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Economia

Dólar fecha em leve queda com mercado atento ao tom do BC dos EUA

Apesar de incertezas sobre as negociações comerciais entre Estados Unidos e China, investidores mostraram apetite por ativos de risco

Redação Jornal de Brasília

15/10/2025 18h31

Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

São Paulo, 15 – O dólar encerrou a sessão desta quarta-feira, 15, em leve queda, alinhado ao comportamento da moeda americana no exterior. Apesar de incertezas sobre as negociações comerciais entre Estados Unidos e China, investidores mostraram apetite por ativos de risco, como bolsas e moedas emergentes, diante da expectativa crescente de mais cortes de juros pelo Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano).

As mínimas do dia foram registradas no fim da manhã, quando o dólar desceu até R$ 5,4338. A divisa reduziu o ritmo de baixa ao longo da tarde, com a virada das cotações do petróleo para o campo negativo. No fim do dia, o dólar à vista era cotado a R$ 5,4624, queda de 0,14%. A divisa já recua 0,75% na semana, mas ainda acumula valorização de 2,62% em outubro.

“O mercado local está acompanhando basicamente o movimento do dólar no exterior hoje, com falas dos dirigentes do Fed sobre o mercado de trabalho mais morno nos Estados Unidos”, afirma o economista-chefe da Frente Corretora, Fabrizio Velloni. “A sinalização, por enquanto, é de que o Fed vai continuar a cortar os juros, embora ainda seja preciso entender o efeito do shutdown sobre a economia.”

Indicado pelo presidente dos EUA, Donald Trump, o diretor do Fed Stephen Miran disse, em evento organizado pela CNBC, que “mais dois cortes de juros neste ano parece uma projeção realista”. Em oposição a falas recentes do presidente do Fed, Jerome Powell, Miran disse que as decisões da instituição não deveriam ser dependentes de dados, mas de projeções.

À tarde, o Livro Bege, publicação do Fed sobre as condições econômicas, mostrou que o mercado de trabalho permaneceu estável nas últimas semanas. Já os preços subiram com aumento do custo de insumos em razão das tarifas ao comércio exterior impostas pela administração Trump. As informações não promoveram alterações relevantes no comportamento do dólar.

Termômetro do comportamento do dólar em relação a uma cesta de seis divisas fortes, o Dollar Index (DXY) operava, no fim da tarde, em queda de pouco mais de 0,30%, ao redor dos 98,700 pontos, após mínima aos 98,655 pontos. Entre as moedas emergentes, destaque para o peso colombiano, com ganhos de mais de 0,70% em relação ao dólar.

O economista Rafael Prado, da GO Associados, afirma que a redução da tensão comercial entre EUA e China, com abertura do governo americano à negociação apesar de manutenção de ameaça tarifária, e o tom mais dovish do Fed levaram a uma queda global do dólar.

O secretário do Tesouro norte-americano, Scott Bessent, afirmou nesta quarta que as negociações sino-americanas continuam e que ainda espera um encontro entre o presidente Donald Trump e o líder chinês, Xi Jinping, no fim de outubro, na Coreia do Sul. Ele não descartou, contudo, a adoção de novas medidas contra a China.

O economista da GO Associados vê possibilidade de uma nova rodada de apreciação do real com a confirmação de cortes de juros pelo Fed nos próximos meses, mas alerta para eventual impacto do aumento de remessas ao exterior no fim do ano sobre a formação da taxa de câmbio.

“O quadro fiscal também fica como um ponto de atenção, com as negociações para votação de projeto de orçamento e a possibilidade de o governo soltar novas medidas para aumentar a arrecadação”, alerta Prado, ressaltando que não se pode descartar a possibilidade de eventual estresse no mercado de crédito privado, como no caso do tombo dos bonds da Raízen no fim da semana passada, respingar no real.

À tarde, o Banco Central informou que o fluxo cambial foi positivo em US$ 501 milhões em outubro (até dia 10), resultado da entrada líquida de US$ 3,279 bilhões pelo comércio exterior e de saída líquida de US$ 2,778 bilhões pelo canal financeiro. No ano, o fluxo cambial total é negativo em US$ 16,841 bilhões.

Bolsa

O Ibovespa teve um dia de ganhos moderados, relativamente acentuados ao longo da tarde desta quarta-feira, o suficiente para levá-lo a retomar em fechamento a marca dos 142 mil pontos. O firme desempenho do índice na sessão ocorreu a despeito de ajuste negativo em Petrobras (ON -1,40%, PN -0,90%), em meio à correção em andamento nos preços do petróleo, e também de Banco do Brasil (ON -1,84%), descolado da sessão em geral positiva para o setor financeiro.

As ações do BB foram pressionadas pelos sinais de que a instituição pública será chamada, com a Caixa, a dar suporte à crise aguda nos Correios, em processo de reestruturação pelo governo.

Nesse contexto, o índice da B3 oscilou dos 141.153,91 até os 142 905,10 pontos (+0,86%), entre a mínima e a máxima do dia, em que saiu de abertura aos 141.682,99. Ao fim, marcava 142.603,66 pontos, em alta de 0,65% na sessão, após ter fechado a anterior bem perto da estabilidade (-0,07%).

Com o vencimento de opções sobre o Ibovespa, o giro desta quarta-feira subiu para R$ 45,5 bilhões. Na semana, o índice da B3 avança 1,37%, com perdas no mês ainda a 2,48%. No ano, sobe 18,56%.

Na ponta ganhadora do Ibovespa, Assai (+5,98%), MRV (+4,81%) e RD Saúde (+4,54%). No lado oposto, Embraer (-2,44%), Brava (-2,24%) e Prio (-2,04%). Entre as blue chips, destaque para a alta de 1,86% em Vale ON, a principal ação do Ibovespa, na contramão de queda de 1,46% para o minério em Dalian (China), e para ganhos também na casa de 1% para Bradesco (ON +1,30%, PN +1,17%) e de 1,75% em Santander Unit.

Os contratos futuros de petróleo fecharam em queda nesta quarta-feira, enquanto as tensões entre EUA e China se estendem apesar das expectativas para o encontro entre os presidentes dos EUA, Donald Trump, e da China, Xi Jinping. Os preços da commodity também seguem pressionados por preocupações quanto a excesso de oferta. Em Londres e Nova York, as perdas do dia ficaram na casa de 0,7%.

Para João Soares, cofundador da Rio Negro Investimentos, o cenário do exterior para Brasil continua a ser favorecido pelo ajuste no câmbio – nesta quarta em leve baixa de 0,14% para o dólar, na casa de R$ 5,46 – em meio a recentes declarações de autoridades do Federal Reserve, como as do presidente Jerome Powell, consideradas suaves (dovish) pelo mercado.

Tais desdobramentos mantêm em curso o processo gradual, e global, de depreciação da moeda americana e de diversificação de investimentos em carteira para outros destinos, como os mercados emergentes, tendo em vista a perspectiva de que os juros de referência dos EUA continuarão a ser cortados pelo Fed.

Mas, acrescenta o especialista da Rio Negro, há expectativa ainda para os próximos dados sobre o mercado de trabalho e a inflação americana, que estão sofrendo atraso nas respectivas divulgações neste mês de outubro em razão do shutdown nos serviços públicos do país, ainda sem solução.

“Sem sombra de dúvida, o que tem motivado as altas na Bolsa brasileira vem muito do otimismo e da expectativa de quedas de juros nos Estados Unidos, o que resulta em atração de fluxo estrangeiro” apesar da pausa e da realização de lucros que tem prevalecido em outubro na B3, observa Leonardo Santana, sócio da Top Gain. “O mercado vem precificando mais dois cortes de juros nos EUA até o fim do ano. E isso vem sendo evidenciado, cada vez mais, em indicadores econômicos como os da ADP sobre a folha de pagamentos que, recentemente, têm mostrado um mercado de trabalho menos aquecido”, acrescenta.

Juros

Apesar dos sinais erráticos dados pelos Estados Unidos sobre o embate comercial com a China, os juros futuros intermediários e longos se consolidaram em baixa modesta no pregão desta quarta-feira, 15, embalados pela leitura de que o Federal Reserve (Fed) dará sequência ao ciclo de afrouxamento monetário em outubro.

Já os vértices mais curtos caminharam em sentido contrário, como resposta a declarações conservadoras do diretor de política monetária do Banco Central (BC), Nilton David, assim como a dados do varejo um pouco mais fortes do que o esperado em agosto

Encerrados os negócios, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2027 subiu de 13,99% no ajuste de terça-feira, 14, para 14,035%. O DI para janeiro de 2028 oscilou de 13,38% no ajuste a 13,375%. O DI para janeiro de 2029 marcou 13,305%, vindo de 13,353% no ajuste antecedente. O DI para janeiro de 2031 cedeu de 13,629% no ajuste a 13,530%.

Após ter afirmado mais cedo que as negociações entre Washington e Pequim continuam e que ainda espera um encontro entre os presidentes Donald Trump e Xi Jinping no fim de outubro, o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, pediu nesta tarde que o Banco Mundial pare de apoiar o país asiático. O ambiente segue tensionado depois de Trump ter anunciado que vai sobretaxar produtos chineses em 100% na última sexta-feira, em resposta aos controles de exportação sobre minerais críticos impostos pela China.

Estrategista-chefe da RB Investimentos, Gustavo Cruz afirma que, a despeito da imprevisibilidade de Trump, a China é o único país que tem batido de frente com a política tarifária do republicano e possui poderio econômico para resistir às ameaças dos EUA. “Estamos chegando ao final daquele período de espera, já que as tarifas teriam início em novembro, o que faz com que o tema fique mais tenso, mas é algo que não tem uma novidade”, afirma Cruz, para quem os mercados internacionais mostraram dinâmica mais positiva na sessão de forma geral, o que também se refletiu sobre o dólar e os DIs, à exceção dos trechos mais curtos.

O diretor do Fed Stephen Miran defendeu maior rapidez no processo de corte de juros nos EUA, o que reforçou expectativas de nova redução de 0,25 ponto dos Fed Funds este mês e forneceu alívio ao mercado de renda fixa local.

Ao participar de fórum do Nomura Research, Miran afirmou que espera uma forte desinflação nos preços de moradias, e que outros dirigentes da autoridade monetária americana concordam que a direção correta para os juros no momento é de baixa. Mais cedo, em outro evento, Miran disse que mais duas reduções da taxa básica ainda em 2025 parece “uma projeção realista”. “A leitura é que o BC americano vai cortar os juros agora e na reunião seguinte, o que aumenta o diferencial de juros interno e externo e ajuda a ponta mais longa da curva”, afirma o estrategista-chefe da RB.

Por aqui, a visão de que o BC não tem pressa em cortar a Selic foi endossada por falas do diretor de política monetária da instituição, Nilton David, que defendeu, em evento do Goldman Sachs, a permanência do juro básico em patamar restritivo por mais tempo, diante de um cenário de maior incerteza e desancoragem das expectativas inflacionárias.

Os agentes também monitoraram a alta de 0,9% nas vendas do varejo ampliado entre julho e agosto, feitos os ajustes sazonais, em leitura que veio acima da mediana de 0,7% apontada pelo Projeções Broadcast sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado.

Estadão Conteúdo

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