No dia no qual o Banco Central divulgou a ata da reunião da semana passada do Comitê de Política Monetária (Copom), o diretor de Política Monetária do BC, Gabriel Galípolo, afirmou nesta terça-feira, 25, que o comitê usou a palavra interrupção para posicionar o colegiado em relação ao ciclo de juros para deixar o cenário aberto, sem fixar uma guidance. Ele afirmou que se ateria o máximo possível à comunicação oficial, com o que saiu no comunicado ou ata, porque qualquer fala dissonante seria interpretada como um deslize e tanto ata quanto comunicado representavam plenamente o que estava em sua cabeça.
“A palavra que usamos é interrupção, mas claramente não queremos fazer nenhum guidance a frente. Usamos a palavra interrupção, mas vamos deixar aberto para ver como as coisas vão se desdobrar”, disse Galípolo, ao ser questionado se o ciclo de corte de juros havia sido interrompido ou encerrado.
Galípolo afirmou que desde o Copom de maio, em que houve a divisão do colegiado, ele vinha afirmando que o tempo jogaria a favor do BC e que não havia divergências sobre o diagnóstico de cenário.
“A ata é uma reafirmação e corroboração nesse sentido da coesão que temos aqui dentro, do que está acontecendo no BC”, disse Galípolo, participante nesta terça de uma discussão sobre a condução da política monetária em ambiente mais adverso promovido pela Warren Investimentos.
Desancoragem de expectativas
O diretor de Política Monetária do Banco Central ainda afirmou que a desancoragem ou reancoragem parcial das expectativas era um ponto que já trazia incômodo em reuniões anteriores do Comitê de Política Monetária (Copom). “Passamos, no último ciclo, a dar mais ênfase à desancoragem das expectativas”, disse.
Ele explicou que a desancoragem das expectativas não é o único elemento que fundamenta a interrupção do ciclo de corte de juros “Tivemos uma mudança bastante acentuada no cenário de câmbio, do ponto de vista de inflação implícita, de taxa de juros longa, de demonstração de economia com dinamismo mais resiliente. Todos esses elementos juntos fundamentaram isso” comentou.
O diretor entende que cabe ao BC, e que a autoridade monetária vem fazendo isso, reafirmar o que é o arcabouço legal e institucional da política monetária no País. “Cabe ao poder democraticamente eleito, estabelecer meta de inflação para a autoridade monetária, que é o Banco Central. Cabe ao BC colocar a taxa de juros num patamar restritivo pelo tempo suficiente para atingir meta. É disso que se trata”, disse.
Ele reiterou que na política monetária, nada vai ser usado como pretexto para se esquivar de perseguir a meta. Galípolo avaliou que o relatório Focus é uma ferramenta “ultra relevante” para guiar a política monetária, e que o BC, em sua institucionalidade, sabe consumir a pesquisa e avaliar eventuais dissonâncias.
Meta de inflação
O diretor de Política Monetária do Banco Centra afirmou ainda que a autoridade monetária não tem de discutir a meta de inflação, atualmente fixada em 3% ao ano. “Tem quem faz a lei e tem quem cumpre a lei”, reiterou, sobre os papéis do Executivo e BC.
E pontuou: “A pergunta para mim é: se as coisas piorarem, o Banco Central vai agir? Sim, com certeza. E se as coisas melhorarem, o Banco Central vai reagir? Sim, também. Deixar as coisas em aberto já é uma linha que determina isso.”
Ele reiterou que, se o ambiente demandar a manutenção dos juros, eles serão mantidos. Caso a exigência seja por elevação dos juros, eles serão elevados. Por fim, se houver necessidade de corte de juros, eles serão reduzidos.
Estadão Conteúdo