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Economia

Crédito forjado do Master comprometeu mais de 20% da carteira do BRB, diz Justiça

De acordo com o documento, as aquisições das carteiras supostamente fraudulentas causaram sérios problemas de liquidez ao BRB

Redação Jornal de Brasília

21/11/2025 19h37

brb. foto paulo h. carvalho agencia brasilia

O BRB disponibiliza um portfólio completo de seguridade voltado ao setor agro, com seguros agrícola, pecuário, paramétrico, empresarial e para máquinas e equipamentos, além de consórcio para veículos pesados | Foto: Paulo H. Carvalho/Agência Brasília

MAELI PRADO
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

Com o suposto objetivo de inflar o seu balanço, o Banco Master teria vendido ao BRB carteiras de consignado forjadas no valor de R$ 12,2 bilhões, o equivalente a mais de 20% das operações de crédito do Banco de Brasília, segundo investigações do Banco Central, Ministério Público Federal e Polícia Federal.


A informação consta de decisão do juiz da 10ª Vara Criminal Federal do Distrito Federal, Ricardo Augusto Soares Leite, tomada no último dia 3 de outubro no contexto do pedido de busca e apreensão no Banco Master.


De acordo com o documento, as aquisições das carteiras supostamente fraudulentas causaram sérios problemas de liquidez ao BRB, contrariando as regras do BC, que exige que os bancos tenham um mínimo de patrimônio líquido em relação a seus ativos.


Para não ficar desenquadrado desses limites, “o BRB realizou registros contábeis sem respaldo documental”, segundo análise do BC citada na decisão judicial. A instituição determinou a regularização dos documentos contábeis, “pendência ainda não sanada” pelo banco.


De acordo com investigação da área técnica do BC citada pelo documento, o BRB mostrou impactos na sua liquidez já a partir do terceiro trimestre de 2024, “período em que se intensificaram as aquisições de carteiras.”


O valor adquirido do Master de janeiro a maio de 2025 representa 20,8% da carteira de crédito informada pelo BRB ao Banco Central, de R$ 58,5 bilhões, segundo dados de junho. O BRB possui ativos que somam R$ 76,1 bilhões, de acordo com o BC.


Segundo a decisão judicial, a hipótese investigada é que o objetivo do Master tenha sido inflar seu balanço através da venda de carteira ao BRB.


Nas operações com carteiras de crédito, diz o documento, o BRB faz uma transferência financeira no momento da aquisição. Logo, o BRB efetua a devolução ao Master. Nesse momento, no entanto, não há retorno do dinheiro, mas substituição por novas carteiras ou cotas de fundos de investimento.


O BC também detectou ausência de repasse ao banco estatal dos valores pagos pelos tomadores de empréstimos ao Master, conforme observado em junho deste ano —problema resolvido posteriormente.
As operações com carteiras foram realizadas mesmo diante das ressalvas formuladas pelo Banco Central, bem como dos reiterados pedidos de informações e de monitoramento dirigidos à instituição, segundo o juiz. “Nesta hipótese, há indícios veementes da prática do crime de gestão fraudulenta dos gestores do BRB em conluio com os Diretores do Banco Master”.


Uma análise feita pela investigação citada na decisão aponta que o Master emitiu R$ 50 bilhões, principalmente em CDBs, mas que R$ 12 bilhões estariam descobertos, já que a carteira de ativos da instituição estaria lastreada principalmente em ativos de baixa liquidez.


“[…] a solução do Grupo Master para aportar recursos muito superiores à sua produção histórica, e que fossem capazes de cobrir o rombo de R$ 12 bilhões, consistiu em se associar, ilicitamente, a uma Sociedade de Crédito Direto, com o objetivo de inflar seu patrimônio artificialmente, por meio da aquisição de carteiras de créditos inexistentes e revendê-las ao BRB”, diz trecho da decisão.


A decisão aponta que as operações de crédito consignado posteriormente vendidas ao BRB foram adquiridas pelo Master da consultoria de crédito Tirreno —esses empréstimos teriam origem em associações de servidores públicos da Bahia.


Mas as investigações mostraram que essas carteiras de crédito teriam envolvido CPFs de diversas localidades, e não foram encontradas movimentações financeiras compatíveis com as operações nas associações de servidores.


“Mostra-se atípico e desarrazoado que somente após a provocação do Banco Central sobre as informações [das carteiras], o BRB passou a exigir documentos adicionais, situação bastante suspeita para quem realizaria operação neste montante e que deveria se cercar de cuidados objetivos e mínimos para a viabilidade deste tipo de transação”, diz a decisão judicial.


As carteiras supostamente fraudadas somavam R$ 6,7 bilhões, e o BRB pagou outros R$ 5,5 bilhões em prêmio pelos empréstimos, de acordo com as investigações.


A decisão aponta ainda que, mesmo após saber que as operações estavam sob monitoramento do BC, o que teve início em 2024, o BRB continuou a fazer repasses bilionários ao Banco Master.


“[…] entre abril e maio de 2025 foram cedidas carteiras que totalizaram R$ 4,05 bilhões, com a respectiva transferência de prêmio ao Banco Master”, afirma trecho da decisão.


As investigações levaram à prisão do banqueiro Daniel Vorcaro, dono do Banco Master, na noite desta segunda-feira (17), em São Paulo, quando se preparava para embarcar num voo para o exterior.


Na terça-feira, o BC decretou a liquidação extrajudicial do Master. No mesmo dia, o presidente do BRB, Paulo Henrique Costa, e o diretor financeiro do banco, Dario Oswaldo Garcia Júnior, foram afastados do cargo por 60 dias.


Procurado para comentar as informações, o BRB afirmou em nota que reafirma sua solidez financeira, e que dos cerca de R$ 12 bilhões da carteira adquirida do Master, mais de R$ 10 bilhões já foram liquidados ou substituídos. “O restante não constitui exposição direta ao Banco Master”, afirmou o banco.


O banco de Brasília disse ainda que o banco atua como credor na liquidação do Master e que reforçou seus controles internos. “Todo o processo de substituição de carteiras e adição de garantias, prática prevista em contrato, foi reportado e acompanhado pelo Banco Central”, afirmou. “As carteiras atuais seguem padrão adequado, e o Banco permanece sólido e colaborando com as autoridades.”


Nesta quarta (19), a agência de classificação de risco S&P Global rebaixou o rating do BRB de “B” para “B-“, e apontou que pode reduzir mais a nota de crédito do banco. “O BRB adquiriu recentemente vários empréstimos do Banco Master, que agora estão sob investigação devido à suspeita de fraude”, disse a agência em relatório.


A S&P ainda citou que as investigações a respeito das relações entre BRB e Master elevaram as preocupações com as práticas de governança e gestão de riscos do banco.


As ações do BRB tiveram queda de 10,06% desde que o Banco Master foi liquidado na última terça-feira (18). No ano, os papéis da empresa acumulam desvalorização de 4,9%, segundo dados da plataforma CMA.

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