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Economia

Dólar sobe 0,71% e se aproxima de R$ 4,95 com China e espera por Fed

Operadores observam que, após a queda das últimas sessões, havia espaço para ajustes e movimentos de realização de lucros

Redação Jornal de Brasília

29/01/2024 19h01

Dólar

Foto: Reprodução/ Flickr

Após quatro pregões consecutivos de queda, em que acumulou desvalorização de 1,53%, o dólar subiu com força nesta abertura da semana e ameaçou romper o teto de R$ 4,95 no fechamento desta segunda-feira, 29. Embora haja desconforto com o quadro fiscal doméstico, com certo ruído nas negociações entre Congresso e governo em torno da pauta econômica, o tropeço do real foi atribuído ao ambiente externo.

Temores com o setor imobiliário na China, com a liquidação judicial da incorporadora Evergrande, e o clima de cautela à espera do comunicado da decisão do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) na quarta-feira abalaram as moedas latino-americanas. O peso chileno apresentou o pior desempenho, com perda de mais de 1%, na expectativa de que o Banco Central do Chile anuncie, também na quarta, uma redução de 1 ponto porcentual na taxa básica do país. Por aqui, é quase unânime a aposta de que o Banco Central vai cortar a Selic em 0,50 ponto porcentual, para 11,25% ao ano.

Afora uma queda pequena e bem pontual pela manhã, o dólar operou em terreno positivo ao longo do dia. As máximas vieram à tarde, quando atingiu R$ 4,9580, em sintonia com a deterioração do Ibovespa, muito prejudicado pelo tombo das ações da Vale. No fim do dia, a moeda era negociada a R$ 4,9459, avanço de 0,71%, passando a acumular valorização de 2% em janeiro.

Operadores observam que, após a queda das últimas sessões, havia espaço para ajustes e movimentos de realização de lucros. Parte das tesourarias já teria dado início a rolagem de posições em dólar futuro para a virada do mês

“As moedas emergentes recuaram. Pode ser em função desse movimento de China, com todas as commodities caindo. Isso atrapalhou também o Brasil”, afirma o head da Tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt, acrescentando que esta semana deve ser dominada pelas expectativas – e os desdobramentos – do comunicado que acompanhará a decisão do Banco Central americano. “O Fed não vai mexer, mas vamos ver o comunicado para saber se vão cortar mais cedo ou se vai ficar mais para o meio do ano.”

À tarde, da Secretaria de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) informou que a balança comercial brasileira registrou superávit comercial de US$ 2,026 bilhão na 4ª semana de janeiro (dias 22 a 28). No mês, o superávit acumulado é de US$ 6,433 bilhões.

Para o Banco suíço Lombard Odier, o real figura como uma das melhores moedas para operações de carry trade. O banco argumenta que, embora as taxas de juros reais tenham encolhido cerca de 200 pontos-base, para 8%, “ainda são altas em termos histórias”. E o real deve se manter firme mesmo que o Banco Central continue a manter o ritmo de cortes da taxa Selic em 0,50 ponto porcentual por reunião.

O Lombard Odier observa que a taxa de câmbio tem se mantido estável ao redor de R$ 4,90 desde novembro do ano passado, após ter atingido pico de R$ 5,20 no terceiro trimestre de 2023.

“Embora uma apreciação futura parece mais difícil, acreditamos que o real é estável o suficiente para ser um dos melhores candidatos ao carry”, afirma o banco suíço, que ainda vê a moeda brasileira depreciada e mantém preço justo de R$ 4,50. “A balança comercial do país apresenta os maiores níveis em várias décadas, sugerindo uma fonte mais estável de demanda pela moeda ”

Bolsa

Após duas sessões de recuperação moderada – a única sequência positiva desta segunda quinzena de janeiro -, o Ibovespa volta a ceder terreno neste início de semana de decisões sobre juros no Brasil e nos Estados Unidos. Faltando ainda a terça e quarta-feira para o fechamento do mês – em que acumula, até aqui, perda de 4,23% -, o índice caiu 0,36% nesta segunda-feira, a 128.502,66 pontos, com máxima a 129.068,28, saindo de abertura aos 128.969,74 pontos. Fraco, o giro foi de R$ 15,8 bilhões.

Com Vale (ON -0,47%) e os grandes bancos (Itaú PN -0,52%, Bradesco PN -0,90%) em contraponto a ganhos em Petrobras (ON +0,95%, PN +1,53%), o Ibovespa chegou a ceder os 128 mil pontos, atingindo 127.852,82 na mínima do dia. Mas limitou as perdas em direção ao fechamento, acompanhando os respectivos movimentos dessas blue chips – com melhora em Petrobras e redução do ajuste negativo especialmente em Vale -, e em encerramento de sessão muito positivo em Nova York, com Nasdaq (+1,12%) à frente.

Na ponta perdedora da carteira teórica, mais uma vez Gol, que nesta segunda tombou 33,61% – em meio ao processo de reestruturação a que deu entrada nos Estados Unidos, e com a divulgação, nesta segunda, de que o endividamento da empresa ficou acima de R$ 20 bilhões em dezembro de 2023. Assim, a queda da ação foi bem superior a de Casas Bahia (-4,71%) e de Suzano (-3,99%) – esta com o rebaixamento de recomendação pelo Morgan Stanley, para underweight, e preço-alvo reduzido de R$ 60 para R$ 47. No lado oposto do Ibovespa na sessão, Assaí (+4,78%), Hypera (+2,80%) e Raízen (+1,87%)

“A semana começa com gosto amargo, mas tem muita coisa ainda para acontecer, com decisões de política monetária, aqui e fora na quarta, Copom e Fed; na quinta, Banco da Inglaterra. É natural a volatilidade e aversão a risco nesse início de semana”, diz Matheus Spiess, analista da Empiricus Research, enfatizando o rombo fiscal de 2023, anunciado nesta segunda-feira pelo Tesouro, que chega em momento no qual ainda pairam dúvidas sobre o grau de descumprimento da meta de déficit zero para 2024.

Assim, a curva de juros doméstica, em alta, andou na contramão dos rendimentos dos Treasuries nesta segunda, observa Letícia Cosenza, sócia e especialista da Blue3 Investimentos. “Sem contar com catalisadores que o empurrassem em outra direção, o Ibovespa chegou a perder mil pontos na mínima ante a abertura do dia, diz.

“Alguma menção deve surgir no comunicado do Copom desta semana, do lado interno, com olhar especial ao fiscal após essa divulgação de números ruins: déficit de mais de R$ 230 bilhões em 2023. Se o Executivo não apresentar propostas robustas, e negociar com o Legislativo a aprovação das mesmas, podemos ver deterioração rápida das expectativas e estresse na curva de DI nas próximas semanas. Isso poderia pressionar o Banco Central nas futuras reuniões do Copom”, aponta Leandro Petrokas, diretor de research e sócio da Quantzed.

Entre os segmentos da B3, Spiess, da Empiricus, destaca em especial a queda do setor metálico nesta segunda-feira. “No caso dessa cobrança de outorgas da Vale pelo governo, parece haver um certo revanchismo, o que se acresce às preocupações sobre o setor imobiliário chinês, que afeta o segmento metálico como um todo”, acrescenta o analista. Nesta segunda-feira, além de Vale, o dia foi negativo para outros nomes do segmento, com Gerdau (PN -2,20%) à frente.

O governo federal cobra R$ 25,7 bilhões da mineradora por renovação de concessões ferroviárias durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro – dias depois de o Planalto ter feito um recuo tático quanto à indicação do ex-ministro da Fazenda Guido Mantega para a presidência executiva ou, ao menos, o conselho de administração da mineradora. Em outro desdobramento negativo, a Justiça de Hong Kong determinou a liquidação da gigante chinesa do setor imobiliário Evergrande, o que pressionou o setor de mineração e de siderurgia nesta abertura de semana.

Segue no radar dos investidores, também, a divulgação do relatório de produção da Vale, com a ação da mineradora se aproximando de fim do mês em que acumula perda de 10,4%. “Muitas questões têm atrapalhado o desempenho da ação de maior peso no Ibovespa, como a sucessão de comando na Vale, nos últimos dias. Por outro lado, Petrobras tem ajudado, e hoje impediu que o Ibovespa caísse, com a recente recuperação de preços do barril – apesar de correção pontual vista hoje nas cotações da commodity”, diz Spiess.

Taxas de juros

Os juros futuros fecharam a segunda-feira em alta, em realização de lucros estimulada pela cautela com a agenda pesada de indicadores e eventos da semana, pela piora do câmbio e pelo desconforto com a área fiscal. A curva dos contratos de Depósito Interfinanceiro (DI) havia devolvido prêmios na semana passada, o que deixou espaço para alguma recomposição num dia de noticiário sem destaques.

As taxas locais operaram com sinal contrário ao de baixa dos rendimentos dos Treasuries, que recuaram pela menor disposição dos investidores ao risco antes das reuniões dos bancos centrais e relatório do Tesouro americano indicando estimativa de menor necessidade de empréstimos no primeiro trimestre.

A taxa do DI para janeiro de 2025, contudo, conseguiu manter-se abaixo dos dois dígitos, encerrando em 9,75%, de 9,948% no ajuste de sexta-feira. A do DI para janeiro de 2026 subiu de 9,61% para 9,66%. O DI para janeiro de 2027 terminou com taxa de 9,83% (de 9,78%) e o DI para janeiro de 2029, com taxa de 10,28% (de 10,22%).

Ainda que tenham vindo alinhados à mediana das estimativas, os números do Governo Central relativos ao fim do ano passado reforçaram a ideia de que a meta de primário zero para 2024 é pouco viável, num cenário de dificuldade para a obtenção de receitas.

O déficit de R$ 116,1 bilhões em dezembro veio em linha com o consenso (R$ 116,7 bilhões), mas foi o pior desempenho em termos reais para o mês na série histórica iniciada em 1997. O governo fechou 2023 com saldo negativo de R$ 230,5 bilhões, ou seja déficit de 2,1% do PIB, após superávit de R$ 54,1 bilhões (0,5% do PIB), em 2022.

O objetivo da Fazenda era um déficit de 1% do PIB em 2023. Segundo o secretário do Tesouro, Rogério Ceron, o primário teria se aproximado deste alvo, ficando em 1,08%, descontados os fatores extraordinários, como o pagamento dos precatórios (R$ 92,4 bilhões) e transferência compensações aos estados relativas a perdas de ICMS (R$ 7,5 bilhões).

Mas a incidência de fatores não recorrentes não serve de alívio para as preocupações com o quadro à frente. “Olhando para o futuro, acreditamos que as medidas recém-aprovadas para aumentar as receitas devem ter um efeito positivo, mas não o suficiente para atingir a meta de déficit zero”, avalia Tiago Sbardelotto, economista da XP. “Além disso, ainda vemos pressão proveniente de gastos relacionados a previdência e assistência social, o que poderia exigir algum bloqueio nas despesas discricionárias”, complementa. A previsão da XP é de déficit primário de 0,6% em 2024.

“Uma alteração da meta parece inevitável. A previsão de déficit zero dever dar lugar a estimativas mais factíveis em 2024”, afirma Victor Beyruti, economista da Guide Investimentos, para quem a mudança deverá ser anunciada em março, após a divulgação do relatório bimestral de despesas e receitas.

Ele atribui à preocupação fiscal apenas parte do movimento desta segunda-feira nos DIs, que refletiram ainda o câmbio e ajuste de posições antes dos eventos da semana. Na quarta-feira, haverá decisões de política monetária do Federal Reserve e do Copom e na quinta, do Banco da Inglaterra. O mercado não conta com mudanças nas taxas nesta semana nem por parte do Copom nem por parte do Fed.

No exterior, os juros dos Treasuries cederam, com ajustes de posição de risco antes do desfecho do encontro do Fed e dos dados da semana, como o payroll na sexta-feira. Os yields renovaram mínimas no fim da tarde. A taxa da T-Note de dez anos caiu à casa de 4,07%, após o Tesouro dos EUA divulgar relatório informando que espera tomar US$ 760 bilhões em dívidas no mercado no primeiro trimestre, em estimativa menor do que projetado anteriormente.

Estadão Conteúdo

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