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Economia

Com Nova York, Ibovespa cai 0,45%, aos 104,2 mil pontos

Após duas sessões de leve recuperação, o Ibovespa voltou a terreno negativo nesta terça-feira, 7, acompanhando o sinal do exterior

Redação Jornal de Brasília

07/03/2023 19h13

Foto: Reprodução/ Flickr

Após duas sessões de leve recuperação, o Ibovespa voltou a terreno negativo nesta terça-feira, 7, acompanhando o sinal do exterior. Prevaleceram os comentários hawkish do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, durante audiência no Senado, reforçando a indicação de que a taxa de juros terminal pode ficar além do que se esperava a princípio para os Estados Unidos, no atual ciclo de elevação dos custos de crédito na maior economia do mundo.

Com os grandes bancos de contrapeso (BB ON +2,30%, Bradesco PN +2,33%) entre as ações e os setores de maior força no índice, o Ibovespa fechou o dia em baixa moderada, de 0,45%, aos 104 227,93 pontos, entre mínima de 103.480,42 e máxima de 105.178,55 na sessão, em que saiu de abertura aos 104.700,02 pontos. Fraco como nas duas sessões anteriores, o giro ficou em R$ 21,2 bilhões nesta terça-feira. Na semana, o Ibovespa sobe 0,35%; no mês, cede 0,67%, e no ano recua 5,02%.

Na ponta do Ibovespa nesta terça-feira, destaque para as aéreas Azul (+20,12%) e Gol (+5,67%), junto a CVC (+9,88%), com o setor de viagens ainda refletindo a renegociação de dívidas da Azul, de efeito positivo para a geração de caixa da companhia no ano, observa Matheus Willrich, especialista em renda variável da Blue3. No lado oposto na sessão, Dexco (-6,79%), BRF (-4,17%) e Prio (-3,00%), assim como para as duas ações de Petrobras (ON -3,03%, PN -3,31%).

Desde a última sessão de fevereiro, no dia 28, o Ibovespa tem se alternado entre os 103 e 104 mil nos fechamentos – uma série de seis sessões. “O Índice Bovespa encontra suportes em 103.100 e 101.600 pontos. Importante destacar que se for perdida essa última região, o índice poderá acelerar o movimento de baixa em direção aos suportes em 96.900 e 95.200 pontos”, aponta análise gráfica do Itaú BBA. Por outro lado, “se conseguir ultrapassar a máxima deixada em 105.200, o índice abrirá caminho para uma recuperação em direção aos 109.700 e 110.500 pontos – patamar que mantém o índice em tendência de baixa no curto prazo”, acrescenta.

Considerando os fundamentos – onde o macro (cenário econômico) tem prevalecido sobre o micro (resultados das empresas, em geral resilientes) -, a perspectiva de retomada sustentada da Bolsa permanece incerta, tendo em vista o panorama doméstico como também o externo.

“É o ciclo de aumento de juros mais acelerado dos Estados Unidos, um freio muito brusco. Dificilmente se conseguirá evitar uma recessão, ainda que leve, por lá. A fala do Powell no Senado veio em linha com os últimos sinais do Fed, no sentido de uma taxa de juros terminal a 5,5%”, diz Felipe Moura, sócio e analista da Finacap Investimentos, referindo-se à taxa de juros de referência dos EUA, no maior patamar em décadas.

Para o banco ING, a probabilidade de pouso forçado e reversão da política adotada pelo Banco Central americano está crescendo. O ING avalia que Powell assumiu um tom mais “hawkish” em relação ao seus últimos comentários em fevereiro, na participação desta terça-feira no Senado americano.

“Powell sinalizou possibilidade de altas mais fortes na taxa de juros, que é possível aceleração nas próximas reuniões a depender dos dados, elevando a taxa terminal a níveis consideravelmente mais altos do que se imaginava no passado”, diz Luiz Adriano Martinez, gestor de renda variável e sócio da Kilima Asset, destacando o efeito, na sessão, sobre os rendimentos dos Treasuries de 2 anos, título mais sensível à perspectiva de curto prazo para a política monetária americana.

Na máxima de hoje, o yield de 2 anos dos EUA foi a 5,02%, comparado a 4,00% de máxima para o rendimento da T-note de 10 anos – uma inversão que, na percepção de mercado, costuma antecipar ciclos recessivos no país. “A inclinação negativa dessas duas taxas aumentou hoje”, destaca Martinez, observando que o movimento pode estar refletindo a percepção sobre altas mais fortes, em ciclo maior, mas com cortes de juros do Fed no médio prazo, que derrubariam a taxa de 10 anos – “puxar mais os juros agora para cortar no médio prazo”, aponta o gestor.

“O mercado estava precificando 0,25 ponto para a próxima reunião (do Fed) e começa a rever para 0,50 (ponto porcentual). A taxa terminal, que o mercado projetava a 5,5%, pode chegar a 6%. A reprecificação dos juros americanos é ruim para equities. Os dados americanos têm vindo mais fortes, o que corrobora esse patamar maior e por período maior também”, diz Willrich, da Blue3. Ele destaca ainda, nesta terça-feira, dados de exportação e importação um pouco piores do que o esperado para a China, o que afetou os preços do minério e o desempenho das ações do setor, bem como do petróleo e o respectivo segmento na B3. Vale ON cedeu 0,95%.

“A meta oficial de crescimento chinês em torno de 5%, considerada mais conservadora, não puxaria de forma suficiente o crescimento mundial”, o que afeta em particular o setor de commodities, observa Gabriel Mota, operador de renda variável da Manchester Investimentos, em um contexto marcado também pelos sinais do Fed, de que continuará a elevar os juros enquanto for necessário.

“Provavelmente teremos juros mais altos nos Estados Unidos do que se antecipava, e o mercado refletiu isso hoje. Esperamos taxa terminal do Fed entre 5,5% e 5,75%, e o mercado está precificando com um pouco mais de probabilidade, agora, cenário entre 5,25% e 5,50%”, diz Daniel Miraglia, economista-chefe do Integral Group. “O discurso do Powell foi mais duro do que se esperava, o que mexeu com a curva inteira (de juros americana) e também com o dólar lá fora, afetando os mercados emergentes.”

“O tom do Jerome Powell foi muito mais agressivo em relação a seus últimos comentários, de janeiro e fevereiro. Naquela época, ele falava bastante em processo de desinflação, mas agora reconhece que os números de fevereiro trouxeram uma pressão muito maior, não só no mercado de trabalho mas também no índice de preços”, diz Eduardo Moutinho, analista de mercado da Ebury. “Os mercados estão precificando agora Fed funds a 5,40% no fim do ano, o que significa 100 pontos-base de aumento até lá”, acrescenta o analista, observando também o crescimento da probabilidade de que venha aumento de 50 pontos-base agora em março, na reunião dos dias 21 e 22.

No cenário doméstico, caso o governo entregue arcabouço fiscal “crível e factível” até o fim do mês, haveria espaço para retirada de prêmios da curva de juros, destravando espaço para alguma recuperação na Bolsa. Mas enquanto os juros permanecerem tão altos, o fôlego para recuperação será curto – o que reforça a importância da reação do BC ao formato do arcabouço que vier a ser apresentado neste mês, do qual se espera que possa abrir espaço para cortes da Selic.

“O valuation está nos menores níveis desde 2005, com razão Preço/Lucro a sete vezes (para o Ibovespa). Tem empresas que preservaram ou até expandiram lucro e estão abaixo do que eram negociadas no pior momento da pandemia, quando nem se tinha vacina”, observa Moura, da Finacap. “O mercado está muito disfuncional pelo cenário macro, o que resulta em acumulação de prêmios na curva de juros. Na renda fixa, o investidor institucional consegue IPCA mais 6,5%, 7%, e tem prefixado pagando 15% (ao ano). Por que ir pra Bolsa se há a segurança dos juros?”, acrescenta.

Estadão Conteúdo

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