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Economia

China: problemas de dívidas ocultas entram no radar de autoridades e do mercado

No último ano, ficou claro que os níveis de endividamento dos governos locais se tornaram insustentáveis

Redação Jornal de Brasília

05/12/2023 16h30

Foto: reprodução/ Getty Images

Autoridades da China estão tentando desativar uma bomba-relógio financeira que pode prejudicar gravemente seu sistema bancário. Cidades e províncias de todo o país acumularam uma enorme quantidade de dívidas ocultas após anos de empréstimos e gastos sem controle.

O Fundo Monetário Internacional (FMI) e os bancos de Wall Street estimam que o total da dívida governamental extrapatrimonial pendente é de cerca de US$ 7 trilhões a US$ 11 trilhões. Isso inclui títulos corporativos emitidos por milhares dos chamados veículos de financiamento de governos locais (LGFVs, na sigla em inglês), para financiar a construção de estradas, pontes e outros projetos de infraestrutura – ou outras despesas.

No último ano, ficou claro que os níveis de endividamento dos governos locais se tornaram insustentáveis. O crescimento econômico da China está desacelerando e o país está lutando contra pressões deflacionárias que tornarão mais difícil para os governos locais manterem seus pagamentos de juros e principal.

Economistas estipulam que uma parte significativa da dívida oculta – suas estimativas variam de US$ 400 bilhões a mais de US$ 800 bilhões – é particularmente problemática e apresenta alto risco de inadimplência. O temor é de que este cenário se transforme em uma crise financeira nacional, caso os mercados de crédito entrem em colapso e os depositantes corporativos e de varejo comecem a se preocupar com a estabilidade financeira dos bancos que detêm muitos títulos do governo local.

Os títulos dos veículos de financiamento do governo local representam cerca de metade do mercado de títulos corporativos domésticos da China, de acordo com dados da Wind, e a inadimplência poderia sufocar o financiamento de outros mutuários se muitos investidores e compradores de títulos desistissem.

As autoridades chinesas perceberam que os riscos à estabilidade financeira e ao crescimento geral do país se tornaram grandes demais para serem ignorados. Elas estão tentando lidar com o problema de forma mais sistemática e estão começando a trocar algumas dívidas ocultas por novas – e explícitas – dívidas do governo.

“Não é suficiente, mas acho que isso é apenas o começo”, analisa o economista-chefe do Morgan Stanley na China, Robin Xing, sobre as trocas de dívidas que foram feitas até agora. Ele calcula que serão necessários pelo menos US$ 700 bilhões em trocas de dívidas para resolver a maior parte da dívida oculta problemática.

A solução de longo prazo, que pode ser difícil de ser alcançada, envolveria a reestruturação da dívida de alguns veículos de financiamento do governo local e a transformação deles em empresas comercialmente viáveis. “O objetivo não é ficar livre de dívidas, mas que eles se tornem empresas suficientemente lucrativas que não dependam dos governos para obter financiamento e apoio”, analista de crédito da S&P Global Ratings, Chris Yip.

Estadão Conteúdo

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