São Paulo, 17 – O dólar apresentou alta firme nesta abertura da semana e voltou a fechar acima de R$ 5,30 pela primeira vez após quatro sessões. O dia foi marcado por aversão ao risco no exterior, com tombo das bolsas em Nova York, em meio a preocupações com uma eventual bolha em ações de big techs, e valorização global da moeda americana.
Investidores adotaram uma postura cautelosa à espera da divulgação nos próximos dias de indicadores nos EUA, em especial de emprego, que ficaram represados pelo “apagão de dados” provocado pelo shutdown de 43 dias. A avaliação é a de que os dados podem reforçar a perspectiva de interrupção do alívio monetário pelo Federal Reserve.
Operadores afirmam que o ambiente externo abriu espaço para ajustes e movimentos de realização de lucros no mercado local, após a onda recente de apreciação do real que levou o dólar aos menores níveis desde o início de junho de 2024. Além disso, há a expectativa de aumento das remessas ao exterior nas próximas semanas. Pela manhã, o Banco Central colocou a oferta integral de US$ 1,25 bilhão em leilão de linha para rolar o vencimento de 2 de dezembro.
Com máxima a R$ 5,3330 na reta final dos negócios, em sintonia com a piora do ambiente externo, o dólar à vista encerrou a sessão desta segunda-feira, 17, em alta de 0,64%, a R$ 5,3310 – maior valor de fechamento em 10 dias. A moeda acumula queda de 0,92% em novembro, após ter subido 1,08% em outubro. No ano, as perdas são de 13,74%.
Para o economista-chefe da Frente Corretora, Fabrizio Velloni, investidores parecem pouco dispostos a assumir riscos diante da expectativa pela divulgação de indicadores dos EUA, em especial o relatório de emprego (payroll) de setembro, na quinta-feira, 20, quando o mercado local estará fechado em razão do feriado do Dia da Consciência Negra.
“O atraso na divulgação dos dados é grande, o que acaba deixando o mercado bastante reticente, sem grandes alterações de posições É preciso ver o que os números vão revelar até para ver se pode haver espaço para mais cortes de juros pelo Federal Reserve”, afirma Velloni.
Na quarta-feira, 19, o Fed divulga a ata do encontro de política monetária do fim de outubro, quando a taxa básica de juros foi reduzida em 25 pontos-base. Na ocasião, o presidente do BC americano, Jerome Powell, alertou que uma redução dos juros em dezembro não está garantida. De lá para cá, dirigentes do Fed exprimiram opiniões divergentes, com parte advogando pela interrupção do processo de alívio monetário.
Vice-presidente do Fed, Philip Jefferson disse que a economia dos EUA perdeu força no trimestre por causa da paralisação do governo, mas que os efeitos do shutdown devem ser “majoritariamente temporários”. Jefferson, que apoiou o corte de 25 pontos-base em outubro, disse que a política monetária permanece restritiva, mas já próxima de seu nível neutro.
Economistas do BTG Pactual ressaltam que os dirigentes Fed adotaram um tom “amplamente hawish” na semana passada, reforçando a postura cautelosa da política monetária diante do nível muito elevado de incerteza em razão da ausência de indicadores durante o shutdown.
Termômetro do comportamento do dólar em relação a uma cesta de seis moedas fortes, o índice DXY subia cerca de 0,25% no fim da tarde, ao redor do 99,560 pontos, perto das máximas. O iene perdeu mais de 0,40% após a queda do PIB japonês registrar no terceiro trimestre a primeira contração em seis trimestres. Em novembro, o Dollar Index recua 0,xx.
Entre divisas latino-americanas pares do real, o peso chileno apresentou leves ganhos com a expectativa de que o candidato conservador José Antonio Kast, que ficou em segundo lugar no primeiro turno da eleição presidencial, possa vencer o pleito em segundo turno e adotar política fiscal mais ortodoxa.
O sócio-diretor da Wagner Investimentos José Faria Júnior pondera que o comportamento do real recentemente está mais atrelado à evolução de moedas da Austrália, Colômbia, México e China. “Se estas seguirem se valorizando contra o dólar, o real deverá seguir o mesmo caminho. Na semana passada, essas divisas fecharam no maior patamar contra o dólar no ano”, afirma Faria Junior.
Bolsa
Em sessão com poucos catalisadores domésticos para os negócios, o Ibovespa se manteve colado à estabilidade na maior parte do dia, em torno de 157,5 mil pontos, sem força para buscar os 158 mil pontos tampouco inclinado, a princípio, a uma realização de lucros substantiva após a recente série de recordes.
Ao fim, acentuando as perdas em linha com piora em Nova York, no câmbio e na curva do DI, o índice da B3 marcava 156.992,93 pontos, em baixa de 0,47%, com enfraquecimento nos carros-chefes Vale (ON -0,46%) e, em menor medida, de Petrobras (ON +0,26%, PN +0,55%), que mais cedo contribuíam para mantê-lo perto da estabilidade. Acabou por prevalecer o sinal do setor financeiro, o de maior peso no Ibovespa, com perdas entre 0,64% (Itaú PN) e 1,18% (Bradesco PN), à exceção de Banco do Brasil ON, que virou perto do fechamento e subiu 0,36%. Em Nova York, as retrações, hoje, foram de 1,27% (Dow Jones), 1,07% (S&P 500) e 1,06% (Nasdaq).
No mês, o Ibovespa ainda acumula ganho de 4,98%, que coloca o avanço do ano a 30,52%. Hoje, o índice oscilou entre mínima de 156.567,61 e máxima de 157.900,51, saindo de abertura aos 157 741,73 pontos. O giro financeiro foi a R$ 26,8 bilhões na sessão, em que prevaleceu a cautela dos investidores – em começo de semana que reserva dados, atrasados pelo shutdown, sobre o mercado de trabalho nos Estados Unidos referentes ainda a setembro, na quinta-feira, quando a B3 estará fechada em razão do feriado pelo Dia da Consciência Negra.
Na ponta ganhadora do Ibovespa nesta segunda-feira, 17, MBRF (+4,92%), CVC (+3,31%) e Assaí (+2,63%). No lado oposto, Rumo (-9,08%) após a empresa reportar queda de 39,2% no lucro líquido do terceiro trimestre (não ajustado), à frente na sessão de Vamos (-6,67%) e de Magazine Luiza (-4,80%).
Entre as blue chips, Vale e Petrobras, no campo positivo até quase o fim da tarde, eram essenciais para que o Ibovespa evitasse uma correção maior nesta abertura de semana, em função dos números bem recebidos pelo mercado apresentados por ambas as empresas recentemente, aponta Felipe Cima, analista da Manchester Investimentos.
“A Vale surpreendeu positivamente com o custo de caixa e o Ebitda, e com a sinalização de possíveis dividendos extraordinários. A Petrobras teve recorde de produção e um dividendo um pouco acima das estimativas dos analistas, principalmente com um Ebitda um pouco maior”, diz o analista da Manchester.
Em dia levemente negativo para os preços do Brent e do WTI em Londres e Nova York, as ações de Petrobras contaram também, na sessão, com o anúncio, pela estatal, da descoberta de petróleo no pós-sal da Bacia de Campos, o que ajudou a segurar o Ibovespa, mais cedo, nesta segunda-feira.
Encerrada a temporada de resultados do terceiro trimestre, as atenções se voltam para o quadro macro, no Brasil como também no exterior. “Na última semana, houve uma inversão na precificação e na percepção do mercado sobre um possível corte de juros na reunião de dezembro do Fed, nos EUA. Declarações de membros do Federal Reserve, em tom mais hawkish duro, aumentaram o pessimismo quanto à continuidade do afrouxamento da política monetária”, aponta em relatório a One Investimentos.
A casa acrescenta que, mesmo com defasagem, a leitura do payroll de setembro será “extremamente importante” para orientar os membros do FOMC o comitê que delibera sobre juros nos EUA quanto às condições do mercado de trabalho e aos próximos passos da política monetária.
“Semana começou com uma aversão a risco maior, desde o exterior, com questionamentos ainda em torno do setor de tecnologia nos Estados Unidos, o que coloca o Ibovespa, agora, um pouco mais alinhado ao que se vê lá fora, após o descolamento recente”, diz Matheus Spiess, analista da Empiricus Research, acrescentando que o IBC-Br, divulgado pela manhã, confirmou também a visão de atividade econômica se enfraquecendo no Brasil.
Para Luise Coutinho, head de produtos e alocação da HCI Advisors, o mercado ponderou duas informações macro na sessão, uma favorável e outra nem tanto: uma inflação mais controlada, na perspectiva do boletim semanal Focus, e a atividade econômica mais fraca, pelo IBC-Br, considerado um indicador antecedente para o PIB calculado pelo Banco Central. “A expectativa para o IPCA de 2025 passou de 4,55% para 4,46%, ficando pela primeira vez abaixo do teto da meta do Banco Central, que é de 4,50%”, diz.
Já o IBC-Br mostrou uma queda de 0,24% na atividade econômica no mês de setembro em comparação a agosto, com ajuste sazonal. “O resultado, pior do que o esperado, reforça os sinais de desaceleração da economia e reaviva no mercado a esperança de que o Banco Central pode começar a cortar a Selic no primeiro trimestre de 2026”, acrescenta Luise.
Juros
A alta dos juros futuros observada até o início da tarde ganhou impulso na segunda etapa do pregão desta segunda-feira, 17, em sintonia com a apreciação mais acentuada do dólar contra uma série de moedas. Máximas intradiárias foram renovadas ao longo de toda a extensão da curva, com maior fôlego a partir dos trechos intermediários, logo após a moeda americana ter se aproximado do patamar de R$ 5,32, por volta das 15h30.
Segundo agentes, a dinâmica de piora dos DIs foi ditada pelo aumento da aversão ao risco no ambiente externo. Investidores estão apreensivos devido à divulgação esta semana de dados importantes da economia americana suspensos durante o shutdown – com destaque para o payroll de setembro, a ser conhecido nesta quinta-feira. O principal relatório de emprego dos Estados Unidos pode dar maior clareza sobre a decisão do Federal Reserve (Fed) em dezembro, para o qual o mercado vem diminuindo continuamente as apostas de corte de juros.
Com as atenções voltadas para as incertezas causadas pelo fim da paralisação do governo dos EUA e consequente retomada das estatísticas econômicas, a contração maior que a prevista da atividade em setembro por aqui ficou em segundo plano, assim como o boletim Focus.
Encerrados os negócios, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2027 subiu de 13,614% no ajuste de sexta-feira para máxima intradia de 13,665%. O DI para janeiro de 2029 avançou de 12,826% no ajuste anterior a 12,92%. O DI para janeiro de 2031 ficou em 13,24%, vindo de 13,167% no ajuste.
No mesmo horário, o juro da T-Note de dois anos aumentava a 3,606%, influenciado pelo esfriamento das perspectivas de afrouxamento adicional da política monetária americana na última reunião do ano. Pela ferramenta de monitoramento da CME Group, a chance de uma redução em dezembro está abaixo de 40%, de 62,4% há uma semana.
Gestor de portfólio da Connex Capital, Gean Lima afirma que o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), que frustrou as expectativas ao recuar 0,24% entre agosto e setembro, feitos os ajustes sazonais, poderia ser uma boa notícia para o início do ciclo de cortes da Selic no Brasil. A mediana do Projeções Broadcast apontava queda de 0,1% de para a proxy mensal do Produto Interno Bruto (PIB) do BC no período.
O número, que reforçou a percepção de desaquecimento da atividade, no entanto, foi ofuscado pela expectativa dos agentes em torno dos dados econômicos americanos, disse Lima. Além do relatório de emprego, que virá a público em um dia de feriado no Brasil, o gestor destaca que a ata da última reunião do Fed será conhecida nesta quarta-feira.
“Nela vamos ver maior clareza sobre a divisão entre os membros do Fed. Na quinta, quando sai o payroll, o mercado aqui estará fechado e, no próximo dia 26, teremos o PCE Índice de Preços para Despesas com Consumo Pessoal”, aponta Lima. “Essa agenda de dados nos EUA criou um receio no mercado, o que pegou no dólar e acabou pegando os DIs também”, comentou. “Sem esses fatores externos, o DI poderia ter caído um pouco hoje com o IBC-Br”, avalia.
Após o número de atividade do BC referente a setembro, o UBS BB manteve a projeção de que o PIB brasileiro terá retração de 0,2% entre o segundo e o terceiro trimestres, na comparação dessazonalizada. Na média do segundo semestre, o crescimento econômico deve ficar perto de zero, estima o banco, que prevê expansão de 1,8% para o PIB em 2025, e de 1,5% em 2026.
Sem efeito sobre a curva de juros futuros na sessão, o boletim Focus não trouxe mudanças nas expectativas de horizontes mais longos para a inflação. A projeção para a alta do IPCA em 2025 ficou pela primeira vez dentro do intervalo da banda da meta, ao ceder para 4,46%, de 4,55% na semana anterior. O consenso para 2026 (4,20%), 2027 (3,80%) e 2028 (3,50%) foi mantido.
Estadão Conteúdo