São Paulo, 07 – Até o meio da tarde, o Ibovespa, em linha com o prosseguimento da correção dos índices de ações em Nova York, parecia a caminho de aguardada realização de lucros após 12 ganhos consecutivos – nove dos quais também em nível recorde de fechamento. Era a mais longa série vitoriosa do índice desde as 12 altas entre 15 de maio e o início de junho de 1997, há mais de 28 anos. Mas o que parecia improvável, aconteceu, e o Ibovespa foi hoje ao 13º avanço diário consecutivo, renovando recorde de encerramento nas últimas 10 sessões.
Assim, aproxima-se um pouco mais da performance registrada entre maio e junho de 1994, durante o nascimento do real, quando emendou 15 altas sem interrupção, no intervalo de 17 de maio a 7 de junho.
Ao fim, marcava hoje ganho de 0,47%, pela primeira vez em fechamento no nível de 154 mil, aos 154.063,53 pontos, entre mínima de 152.367,52 e máxima de 154.065,76 pontos na sessão, em que saiu de abertura aos 153.338,63. O giro foi a R$ 24,2 bilhões nesta sexta-feira. Na primeira semana de novembro, o índice da B3 acumula ganho de 3,02% – o quarto avanço semanal consecutivo – e de 28,08% no ano, a caminho de seu melhor desempenho desde 2019, quando subiu 31,58%.
O forte impulso de Petrobras após o balanço e a teleconferência relativa aos resultados do terceiro trimestre, com distribuição de dividendos em linha com o esperado, na casa de R$ 12 bilhões, se impôs à dinâmica majoritariamente negativa nas demais blue chips – mas ao final, também positiva para os grandes bancos, que viraram na reta de chegada da sessão. Destaque negativo para o setor metálico, com Vale ON, principal ação do Ibovespa, em baixa de 1,10% e perdas de até 1,76% (CSN ON) entre as principais siderúrgicas.
Contudo, o setor financeiro, o de maior peso no Ibovespa, ganhou força do meio para o fim da tarde, contribuindo, também, para que o Ibovespa oscilasse para cima na etapa vespertina e renovasse máximas aos 154 mil pontos em direção ao fim do dia. Entre os maiores bancos, os ganhos ficaram entre 0,10% (Itaú PN) e 0,56% (Santander Unit) no fechamento, com os papéis de Bradesco e Santander encerrando nas respectivas máximas da sessão.
Na ponta ganhadora do Ibovespa na sessão, MBRF (+5,86%), SLC Agrícola (+4,16%), além de Fleury (+3,97%), Cyrela (+3,86%) e de Petrobras (ON +4,83%, PN +3,77%, com a preferencial na máxima da sessão no fechamento). No lado oposto, Cogna (-6,93%), PetroReconcavo (-6,39%) e Raízen (-5,62%).
Segundo José Áureo Viana, economista, assessor e sócio da Blue3 Investimentos, seria “natural” uma realização de lucros na sessão desta sexta após uma longa sequência de ganhos do Ibovespa. Mas o forte desempenho de Petrobras, acompanhando o balanço e a distribuição de mais de R$ 12 bilhões em dividendos, deu sustentação ao índice da B3 no fechamento de uma semana que já era muito vitoriosa, acrescenta.
Para Rachel de Sá, estrategista de investimentos da XP, “tanto otimismo” refletido na Bolsa foi mantido na semana a despeito do tom ainda duro no comunicado sobre a decisão de política monetária do Banco Central, sem sinais claros ainda sobre o momento em que a Selic, mantida a 15% ao ano, poderá começar a ser cortada – movimento aguardado pela maioria do mercado para o primeiro trimestre do próximo ano. Segundo a estrategista, apesar de certa incerteza ainda com relação a uma variável importante – o nível de juros à frente -, o forte apetite por ações na B3 tem se apoiado na boa temporada de resultados corporativos.
“Os resultados corporativos têm falado mais alto, impulsionando a Bolsa, o que é favorecido também pelo movimento de rotação de ações em nível global, ante o questionamento sobre a sustentabilidade do crescimento das empresas do setor de inteligência artificial, com certo ceticismo em alta”, diz Rachel, acrescentando que o momento de depreciação do dólar frente ao real tem sido observado também em moedas de outros países emergentes, além do Brasil. “Há no momento uma busca de ativos alternativos que estejam além da temática da IA”, enfatiza.
Nesse contexto, o índice de tecnologia de Nova York, o Nasdaq, fechou nesta sexta-feira em baixa, embora bem moderada a 0,21% no fim do dia, acumulando perda de 3,04% na semana. Ainda em Nova York, nesta sexta-feira, Dow Jones virou em direção ao fechamento e subiu 0,16%, com o S&P 500 também em alta, de 0,13% Aqui, o dólar à vista cedeu 0,25%, a R$ 5,3357, e acumulou perda de 0,83% na semana.
“Mercado americano segue em correção sem a referência de dados oficiais sobre a economia durante esse longo shutdown nos Estados Unidos, e com o agravo dessas dúvidas em relação ao setor de tecnologia, ainda que estejam sendo um pouco exageradas, usadas como um válvula para realizar lucros”, observa Matheus Spiess, analista da Empiricus Research.
Apesar do voo cego em relação aos dados mais recentes, a expectativa é de que o Fed, assim como o observado no fim de outubro, volte a cortar juros em dezembro – o que tende a ampliar o diferencial em relação à taxa de juros do Brasil, favorecendo o carry trade, com apreciação do real e apetite por ações na B3.
Dólar
O dólar se firmou em leve baixa ao longo da tarde no mercado local, seguindo o comportamento da moeda americana no exterior, após indicadores dos Estados Unidos sugerirem que há espaço para que o Federal Reserve (Fed) corte os juros em dezembro.
Com mínima a R$ 5,3337, o dólar encerrou a sessão desta sexta-feira, 7, em queda de 0,25%, a R$ 5,3357. Foi o terceiro pregão de desvalorização do moeda, que atingiu o menor nível de fechamento desde 6 de outubro (R$ 5,3107). A divisa encerra a primeira semana de novembro com baixa de 0,83% em relação ao real, após ganhos de 1,08% no mês passado. No ano, as perdas são de 13,66%.
Pela manhã, a moeda chegou a ensaiar um movimento de alta, tocando máxima a R$ 5,3656. Operadores atribuíram o escorregão momentâneo do real a ajustes de posições e à realização de lucros, na esteira do tombo do minério de ferro e de resultado abaixo do esperado da balança comercial da China.
“Não se sabe até que ponto essa incerteza sobre as tarifas americanas está afetando a China, o que deixa o mercado mais arisco e traz alguma volatilidade para as divisas emergentes. Foi o que vimos um pouco no começo do pregão”, afirma o economista-chefe da Frente Corretora, Fabrizio Velloni.
A dinâmica do mercado local mudou à medida que o dólar acentuava as perdas no exterior, em resposta à piora da confiança do consumidor americano, revelada por pesquisa da Universidade de Michigan. Houve ligeiro aumento das expectativas de inflação em 12 meses (de 4,6% para 4,7%), mas as expectativas para cinco anos recuaram, de 3,9% para 3,6%.
O índice DXY – que mede o desempenho do dólar em relação a uma cesta de seis moedas fortes, em especial euro e iene – apresentava leve baixa no fim da tarde, ao redor dos 99,600 pontos, após mínima aos 99,398 pontos. O Dollar Index termina a semana com recuo de cerca de 0,10%. Na última terça-feira, 4, o DXY havia ultrapassado a marca dos 100,000 pontos pela primeira vez desde agosto, diante da perspectiva de uma pausa no corte de juros nos EUA em dezembro.
Para Velloni, da Frente Corretora, o prolongamento da paralisação parcial (shutdown) do governo dos EUA traz uma tendência de desaquecimento para a economia americana, que pode ter se refletido no sentimento do consumidor. Ele ressalta, contudo, que a atividade ainda mostra resiliência e há muita incerteza sobre o impacto do tarifaço de Trump.
“A perspectiva ainda é de que haja novo corte de juros nos EUA, o que tira força do dólar e acaba ajudando o real”, afirma o economista.
Com a divisa americana fraca no exterior, operadores relatam que investidores não residentes reduzem as posições compradas em dólar em derivativos cambiais (dólar futuro, mini contratos, swaps e cupom cambial) na B3.
Depois de superarem US$ 54 bilhões no fim de outubro, essas posições estariam agora por volta de US$ 47 bilhões. Analistas ouvidos pela Broadcast ressaltam que é muito custoso sustentar apostas contra a moeda brasileira por muito tempo, dada a taxa de juros local elevada.
Para a economista-chefe do Ouribank, Cristiane Quartaroli, o tom duro do comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom) na última quarta-feira, 5, quando a taxa Selic foi mantida em 15%, sugere que não haverá alívio monetário neste ano, o que sustenta um diferencial de juros interno e externo elevado e estimula entrada de capital especulativo.
“Hoje vimos um pouco mais de volatilidade, com ajustes técnicos. Há também um clima maior de incerteza depois de o Fed sinalizar que pode não ter espaço para cortar os juros em dezembro”, afirma Quartaroli.
Juros
Em uma sessão morna para os ativos domésticos em geral, marcada por discreta queda do dólar, alta tímida da Bolsa e liquidez reduzida, os juros futuros praticamente andaram de lado por toda a extensão da curva no pregão desta sexta-feira, 07. O sinal positivo observado na primeira etapa dos negócios foi invertido em todos os vértices ao longo da tarde, mas sem vetores evidentes. Agentes avaliam que o movimento, comedido, refletiu ajustes técnicos.
Após a mensagem reiterada pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central na reunião desta quarta-feira, 05, de que não tem pressa em diminuir a Selic, o mercado está pouco propenso a reforçar apostas na queda dos DIs curtos, ao mesmo tempo em que aguarda a ata da decisão para ter mais pistas sobre a avaliação do comitê. O documento será divulgado na próxima semana.
Sem maiores catalisadores no dia e com os rendimentos dos Treasuries igualmente sem grandes movimentações, as taxas futuras oscilaram muito pouco durante o último pregão da semana. Encerrados os negócios, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2027 passou de 13,875% no ajuste de quinta-feira para mínima intradia de 13,860%. O DI para janeiro de 2029 saiu de 13,088% no ajuste anterior a 13,055%. O DI para janeiro de 2031 marcou 13,370%, vindo de 13,398% no ajuste antecedente.
Gestor de portfólio da Azimut Brasil Wealth Management, Marcelo Bacelar afirma que o Copom foi mais duro do que uma ala do mercado previa em seu comunicado, o que seguiu repercutindo sobre os DIs mais curtos na sessão desta sexta, na ausência de gatilhos mais relevantes. “Alguns agentes esperavam que o BC de alguma forma abriria possibilidade de cortar a Selic em janeiro, mas com este comunicado, isso ficou mais difícil na margem”, avalia.
O tom mais conservador do Copom, de acordo com Bacelar, acaba por afetar também a dinâmica do “miolo” da curva – os vértices de janeiro de 2028, 2029 e 2030, que ficam mais rígidos. “Quanto mais parado o Copom ficar, mais a curva perde a inclinação, porque o corte da Selic pode ser maior”, diz. Os receios do mercado sobre o ano de 2026, que, por ser de eleições, deve ser marcado por mais estímulos à economia, também justificam a cautela e a baixa volatilidade dos DIs nos últimos meses, acrescentou.
No cômputo semanal, apesar do recado considerado duro do Copom, a curva de juros futuros não se deslocou, mantendo o atual perfil de inclinação nos vértices mais líquidos, observa a equipe econômica do Santander. Considerando nível de fechamento da última sexta-feira, o DI para o primeiro mês de 2027 subiu apenas 1,5 ponto-base. As taxas projetadas para janeiro de 2029 e 2031 também praticamente não se mexeram.
“Em nossa visão, o tom do comunicado do Copom foi neutro/hawkish em relação ao consenso”, afirmam os economistas do Santander em relatório divulgado nesta sexta, em que analisam o balanço dos principais mercados domésticos na semana. A curva de juros, destaca o banco, ainda precifica Selic a 12,5% no final de 2026, com afrouxamento a partir do primeiro trimestre do próximo ano.
Para Bacelar, da Azimut, embora o mercado local de renda fixa careça de catalisadores no curto prazo, o quadro de letargia deve mudar em breve. “Depois de um mês, um mês e meio de mercado morno, estaremos mais perto de um corte da Selic, das eleições de 2026, além da mudança no quadro de diretores do BC em dezembro”, comentou. No último mês do ano, terminam os mandatos do diretor de Política Econômica, Diogo Guillen, e do diretor de Organização, Renato Gomes.
Estadão Conteúdo