodução/ Flickr

O Ibovespa fez uma relativa pausa após ter conquistado, no dia anterior, novos recordes tanto no intradia como no fechamento. Nesta quarta-feira, 24, sem catalisadores de peso para os negócios, o índice da B3 oscilou em margem muito estreita, de pouco menos de 400 pontos entre a mínima (146 129,80) e a máxima (146.520,72) da sessão, em que saiu de abertura aos 146.428,73 pontos. Moderado, o giro ficou em R$ 18,4 bilhões nesta quarta-feira. Na semana, o Ibovespa acumula leve ganho de 0,43%, colocando o avanço do mês a 3,58% e o do ano a 21,79%.

Ao fim, conseguiu empurrar o nível de fechamento a novo recorde, marginalmente mais alto (+0,05%), a 146.491,75 pontos, sustentando o nível inédito dos 146 mil pelo segundo fechamento consecutivo.

Em dia moderadamente negativo para as ações dos maiores bancos, à exceção de BTG (Unit +0,04%), o desempenho das principais empresas de commodities, em especial Petrobras (ON +2,55%, PN +2,26%), foi decisivo para que o Ibovespa não tivesse um ajuste maior no piores momentos, em dia de recuperação, pela segunda sessão, das cotações do petróleo – nesta quarta em alta acima de 2% que reaproximou o Brent do limiar de US$ 70 por barril. A ação de maior peso no Ibovespa, Vale ON, também fechou no campo positivo, com leve avanço de 0,38% nesta quarta-feira.

Na ponta ganhadora do Ibovespa, Cosan (+5,68%), Braskem (+5,12%) e Minerva (+2,35%), ao lado dos papéis de Petrobras. No campo oposto, Raízen (-5,98%), Natura (-2,61%) e CVC (-2,42%).

“Cosan teve um dia de recuperação após a ação ter apanhado demais com o anúncio de aporte do BTG e da Perfin na empresa, que estava muito alavancada. Houve percepção de que o acionista minoritário saiu prejudicado com a diluição, o que levou o mercado a bater demais, ante a percepção de que a estratégia de desalavancagem também não estava dando muito certo, com a venda de muitos ativos para recuperar fluxo de caixa”, diz Ian Lopes, economista da Valor Investimentos. “Hoje veio reação mais favorável, com percepção melhor sobre o fluxo de caixa no curto prazo, apesar da alavancagem operacional ainda alta”, acrescenta

No quadro mais amplo, “com agenda muito fraca na sessão, o Ibovespa operou lateralizado, sem força para subir, mas também pouco inclinado a uma correção aguda que o tirasse dos 146 mil pontos nível em que havia fechado ontem de forma inédita”, observa Guilherme Petris, operador de renda variável da Manchester Investimentos.

Ele acrescenta que, em três oportunidades na sessão desta quarta, o Ibovespa ficou perto de ceder a linha dos 146 mil pontos, mas resistiu a entregar o nível. E que o índice de ações de menor capitalização de mercado, as chamadas small caps – um segmento considerado mais volátil -, também operou com pouca variação ao longo do dia – o que corrobora a resiliência dos papéis na B3 um dia após novos recordes, renovados de forma praticamente sucessiva desde o dia 11.

Neste intervalo curto, de dez sessões, houve apenas três ajustes de baixa, todos leves ou moderados – portanto, sete máximas de fechamento desde o dia 11 de setembro. Em Nova York, como na terça, a quarta-feira foi negativa para os principais índices de ações: no fechamento, Dow Jones recuou 0,37%, o S&P 500 caiu 0,28% e Nasdaq, -0,33%.

“Jerome Powell, presidente do banco central dos Estados Unidos (Fed), reforçou ontem que as próximas decisões sobre juros vão depender dos dados da economia. E evitou dar qualquer sinal sobre novos cortes após o Fed ter iniciado, na semana passada, o ciclo de afrouxamento monetário, conforme esperado, com uma redução de 25 pontos-base na taxa de referência. Essa postura mais cautelosa do Fed faz o mercado repensar as apostas para os juros americanos”, diz Luise Coutinho, head de produtos e alocação da HCI Advisors.

“O dia na B3 foi mais de ressaca, com enfraquecimento também de giro. Sem novidades na sessão, o mercado se mantém à espera de novos dados econômicos e dos desdobramentos em torno da aguardada conversa da semana que vem entre os presidentes Trump e Lula sobre o tarifaço dos EUA ao Brasil, diz Rodrigo Moliterno, head de renda variável da Veedha Investimentos.

“Outro ponto que ajudou a estabilizar o humor dos investidores foi a notícia de novos estímulos da China. O governo chinês anunciou apoio de quase US$ 7 bilhões a um fundo voltado a tecnologias emergentes. Diferente das medidas anteriores, que priorizavam o consumo, a iniciativa sinaliza um foco maior em inovação, trazendo um viés distinto para a expectativa em torno da economia chinesa”, aponta Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos.

Dólar

O dólar apresentou alta firme nesta quarta-feira, 24, em sintonia com a onda global de valorização da moeda norte-americana. Investidores ajustaram posições em meio à moderação das apostas em corte de juros mais agressivo nos EUA, após falas cautelosas de dirigentes do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano).

Com máxima de R$ 5,3310, à tarde, o dólar à vista fechou a sessão em alta de 0,91%, a R$ 5,3274. O real, que lidera os ganhos entre divisas latino-americanas no ano, nesta quarta apresentou desempenho pior que seus pares regionais.

Operadores afirmam que o ambiente externo negativo para divisas emergentes abriu espaço para ajustes e realização de lucros no mercado local. Nesta quarta, o dólar caiu 1,11% e fechou na casa de R$ 5,27, na esteira do otimismo com uma possível redução das tensões entre Brasil e EUA.

Em fala na Assembleia Geral da ONU, o presidente americano, Donald Trump, elogiou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com quem disse ter tido uma “química excelente” em encontro de poucos segundo nos bastidores, e disse que os dois devem se encontrar na próxima semana.

“Vemos hoje um movimento global de valorização do dólar. O real já se valorizou muito e teve uma queda mais forte do dólar aqui ontem com a questão da ONU. Havia espaço para uma correção”, afirma o economista-chefe da Análise Econômica, André Galhardo.

O economista pondera, contudo, que além de questões técnicas, há um desconforto com o quadro fiscal doméstico que pode ter levado a um escorregão mais forte do real. Ele cita números abaixo do esperado da arrecadação de agosto, divulgados na terça, e fala do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, a favor do aumento de impostos e da isenção do Imposto de Renda para salários até R$ 5 mil em audiência nesta quarta na Câmara dos Deputados.

“Haddad reforçou a visão de que o governo vai continuar a se amparar no aumento da receita para cumprir as metas, inclusive no ano que vem, em vez de olhar as despesas, como deveria ser. Essa postura do governo ao lado da perda de arrecadação traz dúvidas sobre as contas públicas em 2026”, afirma Galhardo.

Reunião da comissão mista da Medida Provisória 1.303, que traz alternativas ao aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) foi suspensa nesta quarta à tarde. A votação do relatório do deputado Carlos Zarattini (PT-SP) deve ser no próximo dia 30. O texto estabelece a taxação de 7,5% de IR sobre o rendimento de Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs) e Letras de Crédito Imobiliário (LCIs). A MP tem arrecadação projetada de R$ 10,5 bilhões em 2025 e de R$ 21,8 bilhões em 2026.

No exterior, o índice DXY – que mede o comportamento do dólar em relação a uma cesta de seis moedas fortes – chegou a se aproximar dos 98,000 pontos, com máxima aos 97,921 pontos. No fim da tarde, rondava os 97,860 pontos, em alta de cerca de 0,60%. As taxas dos Treasuries subiram em bloco, com máximas à tarde, o que pressionou divisas emergentes.

Operadores afirmam que o mercado ainda ecoa discurso da terça do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, com alertas para riscos inflacionários, a despeito da deterioração do mercado de trabalho. Powell reiterou que, apesar do corte de 25 pontos-base nos juros na semana passada, a política monetária não está em uma trajetória predeterminada.

Em entrevista à Fox News nesta quarta, o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Scott Bessent, disse nesta quarta que Powell deveria ter sinalizado um corte acumulado de 100 a 150 pontos-base para as próximas reuniões do Fed de 2025 e 2026.

“Não sei por que ele moderou o discurso sobre corte de juros ontem”, disse Bessent, acrescentando que encerrará até a primeira semana de outubro a primeira rodada de entrevistas para a substituição de Powell, cujo mandato vai até maio de 2026.

Em um dia de agenda enxuta de indicadores, Galhardo, da Análise Econômica, chama a atenção para dados mais fortes do que o esperado do setor imobiliário nos EUA, que “contrastam com a desaceleração do mercado de trabalho” e lançam dúvidas sobre a velocidade da perda de fôlego do dólar.

Pela manhã, o Departamento do Comércio americano informou que as vendas de moradias novas nos EUA subiram 20,5% em agosto em relação a julho, para o ritmo anual (com ajuste sazonal) de 800 mil unidades, enquanto a previsão dos analistas era de alta de 0,3%.

“Além de dados de vendas de casas novas, o volume de estoque de petróleo bruto e de gasolina caíram além do esperado, o que mostra a resiliência da economia americana e trazem dúvidas sobre o comportamento do Fed até o fim do ano”, afirma Galhardo

Juros

Os juros futuros mostraram elevação contida no pregão desta quarta-feira, após a euforia de ontem gerada pela aproximação entre os presidentes Lula e Donald Trump. Segundo agentes de mercado, mesmo sem novidades sobre um futuro encontro dos dois líderes, a reverberação do otimismo sobre a possível agenda pode ter contribuído para amenizar as pressões do ambiente externo e da alta do dólar sobre a curva local.

Enquanto por aqui a agenda de indicadores foi esvaziada, o que conferiu baixa liquidez aos negócios, declarações mais cautelosas de dirigentes do Federal Reserve (Fed) sobre os próximos passos da política monetária elevaram os rendimentos dos Treasuries. A curva de juros americana também abriu em resposta a dados mais fortes de vendas de moradias novas nos EUA e a novas críticas de autoridades do governo Trump ao presidente do Fed, Jerome Powell.

No fechamento, a taxa de contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2027 avançou de 13,98% no ajuste de terça-feira para 14,010%. O DI para janeiro de 2028 passou de 12,231% no ajuste da véspera a 13,270%. O DI para janeiro de 2029 aumentou de 13,134% no ajuste anterior para 13,175%. O DI para janeiro de 2031 marcou 13,350%, vindo de 13,325% no ajuste precedente.

Por volta das 17h, a taxa da T-note de 10 anos subia a 4,145%, e o juro do T-bond de 30 anos avançava a 4,757%. Nesta quarta, o secretário do Tesouro americano, Scott Bessent, criticou novamente Powell – que, segundo ele, deveria ter sinalizado um corte mais agressivo durante discurso ontem, de 100 a 150 pontos-base para as reuniões de 2025 e 2026. Do lado dos dados, as vendas de moradias novas, divulgadas nesta quarta, aumentaram 20,5% entre julho e agosto, bastante acima da previsão de 0,3% de analistas ouvidos pela FactSet.

“O dia pareceu morno, mas os mercados de juros e de moedas tomaram ‘um sacode’ lá fora. Me parece que as novidades de ontem referentes a Lula e Trump deram uma segurada na alta dos juros futuros por aqui”, afirmou Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura Investimentos.

Para Vitor Oliveira, sócio da One Investimentos, a elevação dos DIs hoje foi moderada, tendo em vista a correção mais firme dos Treasuries na sessão e a ausência de condutores mais relevantes para os negócios na agenda doméstica. A tendência é que, até o segundo trimestre de 2026, a curva local tenha menor correlação com a curva americana, devido à sinalização do Comitê de Política Monetária (Copom) de Selic estacionada por mais tempo em 15% e, nos EUA, à perspectiva de corte adicional de 75 pontos-base nos Fed Funds, diz Oliveira.

Em um pregão fraco também no noticiário local, as taxas tendem a convergir para a média histórica e, por isso, a curva de juros registrou abertura modesta hoje, mesmo na parte mais longa, a despeito da ascensão mais forte dos Treasuries, avalia Oliveira. “O mercado está aguardando próximas variáveis no âmbito doméstico, principalmente do lado político. Hoje foi um dia de correção”.

Para o sócio da One Investimentos, a expectativa positiva em torno de um futuro encontro entre Lula e Trump, mesmo que ainda não haja uma data concreta para a conversa, pode ter contribuído para moderar a alta dos DIs hoje, em meio à alta de quase 1% do dólar na sessão e a pautas do Congresso que ampliam os gastos do governo. A Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado aprovou hoje, por 20 votos unânimes, o texto alternativo que isenta do Imposto de Renda salários de até R$ 5 mil.

Estadão Conteúdo

    Você também pode gostar

    Assine nossa newsletter e
    mantenha-se bem informado