A Bolsa acaba de inaugurar novas funcionalidades para os títulos de crédito em sua plataforma de registro de balcão com a meta de avançar sua atuação no registro de ativos de renda fixa. Com a possibilidade do registro das Letras Financeiras (LF) e do Certificado de Depósito Bancário (CDB) escalonado, que são títulos em que as taxas de juros aumentam com o tempo, por exemplo, a expectativa é de que o volume de registro ganhe mais atenção. A força da BM&FBovespa no segmento deverá ser testada com a integração das clearings.
O diretor executivo de Produtos da BM&FBovespa, Eduardo Guardia, disse que a ideia é lançar mais produtos de balcão, mas com o olhar também para a clearing integrada, de forma a otimizar a plataforma. “Iremos lançar produtos de balcão com contraparte central, o que no final do dia irá atender uma demanda do mercado e permitir que a gente otimize o novo modelo de risco da clearing integrada”, disse o executivo, em coletiva de imprensa na semana passada.
Segundo o executivo, a Bolsa trabalhará nos próximos meses para migrar todos os derivativos de balcão para a nova plataforma, como o contrato a termo de moedas (NDF, Non Deliverable Forward), com e sem contraparte, destaca o diretor de Produtos da Bolsa. Na segunda metade do ano, o foco ficará no desenvolvimento de novos produtos, em especial o swap com fluxo de caixa, que permite pagamento de diferencial de juros durante a vigência do contrato, e opção flexível de ação, que permite ao investidor, por exemplo, o direito de receber a valorização da ação que superar o preço do exercício, ambos já integrados com a nova clearing, lembrou.
A questão aqui é conseguir atrair os registros para serem feitos na Bolsa e não na Cetip, onde está registrada grande parte dos títulos de renda fixa privada. “A Cetip recentemente percebeu que precisa ficar mais perto dos seus clientes e, por isso, acho que hoje precisaria haver um descontentamento muito grande para um cliente deixar a Cetip para fazer seu registro na Bolsa, já que existe um custo para essa troca”, afirma o analista do UBS, Frederic de Mariz.
A plataforma de registro de títulos de renda fixa da Bolsa, batizada de ibalcão, iniciou os registros em março do ano passado, após aprovação do Banco Central (BC) e Comissão de Valores Mobiliários (CVM). A Bolsa inaugurou o serviço com o Certificados de Operações Estruturadas (COE), Letras de Crédito Imobiliário (LCI) e CDBs. Os novos produtos que vieram para compor o portfólio neste ano, segundo relatório do BTG Pactual no fim do mês passado, foi o maior desenvolvimento para o ibalcão desde o seu lançamento. “Com mais produtos sendo oferecidos a Bolsa pode competir em condições mais similares que a Cetip”, destacaram no documento citado os analistas Eduardo Rosman, Gustavo Lobo e Jose Luiz Rizzardo. Para eles, esse movimento da Bolsa em busca de diversificação de receitas é fundamental, aumentando, ainda, o relacionamento da companhia com os bancos. “Isso é vital diante de um cenário não inspirador em volumes de ações e futuros”, afirmaram no relatório citado.
Para o presidente da Bolsa, Edemir Pinto, essa atração do cliente será inevitável quando as ações migrarem para a nova clearing da companhia, na próxima fase de integração das câmaras de compensação. “O grande competidor da Cetip será esse sistema de risco, porque ele vai ser um atrativo para as empresas, intermediários, os bancos, já que ele permite uma redução de capital com a mesma segurança”, disse o executivo, em entrevista recente ao Broadcast. Na prática, o cliente se sentiria atraído em realizar os registro na Bolsa já que isso significaria, no fim das contas, uma economia, uma vez que esses títulos funcionariam como garantia de outras operações, isso porque o novo sistema de risco passa a olhar de maneira vertical para as posições do investidor.
Um analista estrangeiro, que falou na condição de não ser identificado, calcula que a clearing integrada, assim como o novo sistema de risco, que passa a considerar todo o portfólio do investidor, poderá garantir uma redução de custo de capital de até 50%, o que, na prática, significará, pela primeira vez, um incentivo para que bancos e demais instituições migrem seus ativos de renda fixa privada para a Bolsa. “A Bolsa não precisará baixar preços. Antes, esse cliente não ganhava nada em tirar esses ativos da Cetip para levar para a Bovespa. Com a margem requerida menor, essa atração irá ocorrer”, destacou o analista.
Do outro lado, a Cetip também tem no radar a possibilidade de entrar na seara de negócios da BM&FBovespa. Em dezembro do ano passado, o presidente da Cetip, Gilson Finkelsztain, disse que ter uma contraparte central, que garante a liquidação das operações dos investidores, será o primeiro passo para caso um dia a companhia decida se tornar uma operadora de bolsa e, com isso, virar concorrente direta da BM&FBovespa. O pedido para o Banco Central (BC), segundo o executivo, será entregue em “algum momento em 2015”. Filkensztain disse, no entanto, que neste momento não há justificativa para se criar uma segunda bolsa no Brasil, já que o mercado não cresce para absorver uma nova companhia.
Ainda em relação à concorrência com a Bolsa no registro de títulos de renda fixa privada, o executivo disse que a Cetip segue líder na maioria dos produtos”. “Temos uma posição muito sólida com nossos produtos, respeitamos o competidor, mas nosso produto é bom e tem deixado o cliente satisfeito”, afirmou na ocasião.