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Economia

Com aproximação Trump-Lula, Ibovespa renova recordes no intradia e encerramento

Por volta das 12 horas, veio o ponto alto, com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, do púlpito da Assembleia Geral da ONU

Redação Jornal de Brasília

23/09/2025 19h04

ibovespa (1)

Foto: Reprodução/ Flickr

São Paulo, 23 – Sem escalada de tom entre Brasil e Estados Unidos no púlpito da ONU – muito pelo contrário, como se veria -, o Ibovespa fechou pela primeira vez na casa dos 146 mil pontos, e renovou também o recorde intradia, superando marcas da última sexta-feira, nesta terça-feira na inédita casa de 147 mil durante a sessão. Por volta das 12 horas, veio o ponto alto, com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, do púlpito da Assembleia Geral da ONU, dizendo que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva parece ser um homem “muito agradável” e que conversarão na semana que vem, após breve cumprimento entre ambos nos corredores das Nações Unidas – houve inclusive um abraço, segundo o presidente americano.

“Tivemos excelente química”, acrescentou Trump.

O comentário veio como uma surpresa, inclusive diplomática, colocando o Ibovespa na nova máxima histórica, aos 147.178,47 pontos, e o dólar na mínima do dia, a R$ 5,2771, em renovações de marcas à tarde, impulsionadas a princípio, também, pelo relato atribuído à ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, de que nova conversa entre Lula e Trump poderia ocorrer ainda nesta terça, à margem da ONU – o que não se confirmou, até o momento, e foi retificado para “a partir de agora”.

Assim, no fechamento, o índice da B3 mostrava ganho um pouco mais acomodado, de 0,91%, aos 146.424,94 pontos, com giro a R$ 20,5 bilhões nesta terça-feira. Na semana, em duas sessões, agrega agora 0,38% após a leve correção do dia anterior. No mês, avança 3,54% e, no ano, a alta chega nesta terça a 21,73%.

“Ele parece ser um homem muito agradável”, disse Trump sobre Lula, no discurso. “Gostei dele e ele gostou de mim. E apenas faço negócios com pessoas de quem eu gosto”, acrescentou o presidente americano. Trump chegou a mencionar que o encontro na ONU durou menos de um minuto e que, mesmo muito breve, notou “excelente química” com Lula, o que é um “bom sinal”, destacou.

O acerto ocorreu após o presidente brasileiro discursar na 80ª Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU). O encontro foi confirmado pela Presidência da República. Segundo informações da assessoria do Palácio do Planalto, “Lula e Trump tiveram um encontro rápido e totalmente amistoso” e “houve sinalização de conversa entre os dois presidentes na semana que vem”.

O abraço, a “química” e a confirmação da conversa entre os presidentes manteve o Ibovespa com folga acima dos 146 mil pontos ao longo da tarde e o dólar abaixo de R$ 5,30, com o mercado celebrando a détente entre Estados Unidos e Brasil, descolando de vez o índice da B3 do sinal misto de Nova York na sessão – ao final, negativo tanto para Dow Jones (-0,19%) como também para S&P 500 (-0,55%) e Nasdaq (-0,95%) nesta terça-feira

Entre as blue chips, destaque para a recuperação nas ações de grandes bancos, em especial as do público Banco do Brasil (ON +2,88%). Petrobras ON avançou 2,64% e a PN, 1,69%. Na ponta ganhadora do índice, Pão de Açúcar (+4,12%), RD Saúde (+3,92%) e Localiza (+3,73%). No lado oposto, MBRF (o papel que passou, nesta sessão, a reunir Marfrig e BRF, -6,72%), Braskem (-2,38%) e Lojas Renner (-2,15%). Vale ON, principal papel da carteira Ibovespa, virou do meio para o fim da tarde e fechou em baixa de 0,57%, limitando um pouco o fôlego do índice no encerramento.

“Havia muita cautela com relação ao discurso de Lula na ONU e à situação diplomática entre os dois países. O que veio foi bem mais ameno, no sentido de reaproximação, o que trouxe efeito também favorável para o câmbio na sessão”, diz Cristiane Quartaroli, economista-chefe do Ouribank. No fechamento, a moeda americana à vista mostrava queda de 1,11%, a R$ 5,2791.

“Parece que vai acontecer o que não tinha acontecido até agora: Trump sentar à mesa para negociar com o Brasil. Entre os desdobramentos possíveis estão a flexibilização das tarifas de 50% ou aumento da lista de produtos isentos. Trump falou pouco, mas o que disse, trouxe valor: em especial, quando afirma que só negocia com quem ele gosta”, observa Daniel Teles, sócio da Valor Investimentos. “A abertura está aí, o que se refletiu com clareza, hoje, tanto na Bolsa como no câmbio”, acrescenta.

“De um dia de sanções a autoridades brasileiras ontem, tivemos uma reversão hoje, inclusive em Nova York, onde veio uma realização de lucros por lá, com uma fala do Jerome Powell, presidente do Federal Reserve, recebida com mais cautela. E os discursos da ONU, ao contrário do que costuma acontecer, acabaram fazendo preço nos ativos, em especial o do Trump”, diz Matheus Spiess, analista da Empiricus.

“Outro vetor de ânimo para o mercado é que os fatos de hoje isolam de certa forma a ala mais extremista e dá força a uma alternativa moderada e competitiva para a oposição na eleição do ano que vem”, acrescenta.

“Dia bastante proveitoso, com a sinalização de conversa entre Trump e Lula resultando em recordes para a Bolsa – e com todos os setores em alta, à exceção do de proteína, exportador, que ficou um pouco para trás com o ajuste do câmbio na sessão”, diz Rodrigo Moliterno, head de renda variável da Veedha Investimentos. Ele destaca, por outro lado, o segmento de energia, com Petrobras à frente, favorecido pela alta do petróleo nesta terça-feira após quatro sessões negativas para os preços da commodity.

“Do lado de Lula, o discurso reafirmando a defesa da democracia e as críticas a sanções unilaterais foi lido como o esperado. Na prática, a combinação das falas de Lula e Trump ajudou a criar um ambiente de alívio, reforçando a percepção de estabilidade institucional no curto prazo”, diz José Áureo Viana, sócio da Blue3 Investimentos. “A aproximação entre os dois líderes reduziu a percepção de risco diplomático e abriu fluxo comprador em ativos brasileiros”, acrescenta.

Dólar

A “excelente química” entre os presidentes Donald Trump (EUA) e Luiz Inácio Lula da Silva (Brasil), conforme descrita pelo próprio republicano, foi o fator preponderante para que o real tivesse a melhor performance entre as principais divisas emergentes nesta terça-feira, 23, com o dólar à vista caindo 1,11%, a R$ 5,2791, menor nível de fechamento desde 6 de junho de 2024. Em tese, o tom mais diplomático abre margem para negociações tarifárias, com expectativa de que as autoridades marquem um encontro para a próxima semana.

“A declaração do Trump de uma química com o Lula foi a cereja do bolo para o comportamento do câmbio. Esse tom diplomático e mais amigável reduz qualquer incerteza no mercado e gera otimismo para os dois conversarem sobre o tarifaço”, afirma a gestora de câmbio da Fair Corretora, Glaucy Rosa Lima.

A expectativa de uma reunião entre os presidentes tem respaldo inclusive do Palácio do Planalto, que informou, por meio de assessoria, que “Lula e Trump tiveram um encontro rápido e totalmente amistoso” na ONU e “houve sinalização de conversa entre os dois presidentes na semana que vem”.

A alta de mais de 1% dos contratos futuros de petróleo, em recuperação após quatro sessões negativas, também deu amparo à divisa brasileira.

No pano de fundo, o mercado financeiro observou declarações do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell, com os juros dos Treasuries acentuando queda, e a ata do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) ainda sem sugerir corte de juros no curto prazo. Assim, há possibilidade de um aumento no diferencial de juros entre EUA e Brasil, o que aumentaria o cupom de risco e, na esteira, valoriza o real, segundo o economista-chefe da Frente Corretora, Fabrizio Velloni.

O presidente do Fed afirmou no início da tarde que houve enfraquecimento significativo do emprego nos EUA e rejeitou interferência política no banco central americano. Já o Copom reconheceu, em ata divulgada nesta manhã, que as medianas do relatório Focus para a inflação têm apresentado um “incipiente movimento de queda”.

Outro destaque da agenda ficou para a arrecadação federal de agosto, que somou R$ 208,791 bilhões, abaixo da mediana da pesquisa Projeções Broadcast, de R$ 214,50 bilhões, mas que segundo o analista da área fiscal da Tendências Consultoria, João Leme, não altera o entendimento de que o governo federal conseguirá entregar a faixa inferior da meta fiscal em 2025.

Juros

Os juros futuros recuaram por toda a extensão da curva a termo no pregão desta terça-feira, embalados por perspectivas de melhora na relação com os Estados Unidos, após a aproximação espontânea entre os presidentes Lula e Donald Trump na cúpula de hoje da ONU. Tendo também como suporte recuo mais firme do dólar e dos Treasuries, os DIs apagaram as altas observadas na sessão de ontem.

No fechamento, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2027 cedeu de 14,028% no ajuste de segunda-feira para 13,990%. O DI para janeiro de 2028 caiu de 13,324% no ajuste a 13,235%. O DI para janeiro de 2029 marcou 13,140%, vindo de 13,226% no ajuste precedente. O DI para janeiro de 2031 diminuiu de 13,409%, no ajuste anterior, para 13,330%.

Em entrevista à GloboNews nesta tarde, Amanda Robertson, porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, afirmou que ainda não há detalhes sobre a reunião entre Lula e Trump, que deve ocorrer na próxima semana. Segundo Robertson, a conversa entre os líderes nos bastidores da 80ª Assembleia-Geral da ONU nesta terça foi breve, mas espontânea e positiva, e os presidentes se deram conta de que as nações têm muitos pontos em comum e precisam estreitar laços.

Para Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, o bom comportamento dos DIs hoje teve como componente mais relevante as expectativas em torno de alguma resolução no impasse com os EUA. Os agentes consideram que o tom mais amistoso entre Lula e Trump sinaliza alguma solução para o imbróglio entre os dois países – que, mesmo superado, não traria grandes efeitos positivos para a economia doméstica, pondera Sanchez. “Não teve piora sistemática após o tarifaço, e me parece pouco provável que tenhamos algum incremento por causa de eventual ‘desenrosco'”, disse.

Também nesta tarde, o presidente do Federal Reserve (Fed), Jerome Powell, disse que o Fed vai seguir analisando dados sobre a economia, mercado de trabalho e inflação para decidir o nível da política monetária americana. O corte de 0,25 ponto porcentual nos juros foi uma resposta a uma mudança no balanço de riscos entre emprego e inflação, disse o comandante do Fed, com maior fraqueza do primeiro dado – mas, segundo ele, “não há caminho livre de riscos”.

Os juros dos Treasuries acentuaram levemente o ritmo de queda após as falas de Powell, mas as taxas locais mantiveram a mesma intensidade de recuo. Para Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Powell ficou “em cima do muro”, mas pareceu dar maior peso aos riscos baixistas para o emprego. “Na parte de inflação, parece haver uma preocupação com as tarifas, mas ele parece estar mais de olho nas expectativas ancoradas”, afirmou.

Com as atenções voltadas aos EUA, a ata do Copom, divulgada mais cedo, foi ofuscada. O comitê destacou novamente a incerteza em relação ao cenário externo e, no âmbito doméstico, vê moderação do crescimento, mas um mercado de trabalho ainda aquecido. A política fiscal seria fator de risco adicional, enquanto as expectativas inflacionárias seguem desancoradas em todos os prazos, ainda que haja melhora recente em horizontes mais curtos Esse quadro, para o Copom, corrobora que é preciso manter os juros em nível restritivo por mais tempo.

Diretor de pesquisa econômica do banco Pine, Cristiano Oliveira avalia que a ata preservou o viés hawkish, sem “qualquer sinalização” de alívio da política monetária no curto prazo. Em sua visão, o documento trouxe alguns trechos que permitem leitura “marginalmente menos dura” em comparação ao comunicado que acompanhou a decisão de manter a Selic, mas a mensagem central segue restritiva.

“Nesse contexto, acreditamos que a curva de juros seguirá precificando o início do ciclo de flexibilização apenas no primeiro trimestre de 2026”, afirma Oliveira. Para ele, porém, o Copom terá condições técnicas de reduzir a Selic ainda este ano.

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