Menu
Economia

Dólar estável em 2022 depende de juro nos EUA e eleição no Brasil, diz ex-BC

Ele afirmou que também é necessário reestabelecer uma âncora fiscal, após a decisão do governo e do Congresso

FolhaPress

07/12/2021 20h30

Foto: Reprodução

EDUARDO CUCOLO
SÃO PAULO, SP

O Brasil vai precisar da combinação de juros comportados nos Estados Unidos e um cenário eleitoral menos ruidoso no país para garantir uma estabilidade do câmbio que ajude o Banco Central a controlar a inflação em 2022. Essa é a avaliação do presidente do Conselho de Administração do banco Credit Suisse e ex-presidente do BC, Ilan Goldfajn, que assume em janeiro o posto de diretor para o Departamento do Hemisfério Ocidental do FMI (Fundo Monetário Internacional).

“É muito difícil o real apreciar com um cenário internacional ruim. Se tiver o Fed [banco central dos EUA] subindo juros, esquece. Se tiver juro baixo lá fora, há uma chance de apreciação. Aí vai depender das questões específicas do Brasil”, afirmou Goldfajn nesta terça-feira (7) durante evento realizado pela gestora Frontier Capital.

Entre as questões específicas estão um cenário eleitoral menos polarizado, com uma terceira via como alternativa aos dois candidatos líderes nas pesquisas, o presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Lula. Ele afirmou que também é necessário reestabelecer uma âncora fiscal, após a decisão do governo e do Congresso e abrir um buraco de mais de R$ 100 bilhões no teto de gastos por meio da PEC dos Precatórios.

“Essa combinação apreciaria bastante o câmbio. Agora, qual a probabilidade de ter cenário internacional e aqui bom ao mesmo tempo? Façam seus cálculos.” Presidente do BC no governo Michel Temer (2016-2018), quando foi aprovado o teto de gastos, Ilan afirmou que a regra fiscal se tornou um estorvo, atacada por políticos de praticamente todas as correntes, que preferiram acabar com ela do que reduzir subsídios, gastos ineficientes, emendas de relator e outras despesas que viabilizariam despesas necessárias, como aquelas ligadas à área social.

“Esse governo foi o último a atacar o teto. Finalmente ele caiu, e a gente ainda não sabe o que vai colocar no lugar. Ou volta o superávit primário, ou volta o teto. E nenhum volta igual, porque volta chamuscado”, afirmou. Para Ilan, além de “fazer o feijão com arroz de banco central”, que é subir os juros para combater a inflação, a autoridade monetária no Brasil pode convencer outros agentes de que a queda da taxa básica no futuro dependerá de uma sinalização de controle das contas públicas. Segundo ele, ajudaria também convencer alguns agentes políticos a “ficar quietinhos”.

O ruído político no atual governo teve um preço, que foi o aumento da incerteza institucional que afastou investidores do país, levou a uma entrada menor de divisas e ajudou a manter o real depreciado, avalia Ilan. “[O BC] Não precisa correr atrás do prejuízo. Já foi. Os juros vão ficar altos, a economia vai desacelerar. Vai demorar, vai ser penoso, mas é o que tem de fazer”, afirmou.

“Enquanto isso vai convencendo outros ‘players’ que sem âncora fiscal não vai conseguir reduzir muito os juros. Que se tiver muito ruído político você paga o preço. A inflação externa subiu. Aqui subiu o dobro. Se puder convencer a ficar quietinhos, sem muito ruído, ao mesmo tempo ter uma âncora fiscal crível, aí estabiliza. Depende do fiscal, do câmbio e da política.”

Taxa básica de juros deve subir Nesta quarta-feira, o Copom (Comitê de Política Monetária) do BC deve elevar a taxa básica de 7,75% para 9,25% ao ano, em sua última reunião de 2021. O ex-presidente do BC também participou de um debate em outro evento, organizado pelo Eurasia Group em parceria com a B3, no qual afirmou que o ritmo de alta de juros no Brasil já é bastante rápido e que alguns bancos centrais têm de ser mais serenos que os mercados.

Durante o debate, Shantall Tegho, diretora do Goldman Sachs, afirmou esperar alguns meses ainda de inflação elevada nos EUA, com expectativa de continuidade nas restrições de suprimento em 2022, mas disse ver um cenário positivo em que o governo conseguirá conter o aumento de preços sem ter efeito grande no crescimento. “Esse processo de desinflação vai começar, mas não agora”, afirmou.

Shelly Shetty, diretora da agência Fitch Ratings, afirmou esperar que a inflação americana caia no segundo semestre do próximo ano. Ela disse que o cenário para a América Latina em 2022 não tem muitos sinais positivos, principalmente diante das eleições em vários países, mas destacou a ação de combate à inflação na região. “Pelo menos os bancos centrais estão realmente tentando encontrar formas de atender as expectativas e ancorar essas economias.”

    Você também pode gostar

    Assine nossa newsletter e
    mantenha-se bem informado