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Economia

Campos Neto reconhece que decisão dividida do Copom em maio arranhou credibilidade

Campos Neto participou de uma reunião com investidores organizada pelo Deutsche Bank, em Londres

Redação Jornal de Brasília

28/10/2024 15h51

Foto: Sérgio Lima/AFP

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, reconheceu que a decisão dividida do Comitê de Política Monetária (Copom) no mês de maio – que opôs diretores indicados pelo presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, e aqueles que já estavam na autoridade monetária sobre o ritmo de corte de juros – provocou uma cicatriz na credibilidade da autoridade monetária. Ele falava justamente sobre a credibilidade de políticas monetária e fiscal quando fez o mea culpa. Campos Neto participou de uma reunião com investidores organizada pelo Deutsche Bank, em Londres.

“Quando olhamos para as decisões que o Banco Central tomou ultimamente, eu entendo a decisão tomada em maio criou uma cicatriz em termos de credibilidade. Quando você olha para o que temos feito ultimamente, tudo tem sido com um grande grau de consenso, a comunicação tem sido basicamente a mesma com todos os diretores. Minha percepção é que do lado do Banco Central pode haver algum problema de credibilidade, mas tentamos resolver isso”, defendeu o presidente do BC.

Na avaliação de Campos Neto então, a desancoragem das expectativas no Brasil nesse momento ainda é mais influenciada pelo aspecto fiscal. “Não tenho evidências empíricas disso, mas essa é a sensação que tenho dos preços de mercado para a reação, que vimos na parte posterior dessa desancoragem, acho que está muito mais associado ao fiscal”, disse.

Últimos números de inflação no Brasil mistos

O presidente do Banco Centra disse também que os últimos números de inflação do Brasil trouxeram mensagens distintas. Em duas ocasiões, os núcleos de inflação tiveram leituras melhores. No último IPCA-15, houve uma piora disseminada mas marginal da inflação subjacente.

“No Brasil, a inflação entrou em uma fase de convergência, mas claramente estacionou em algum momento”, comentou Campos Neto. “Estávamos em um processo de convergência, aí precisamos ajustar o ritmo de cortes porque estávamos vendo uma pressão vindo, e as pressões vieram maiores e mais rápido o que o esperado.”

O banqueiro central citou as surpresas positivas repetidas no ritmo de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), além de “alguma pressão” no mercado de trabalho, com o desemprego caindo a nível muito baixo, apesar de alguns sinais distintos na margem

Campos Neto destacou, ainda, o aumento das projeções de inflação do BC e das inflações implícitas. Por tudo isso, houve a opção de tornar o balanço de riscos assimétrico e revisar o hiato do produto para o campo positivo, disse.

Falando sobre a inflação, o presidente do BC destacou que o aumento quase exponencial dos eventos climáticos – que se manifesta ainda mais em países produtores de alimentos – indica um risco para os preços no longo prazo.

Aprofundamento do mercado de juros e poder da política monetária

Campos Neto disse ainda que o Brasil tem passado por um processo de “aprofundamento” do mercado de renda fixa, que tende a resultar em um aumento do poder da política monetária. Ele destacou, no entanto, que é difícil estimar o efeito líquido desse processo, quando se leva em conta o crescimento do crédito direcionado.

“O mercado olha muito para o que é o crédito subsidiado e qual seria o seu impacto no juro real neutro, mas também acho que há um aprofundamento do mercado”, afirmou Campos Neto.

O banqueiro central ponderou que as emissões do mercado de renda fixa cresceram e que mesmo instrumentos isentos de impostos, como LCAs e LCIs, têm essa característica levada em conta nos preços. “Você tem um ajuste inicial porque é livre de impostos, mas não é como se isso não fosse influenciado pela política monetária”, ele afirmou.

Estadão Conteúdo.

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