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Economia

Em almoço com banqueiros, Haddad diz que pode discutir novos cortes se necessário

As declarações foram feitas em almoço anual promovido pela Febraban (Federação Brasileira de Bancos), nesta sexta-feira (29). O evento reúne os CEOs e as principais lideranças da indústria bancária do país

Redação Jornal de Brasília

29/11/2024 14h21

Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil

ALEXA SALOMÃO, ANA PAULA BRANCO E JÚLIA MOURA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

Não vamos conseguir fazer tudo que precisa ser feito numa bala de prata. Esse conjunto de medidas não é o ‘gran finale’ de tudo que precisa fazer”, afirmou o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sobre o pacote do governo federal para o corte de gastos, anunciado neste semana e mal recebido pelo mercado.

Segundo ele, daqui a três meses pode estar discutindo o pacote de corte se for necessário. “Se tiver algum problema, vamos voltar para a planilha, para o Congresso, para o presidente Lula.”

As declarações foram feitas em almoço anual promovido pela Febraban (Federação Brasileira de Bancos), nesta sexta-feira (29). O evento reúne os CEOs e as principais lideranças da indústria bancária do país.

Além de Haddad, falou no almoço o diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, que em janeiro assumirá a presidência da autoridade monetária. Estavam presentes as ministras do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet; da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos, Esther Dweck,

O ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, teve o voo cancelado e enviou um representante da pasta.

O ministro da Fazenda sentou-se entre o presidente do BTG Pactual, André Esteves, e o CEO do Itaú, Milton Maluhy, do Itaú. À sua frente, estava o presidente do conselho do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco. O clima era de descontração.

Durante sabatina conduzida pelo presidente da Febraban, Isaac Sidney, e João Borges, diretor de Comunicação da entidade, Haddad repetiu que o governo atual está “pagando até hoje gastos que foram herdados de governo passado”.

Também procurou reduzir as preocupações do mercado com a proposta de isenção de IR para quem ganha até R$ 5.000. “Quem decidirá a isenção é o Congresso”, afirmou. Pouco antes, os presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco, e da Câmara, Arthur Lira, divulgaram mensagens dizendo que a medida só será apreciada no próximo ano e só será aprovada se não houver impacto para as contas públicas.

Haddad foi em linha com Pacheco e disse que há um acordo que a reforma da renda ocorra com um pressuposto: ele não será votado sem neutralidade tributária, ou seja, sem que novas receitas compensem a perda de arrecadação.

O ministro afirmou ter uma boa relação com pessoas do mercado financeiro, mas relembrou que as projeções financeiras erraram o crescimento do PIB e o resultado fiscal do governo.

“Só não vamos ter déficit zero porque não consegui aprovar tudo o que eu queria”, citando, entre outras medidas, o fim do Perse, programa de redução de tributos criado durante a pandemia para aliviar perdas de empresas principalmente do setor de eventos e entretenimento.

Durante a conversa, o ministro disse que cálculos de alguns analistas que prevêem uma economia menor que a projetada pelo governo estão equivocados e que a economia do Brasil está bem: citou recorde da indústria automobilística, crescimento da concessão de crédito e do PIB (Produto Interno Bruto).

“Se o governo estivesse se descuidando do fiscal, não haveria bloqueio de R$ 20 bilhões”, afirmou.

Haddad disse que o alinhamento com o Congresso “não poderia ser melhor” e reforçou a possibilidade de abrir o semestre legislativo do próximo ano com medidas corretivas.

O presidente da Febraban lembrou ao ministro que, se a isenção de IR foi uma promessa de campanha, o governo Lula também prometeu contas públicas equilibradas. “Para qual lado o presidente Lula irá pender?”, questionou.

Em resposta, o ministro -que afirmou ter uma relação com o presidente Lula “mais informal do que deveria ser”- voltou a dizer que o mandatário entende que o ajuste fiscal é importante.

Apesar de sinalizar a possibilidade de ampliar o pacote, o ministro não detalhou eventuais medidas quando o presidente da Febraban perguntou o “que estava na caixa de ferramentas” do governo.

Após semanas de expectativa pelo anúncio, a proposta final do governo federal decepcionou o mercado financeiro, que esperava medidas de maior impacto fiscal e viu o anúncio como populista a inclusão neste momento a elevação para até R$ 5.000 a faixa de isenção de IR (Imposto de Renda), tendo como fonte a taxação de quem tem renda superior a R$ 50 mil mensais.

A reação negativa levou o dólar a superar pela primeira vez na história a barreira nominal de R$ 6. A moeda americana recuou após as mensagens de Pacheco e Lira.

O pacote federal prevê uma economia de R$ 71,9 bilhões em 2025 e 2026 e economia de R$ 327 bi até 2030.

O corte inclui ainda o salário mínimo, o teto do funcionalismo público e medidas para a Previdência de militares, com a instituição de idade mínima para a ida para a reserva e a limitação de transferência de pensões. A idade de aposentadoria deve ser fixada em 55 anos, e o governo deve colocar fim ao pagamento de pensão para familiares de militares expulsos das Forças, os chamados “mortos fictícios”, que custam só para o Exército cerca de R$ 20 milhões por mês.

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