VICTORIA AZEVEDO
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS)
A cúpula da Câmara dos Deputados enxerga que o fogo amigo entre integrantes do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem prejudicado a economia do país e que o Executivo precisará dar sinalizações mais claras sobre como tratará a questão fiscal do Brasil após a conclusão de votação do pacote de contenção de gastos.
Há uma avaliação de que é preciso que o próprio Executivo se entenda internamente e melhore a comunicação sobre temas econômicos para evitar qualquer sinal trocado que possa gerar efeitos no mercado.
A tramitação das propostas do pacote de gastos teria sido um exemplo desse fogo amigo. Antes mesmo de as medidas serem apresentadas, ministros do governo criticaram o que poderia vir a acontecer, entre eles Luiz Marinho (Trabalho) e Carlos Lupi (Previdência Social). Nos bastidores, deputados também lembram embates entre Rui Costa (Casa Civil) e Fernando Haddad (Fazenda).
Deputados apontam ainda como um erro a decisão política de anunciar a elevação da faixa de isenção da tabela do IRPF (Imposto de Renda da Pessoa Física) para R$ 5.000 naquele momento e enxergam nisso o “gatilho” que deu margem para especulação no mercado e alta do dólar.
O próprio presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), se queixou desse anúncio logo após Haddad ter tratado disso em cadeia nacional, em novembro.
As três medidas que integram o pacote –um projeto de lei, um projeto de lei complementar e uma PEC (proposta de emenda à Constituição)– enviadas ao Congresso tiveram suas votações concluídas nas duas Casas nesta sexta-feira (20), após dias de incertezas sobre a viabilidade de sua aprovação, e com pontos que foram desidratados pelos parlamentares.
Diante do receio de não ter votos suficientes para aprovar as matérias, o governo acionou uma tropa de ministros para atuar junto às bancadas partidárias para assegurar as votações.
Além disso, como a Folha revelou, o Executivo também precisou sinalizar que irá abrir o cofre para ajudar a destravar a votação –com liberação de emendas parlamentares extras a partir de 2025 para os congressistas que votassem favoravelmente ao pacote.
Um cardeal do centrão diz que não é possível falar em “desidratação” das medidas, porque não houve apresentação de números por parte do Executivo para explicar os impactos.
Além disso, esse parlamentar diz que é preciso uma “complementação dia a dia” por parte do Executivo para gerar efeitos no cenário econômico. Nesse sentido, diz que o governo terá de dar encaminhamento mais claro do que será feito daqui para frente para buscar o equilíbrio nas contas públicas e apresentar novas medidas nesse sentido.
A reforma da renda, nessa avaliação, é uma obrigação para ser discutida pelo Executivo e votada pelo Congresso no próximo ano. Deputados alertam, no entanto, que isso deve ser feito de maneira coesa, sem dar margem a especulações e de uma forma que não afaste o capital do país.