João Paulo Mariano
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Ter um carro, em geral, garante a comodidade de ir a qualquer lugar. Mas, também, dá uma boa despesa mensal. É o litro de gasolina acima dos R$ 4,60, as longas parcelas e a manutenção. Sem contar com multas, seguro e uma batida que pode ocorrer. Isso tudo faz com que muita gente repense se precisa mesmo ter um carro ou se pode fazer uso da tecnologia e pedir um veículo por aplicativo toda vez que for circular pela cidade.
Os economistas orientam que é preciso calcular tudo no papel para perceber as vantagens e desvantagens e ter certeza de estar tomando a decisão certa.
O jornalista Fabiano Bonfin, de 31 anos, colocou tudo na ponta do lápis e se assustou ao descobrir o valor gasto com seu veículo comprado em 2012. “Eu guardei todas as notas. Coloquei a gasolina, o seguro, troca de pneu uma vez ao ano, a manutenção e até uma batidinha que eu tive. Teve multa também. Nisso, só em 2015, eu gastei R$ 10,5 mil”, lembra.
Mensalmente, os gastos chegavam a 30% do seu salário – era demais para ele, que queria comprar um apartamento. Sem contar as saídas ocasionais, Fabiano identificou que o caminho que fazia com mais frequência era sair de Ceilândia para a W3 Norte, local em que trabalhava à época. E percebeu que era possível mudar.
Qualidade de vida
Em 2016, ele vendeu o carro e começou a utilizar aplicativos de transporte, metrô e até mesmo a bicicleta, que se tornou uma paixão. Fabiano admite que houve um esforço inicial até se acostumar com a nova forma de vida, mas a decisão se revelou acertada.
Se em 2015, com o carro, ele gastou R$ 10,5 mil, em 2016, só utilizando transporte público, bicicleta ou aplicativo, a despesa diminuiu para R$ 3,5 mil – uma queda de 60%. E o apartamento, enfim, pôde ser adquirido, em Águas Claras.
“Meu nível de estresse diminuiu muito. Eu adoro dirigir, mas odiava ficar preso no trânsito, em especial na EPTG”, lembra Fabiano. Outra vantagem descoberta foi não precisar perder tempo para encontrar uma vaga ou pagar para isso. Agora, é só pedir um motorista pelo celular e pronto: de onde estiver, ele é deixado na porta do trabalho ou compromisso.
Carro “até para ir à padaria”
Se as contas levaram Fabiano a se desfazer do carro, não há gasto grande o suficiente que convença a advogada Estéfane Cruz, de 24 anos, a abrir mão do veículo comprado em 2015 e quitado em 2017. Financiado, o preço do Ford/Fiesta – R$ 30 mil, se fosse comprado à vista – saltou para R$ 42 mil.
Mensalmente, ela gasta cerca de R$ 400 com combustível, pois não mora tão longe do trabalho. Mas costuma usar o carro “até para ir à padaria”, brinca. Além da comodidade, há uma questão de saúde, já que sofre de dores nas costas e se sentiria desconfortável em um ônibus ou fora de seu veículo.
“Eu já fiz algumas contas e vi que vale mais a pena andar de ônibus ou carros de aplicativo, mas prefiro do jeito que está”, afirma. Por ano, Estéfane gasta entre R$ 7 mil a R$ 8 mil, aí incluídos R$ 1,5 mil de manutenção e estacionamentos, sem contar com as multas que chegam de vez em quando.
Para economizar, ela não utiliza o estacionamento de seu prédio, que é pago, por haver menos vagas que apartamentos. Com isso, reduz os custos em R$ 200. Mas nem tudo são flores. Estéfane reclama dos engarrafamentos. “Na ida, é mais tranquilo. Mas na volta, não tem jeito de não pegar. Sempre é uma canseira”, admite.
Veículo não é investimento para o dono
Para os especialistas ouvidos pelo Jornal de Brasília, há vários fatores que devem ser levados em consideração antes de qualquer escolha. O economista José Pagnussat recomenda colocar no papel os custos com a compra do carro, a gasolina, a troca de pneus, os imprevistos e, não menos importante, a depreciação do veículo.
O também economista Newton Marques acredita que, além disso, devem ser levadas em consideração a comodidade e a distância que a pessoa vai andar todos os dias, já que isso pode influenciar no cansaço e nos gastos com combustível.
Ele ainda adverte ser necessária atenção às multas, que podem fazer o valor do gasto mensal aumentar em algumas centenas de reais. Se o motorista não tem controle e comete muitas infrações, muitas vezes é melhor pedir que outra outra pessoa assuma o volante.
Depreciação
A perda de valor financeiro de um carro, assim que sai da concessionária, pode chegar a 30%. Newton Marques avalia esse indicativo como uma média, já que o percentual pode aumentar para 40% ou 50%, a depender do veículo e de seu uso.
Para José Pagnussat, esse é um dos motivos pelos quais as pessoas não devem considerar um carro como um investimento.
“Há um alto custo de manutenção e vários inconvenientes que fazem parte do pacote”, avalia. “Não é como um imóvel, que sofre desgaste, mas aumenta o valor. Um carro se deprecia fácil. Infelizmente, tem gente que pensa que é investimento e, por isso, pode acabar perdendo dinheiro”, alerta.
Futuro
Atualmente, só no Distrito Federal, existem três empresas que fazem o serviço de transporte por meio de aplicativos. Elas levam e trazem, todos os dias, os milhares de brasilienses que não querem utilizar o transporte público, não possuem carro ou não querem utilizar os seus veículos.
Com o aumento da tecnologia nos próximos anos e da segurança em relação ao uso desses aplicativos, José Pagnussat acredita que mais pessoas podem abandonar os carros e passarem a utilizar formas alternativas de locomoção.
“As pessoas vão perdendo a ideia que só podem se movimentar por meio de carro próprio, e os aplicativos devem oferecer mais confiança, já que vai ser possível acompanhar todo o trajeto”, destaca.
Por enquanto, o jeito mesmo é fazer os cálculos e adicionar nessa equação o bem-estar que o carro próprio ou o serviço de aplicativo oferece para cada pessoa. “Mesmo que inconsciente, tem que analisar”, conclui.
Saiba mais
Apesar das recomendações dos especialistas e dos casos mostrados, a análise deve ser feita levando com consideração fatores que dizem respeito ao perfil de cada pessoa, assim como qualquer outra decisão que envolva finanças. Nem tudo vale para todos.
É importante levar em consideração os seguintes custos: média mensal com combustível e distância percorrida; preço do carro, tanto à vista, quanto adquirido financiado; seguro automotivo; custos com estacionamento; média de multas; e, igualmente importante, manutenção.
Para tanto, será preciso anotar os gastos. Nem todo mundo tem tal costume, mas essa se revela a melhor maneira de começar a entender o gasto mensal, não apenas com carro, e o que é possível economizar. Em geral, sempre dá para aferir um pouco mais de vantagem.
Para os que contam com a eficiência do transporte público, os gastos tendem a ser ainda menores, já que possibilitam abrir mão, em alguns momentos, da locomoção por aplicativo.