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Economia

Dólar fecha em alta de 0,40% com ajustes sobre próximos passos do Fed

A sinalização de uma postura mais cautelosa do Fed daqui para frente, após duas reduções seguidas da taxa básica americana em 25 pontos-base

Redação Jornal de Brasília

30/10/2025 18h43

Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil

Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil

São Paulo, 30 – O dólar apresentou alta firme em relação ao real nesta quinta-feira, 30, em sintonia com o comportamento da moeda americana no exterior. Investidores promoveram ajustes nas apostas em torno do tamanho do afrouxamento monetário nos Estados Unidos, após o presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell, afirmar na quarta-feira que um novo corte de juros em dezembro não está garantido.

A sinalização de uma postura mais cautelosa do Fed daqui para frente, após duas reduções seguidas da taxa básica americana em 25 pontos-base, dominou as atenções do mercado, que deixou em segundo plano o anúncio de um entendimento comercial entre Estados Unidos e China, em grande parte já esperado.

Com máxima de R$ 5,3955 e mínima de R$ 5,3700, o dólar à vista fechou em alta de 0,40%, a R$ 5,3812. Apesar disso, a divisa ainda perde 0,21% na semana. Em outubro, a moeda americana avança 1,09% em relação ao real, após recuo de 1,83% em setembro Na sexta, ocorre a tradicional disputa pela formação da última taxa Ptax do mês, o que pode exacerbar a volatilidade.

Para o gestor de fundos multimercados da AZ Quest, Eduardo Aun, as declarações de Powell na quarta, revelando divisão entre integrantes do Fed sobe eventual corte em dezembro, levou a uma “reprecificação” do alívio monetário nos EUA, o que jogou a curva de juros americana e o dólar para cima.

“Acho essa reprecificação justa. O mercado já estava dando como certo um novo corte de 25 pontos em dezembro. Powell deixou claro que vai depender de como os dados vierem. Até lá, o shutdown vai ter terminado e o Fed terá mais indicadores para avaliar”, afirma Aun, ressaltando que o dólar se fortaleceu no exterior nas últimas semanas, sobretudo em relação a moedas de países desenvolvidos. “A comunicação do Fed acelerou um pouco esse processo, que atinge também alguns emergentes.”

Termômetro do comportamento do dólar em relação a uma cesta de seis moedas fortes, o índice DXY subia cerca de 0,30% no fim da tarde, ao redor dos 99,500 pontos, após máxima aos 99,724 pontos O Dollar Index sobe quase 0,60% na semana e avança 1,7% em outubro. Destaque para as perdas de mais de 0,90% do iene, na esteira da decisão do Banco do Japão (BoJ) de manter os juros em 0,5% ao ano e de declarações amenas do presidente da instituição, Kazuo Ueda, de que é preciso ainda analisar os dados antes de eventual elevação dos juros.

“O mercado continua reagindo ao tom mais duro de Powell ontem, que traz a perspectiva de uma pausa no processo de redução dos juros. Tivemos o anúncio de um acordo entre China e Estados Unidos, mas ainda não é nada muito concreto”, afirma a economista-chefe do Ouribank, Cristiane Quartaroli.

Depois de reunião na Coreia do Sul com o presidente da China, Xi Jinping, Donald Trump anunciou na madrugada desta quinta que vai reduzir as tarifas de importação sobre produtos chineses de 57% para 47%. Em contrapartida, Pequim teria prometido restringir o envio aos EUA de substâncias químicas usadas na produção de fentanil.

Pela manhã, em publicação na Truth Social, Trump afirmou que a China teria concordado em manter o fluxo de terras raras e minerais críticas “de forma aberta e livre”. Segundo o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Scott Bessent, os documentos com os acordos com a China deverão ser assinados oficialmente na próxima semana.

“O mercado já havia precificado bastante esse encontro entre os presidentes dos Estados Unidos e da China, tanto que as moedas emergentes apresentaram recentemente resultado melhor na margem as desenvolvidas e houve fluxo bem forte para várias bolsas do mundo”, afirma Aun, da AZ Quest.

Bolsa

O Ibovespa perdeu o nível dos 149 mil pontos e reduziu alta após o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) de setembro mostrar uma criação de vagas maior do que a esperada, gerando dúvidas sobre quando o Banco Central (BC) deve começar a diminuir os juros – gatilho importante para a renda variável. Contudo, o índice conseguiu driblar a queda vista nas Bolsas de Nova York e renovou, pelo quarto pregão consecutivo, recorde de fechamento, respaldado pelo acordo sino-americano e a temporada de balanços.

No sétimo avanço seguido, acumulando alta de 3,23%, o Ibovespa fechou aos 148.780,22 pontos (+0,10%) após oscilar dos 147 546,46 (-0,73%) aos 149.234,04 (+0,40%) pontos. O giro financeiro somou R$ 20,82 bilhões.

A mínima da Bolsa ocorreu perto da abertura, quando parte do mercado embolsava lucros na esteira de um ambiente mais cauteloso do exterior. Contudo, o Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M) com queda de 0,36% em outubro, mais intensa do que a mediana das estimativas do Projeções Broadcast (-0,23%), ajudou a fazer o mercado focar na expectativa de corte pela Selic.

Ainda pela manhã, o Ibovespa renovou recorde histórico intradia aos 149,2 mil pontos. “O bom humor do mercado foi impulsionado pela divulgação do IGP-M abaixo do esperado, o que fez com que os investidores começassem a tomar risco, porque acreditam que com a inflação menor, há probabilidade de que o Banco Central adiante os cortes de juros para o final de dezembro deste ano, ou para o começo de janeiro do que vem”, afirma o analista de investimentos da Daycoval Corretora, Gabriel Mollo.

Contudo, à tarde o movimento perdeu força após o Caged mostrar criação de 213.002 postos, acima da mediana da pesquisa Projeções Broadcast (169.000). O maior gerador de vagas foi o setor de serviços, com um saldo de 106.606 postos formais de trabalho. A indústria registrou o segundo maior saldo, com 43 095 postos.

“Mercado tinha expectativa bem abaixo sobre Caged, mas o setor de serviços – que é a principal pedra no sapato do BC – criou mais vagas, então gera desconforto” sobre o que deve acontecer nos juros do Brasil e isso pesa na Bolsa, afirma o economista-chefe da BGC Liquidez, Felipe Tavares.

Contudo, o economista Ian Lopes, da Valor Investimentos, crava que o mercado entende que o acordo comercial entre EUA e China promove a leitura de que é possível um entendimento também entre os presidentes Donald Trump e Lula, ajudando o Ibovespa a renovar recorde de fechamento.

Juros

Já pressionados pela abertura da curva americana após as declarações mais conservadoras do Federal Reserve (Fed) na quarta-feira, 29, que diminuíram apostas de nova flexibilização da política monetária nos Estados Unidos em dezembro, os juros futuros negociados na B3 ganharam fôlego adicional no pregão desta quinta-feira, 30, após a divulgação do Caged de setembro. Acima do previsto, o dado impulsionou principalmente as taxas mais curtas, que chegaram a tocar máximas intradia em seguida à publicação do Ministério do Trabalho.

Os trechos intermediários e longos da curva a termo, por sua vez, avançaram seguindo o exterior, e também afetados por leilão do Tesouro com oferta relevante de títulos prefixados realizado nesta quinta.

Encerrados os negócios, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2027 avançou de 13,835% no ajuste anterior a 13,925%. O DI para janeiro de 2028 aumentou de 13,161% no ajuste a 13,240%. O DI para janeiro de 2029 subiu de 13,121% no ajuste de ontem a 13,195%. O DI para janeiro de 2031 marcou 13,480%, vindo de 13,419% no ajuste da véspera.

Publicado nesta tarde, o Caged contrariou expectativas de desaceleração adicional do mercado de trabalho, ao apontar abertura de 213.002 vagas com carteira assinada em setembro, ante estimativa mediana de 169 mil postos apontada pelo Projeções Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado. Todos os cinco grandes agrupamentos de atividades econômicas registraram saldos positivos no período, com destaque para o setor de serviços, que abriu 106.606 postos. A indústria ficou em segundo lugar, com saldo positivo de 43.095 empregos celetistas.

Economista-chefe do banco BMG, Flávio Serrano avalia que a abertura dos DIs na segunda etapa do pregão, que vinha na esteira do aumento dos rendimentos dos Treasuries, foi acentuada após os números mais recentes do mercado de trabalho formal, que foram robustos.

A precificação da curva para cortes na Selic, no entanto, pouco mudou em razão do indicador, pondera Serrano. A taxa básica apontada para o final de 2026 subiu de 12,75%, antes da publicação do dado, para 12,80%. A curva mostrava 62% de chance de redução de 25 pontos-base da Selic em janeiro depois do Caged, ante 65% pela manhã.

Nos cálculos com ajuste sazonal do banco Daycoval, a criação de postos com carteira assinada acelerou marginalmente, de 81 mil a 82 mil vagas considerando a métrica da média móvel trimestral. Segundo a instituição, mesmo com a abertura mais forte na leitura de setembro, o cenário ainda é de perda de ímpeto do mercado de trabalho, processo que está no início.

Para Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, o Caged representou um vetor adicional de impulso aos DIs, mas o mercado ainda ajustou posições após o discurso desta quarta-feira do presidente do Fed, Jerome Powell, que colocou em xeque a perspectiva de uma redução adicional da taxa básica dos EUA no último mês do ano. “O mercado tinha ficado muito animado após o evento de Jackson Hole”, lembra Cruz, quando o comandante do Fed deu a entender que haveria três cortes nos Fed Funds em 2025, sendo o último em dezembro. “A fala de ontem foi uma surpresa negativa”.

No âmbito fiscal, o mercado acompanhou o desenrolar do Projeto de Lei Nacional (PLN) 1/2025, aprovado nesta quinta de forma simbólica pela Câmara e pelo Senado. O texto propõe mudanças na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2025 para permitir que a ampliação da isenção do Imposto de Renda (IR) para aqueles que ganham até R$ 5 mil valha por tempo indeterminado. O projeto também inclui um trecho para que a execução da meta fiscal possa ser alcançada pelo piso. “O mercado está bem menos atento à questão fiscal e empurrando o debate para 2027, mas não é possível afirmar que o fiscal não vai fazer preço ainda este ano”, pondera Cruz, da RB.

Estadão Conteúdo

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