São Paulo, 25 – Após ter renovado máximas históricas nos dois fechamentos anteriores – em nada menos de sete das dez sessões precedentes à desta quinta-feira -, o Ibovespa operou em conformidade à cautela externa e fechou o dia em baixa de 0,81%, aos 145.306,23 pontos, com giro a R$ 20,1 bilhões.
Destaque do dia, a leitura revisada do Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA no segundo trimestre lançou um tanto de dúvidas quanto ao grau de ajuste da política monetária americana que o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) poderá efetivar ainda este ano. Na agenda doméstica, os investidores tomaram nota também do IPCA-15 referente a setembro, considerado a prévia da inflação oficial do mês e que veio abaixo do esperado para o intervalo, em desdobramento apenas em parte favorável.
Entre a mínima e a máxima da sessão, o Ibovespa oscilou entre 145.186,77 e 146.519,13 pontos, saindo de abertura aos 146 491,92 pontos. Na semana, com o desempenho desta quinta-feira, oscilou para baixo no agregado do intervalo (-0,38%), aparando o ganho do mês a 2,75%. No ano, o Ibovespa sobe 20,80%.
Entre as blue chips, o dia foi amplamente negativo. Exceção para o principal papel do Ibovespa, Vale ON, que subiu 0,55%, acompanhando avanço do preço do minério na China, na sessão. Em dia no qual o petróleo chegou a ceder mais de 1% – embora com fechamento próximo à estabilidade -, as ações de Petrobras foram destaque de baixa (ON -1,76%, PN -0,80%). Os bancos também foram mal, com perdas de 0,80% (Itaú PN) a 1,45% (Banco do Brasil ON) entre as maiores instituições.
Na ponta ganhadora do Ibovespa, Natura (+2,34%), Magazine Luiza (+1,29%) e Ambev (+0,65%). No canto oposto, Raízen (-7,27%), Cosan (-7,01%) e Assaí (-5,37%).
Dados da economia dos Estados Unidos, mais fortes que o esperado nas mesas de Wall Street, atenuaram a expectativa de uma tesourada adicional de 50 pontos-base nos juros americanos até o fim do ano, embora tal previsão ainda seja majoritária, reporta de Nova York a correspondente da Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado), Aline Bronzati. Somados aos riscos inflacionários – em especial por conta das políticas do presidente Donald Trump -, os números também tendem a reforçar a divisão de opiniões sobre o futuro dos juros entre os dirigentes do Federal Reserve, o banco central americano.
Divulgada no período da manhã, a última leitura do Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA no segundo trimestre mostrou crescimento anualizado de 3,8% no período, bem acima da anterior e das projeções do mercado, de 3,3%. No primeiro trimestre, o PIB dos EUA encolheu 0,5%. Dessa forma, os índices de ações em Nova York mostraram piora ao longo da tarde, especialmente os papéis do setor de tecnologia, colocando pressão extra sobre o ajuste do Ibovespa após uma sequência positiva, de recordes. Em Nova York, no fim do dia, Dow Jones -0,38%, S&P 500 -0,50% e Nasdaq também -0,50%.
No noticiário doméstico, contribuindo para a cautela desta tarde, o Poder360 reportou que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, estará com o ex-presidente Jair Bolsonaro na segunda-feira e que comunicará, então, a decisão de concorrer à reeleição ao Palácio dos Bandeirantes.
“Perto dos 150 mil pontos, e sem tanto gatilho para a alta prosseguir, houve incentivo à realização de lucros em um ponto técnico importante, com uma certa cessada de fluxo uma vez concluída a temporada de resultados corporativos, e sem tantos fatores macro novos. Saudável que venha uma correção de preços, sem mudança estrutural na tendência de alta”, diz Felipe Moura, gestor de portfólio e sócio da Finacap Investimentos.
Na agenda econômica doméstica, destaque pela manhã para o IPCA-15 de setembro. “Apesar de ter ficado levemente abaixo da expectativa, a leitura trouxe uma aceleração em relação ao mês anterior, em que a gente observou uma deflação de 0,14%, e reforçou a percepção de pressões persistentes na inflação”, diz Nicolas Gass, head de alocação de investimentos e sócio da GT Capital.
Segundo ele, a alta de 0,48% na prévia da inflação oficial do mês, embora levemente inferior ao esperado para o intervalo, tende a reforçar a abordagem hawkish do Banco Central, já observada na ata do Copom e, também, no comunicado da semana passada sobre a decisão de política monetária quando, conforme o esperado, a Selic, foi mantida em 15% ao ano. “Basicamente, diminui um pouco a probabilidade de a gente observar o primeiro corte dos juros no Brasil em dezembro”, diz.
Dólar
O dólar emendou nesta quinta-feira, 25, o segundo pregão consecutivo de alta firme no mercado local e superou a linha de R$ 5,35, em movimento alinhado à onda de fortalecimento da moeda norte-americana no exterior. Divisas emergentes sofreram com o avanço das taxas dos Treasuries curtos após dados mais fortes da economia dos EUA e falas cautelosas de parte de dirigentes do Federal Reserve (Fed, o banco central do país) esfriarem apostas em redução agressiva de juros nos próximos meses.
O real – que costuma ser mais castigado em episódios de aversão ao risco – apresentou perdas, em geral, em linha com a dos pares emergentes, em especial latino-americanos. Operadores afirmam que a aposta majoritária de cortes de juros no Brasil apenas no início de 2026 dá certa sustentação à moeda brasileira.
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo – 15 (IPCA-15) de setembro subiu menos que as estimativas, com uma melhora qualitativa sugerindo menores riscos inflacionários. De outro lado, o Relatório de Política Monetária (RPM) trouxe um tom duro, reforçando a mensagem tanto do comunicado quanto da ata do Comitê de Política Monetária (Copom) de juros em nível restritivo por período prolongado.
Afora uma pequena queda pontual e limitada na abertura dos negócios, o dólar operou em terreno positivo no restante da sessão. Após máxima de R$ 5,3714, registrada na última hora de negócios, a moeda encerrou em alta de 0,69%, a R$ 5,3644 – maior valor de fechamento desde o último dia 11 (R$ 5,3922).
Circularam à tarde informações de que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, nome da direita visto como mais viável para a corrida eleitoral de 2026, não estaria disposto a concorrer ao Planalto, o que poderia ter levado o dólar às máximas do dia. Operadores ouvidos pela Broadcast (sistema de noticiais em tempo real do Grupo Estado), contudo, não viram impacto relevante dos ruídos políticos sobre a taxa de câmbio, cujo comportamento estaria mais atrelado ao exterior.
A moeda acumulou alta de 1,61% nos dois últimos pregões, após ter furado o piso de R$ 5,30 e fechado a R$ 5,2791 na última terça-feira, 23, marcada pelo otimismo com os sinais amistosos do presidente dos EUA, Donald Trump, ao presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, na Assembleia Geral da ONU.
“O real deprecia hoje em linha com o movimento global do dólar. Após uma forte alta ontem, a taxa de câmbio iniciou a sessão devolvendo parte dessa correção após a divulgação de um IPCA-15 com um qualitativo mais benigno. Mas o movimento foi totalmente revertido após dados da economia americana”, afirma o economista-sênior do Banco Inter, André Valério.
Pela manhã, a terceira leitura do PIB dos EUA no segundo trimestre mostrou alta anualizada de 3,8%, acima da segunda leitura e das estimativas de analistas, ambas de 3,3%. O índice de preços de gastos com consumo (PCE, na sigla em inglês) e seu núcleo subiram a ritmo anualizado acima do esperado no segundo trimestre.
“Esses dados contradizem a expectativa de que o Fed possa entregar os cortes na taxa de juros como se espera, sugerindo que a economia americana talvez esteja em melhores condições do que os dados de emprego sugerem”, afirma Valério, do Inter.
Termômetro do comportamento do dólar em relação a uma cesta de seis moedas fortes, o índice DXY voltou a superar o nível dos 98,000 pontos, com máxima aos 98,605 pontos à tarde. O Dollar Index sobe cerca de 0,90% na semana e 0,65% em setembro. No ano, recua pouco mais de 9%. A taxa da T-note de 2 anos, mais ligada às expectativas em torno da política monetária americana, subiu mais de 1%, com máxima a 3,67%.
“A alta do dólar aqui reflete um comportamento mais global da moeda americana, porque outras divisas emergentes também estão sofreram hoje. Os indicadores dos EUA vieram fortes, acima do esperado, levando parte dos analistas a revisarem as projeções de cortes mais agressivos de juros neste ano”, afirma a economista-chefe do Ouribank, Cristiane Quartaroli.
Para Valério, do Inter, o Fed deve voltar a reduzir os juros apenas em dezembro, uma vez que não há “sinais claros de desaceleração da economia americana”. Ele ressalta que pode haver uma retomada da criação de empregos nos próximos meses em meio a uma inflação ainda pressionada pelas tarifas de Trump. “Nesse contexto, podemos ver o dólar recuperando parte das perdas das últimas semanas, pressionando as moedas mundo afora”, afirma o economista.
Juros
Os juros futuros tocaram máximas intradiárias na segunda etapa do pregão desta quarta-feira, alinhados ao pico do dólar na sessão e a um movimento global de aversão ao rico. Por aqui, o Relatório de Política Monetária (RPM) do Banco Central (BC) e o Índice Nacional de Preços ao Consumidor – 15 (IPCA-15), mesmo abaixo do esperado, reforçaram a percepção de que a Selic ficará parada até o início de 2026.
Encerrados os negócios, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2027 avançou de 14,01% no ajuste anterior para 14,070%. O DI para janeiro de 2028 aumentou de 13,276% no ajuste a 13,365%. O DI para janeiro de 2029 marcou 13,250%, vindo de 13,175% no ajuste precedente. O DI para janeiro de 2031 subiu de 13,358% no ajuste da véspera para 13,410%.
Em um primeiro momento, o mercado reagiu positivamente à prévia da inflação oficial de agosto, que subiu 0,48%, vindo de deflação de 0,14% em julho. O dado ficou aquém da mediana de analistas ouvidas pelo Projeções Broadcast, de 0,51%. Houve desaceleração dos serviços, que foram novamente mencionados hoje pelo Banco Central como foco de preocupação, e dos núcleos de inflação, que também perderam tração. Mas o ânimo teve vida curta, diz Paulo Henrique Oliveira, estrategista de renda fixa da Daycoval Corretora.
Oliveira cita o tom hawkish conservado pelo Banco Central no RPM, que manteve as projeções de inflação em 3% até o primeiro trimestre de 2028, revisou sua estimativa de hiato do produto para cima, de 0,5% a 0,7%, e espera um ritmo mais lento de abertura dessa variável à frente, devido à resiliência do mercado de trabalho. Para o BC, nesse contexto, a inflação de serviços segue sob pressão.
Os DIS mantinham o ritmo de ascensão observado até o início da tarde, quando tocaram máximas intradia em toda a extensão da curva por volta das 15h20. O dólar superou o patamar de R$ 5,36 e o DXY, que compara a moeda americana a cesta de seis divisas fortes, também renovou máximas. Economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi avalia que o mercado local de DIs reagiu à deterioração do cenário externo, com uma postura mais dura dos países europeus sobre invasões aéreas da Rússia.
Já nos Estados Unidos, há uma leitura de que o ciclo de relaxamento monetário a ser promovido pelo Federal Reserve (Fed) deve ser mais suave, acrescenta Oliveira, do Daycoval, diante de declarações recentes de dirigentes do BC americano que indicam uma postura mais prudente. Nesta tarde, o diretor da instituição Michael Barr disse que a política monetária tem como direção taxas de juros mais baixas, mas que a flexibilização precisa ser feita com cautela. “Devemos focar agora nas decisões para outubro e dezembro, e depois pensamos em 2026”, afirmou.
Por aqui, mesmo o IPCA-15 abaixo do previsto não foi suficiente para reanimar apostas de cortes da Selic ainda este ano. Segundo Flávio Serrano, economista-chefe do banco BMG, a curva de juros futuros precifica apenas 15% de chance de redução de 0,25 ponto porcentual em dezembro de 2025, ante 60% em janeiro de 2026. “O IPCA-15 de agosto foi pontualmente melhor. O que ajudou não deve continuar ajudando”, disse, em referência a deflações em itens que não devem se repetir, como ingressos de cinema e seguros de automóvel.
No campo político, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos) – candidato favorito do mercado ao pleito presidencial de 2026 -, negou hoje que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) tenha autorizado sua candidatura no ano que vem, e reafirmou que pretende disputar a reeleição ao governo paulista. Operadores não viram este fator como relevante para a piora dos DIs, cujo comportamento foi mais relacionado ao exterior.
Estadão Conteúdo