Brasília, 24 – As exportações brasileiras para a China cresceram 15% em setembro deste ano em relação a igual mês do ano passado, aponta estudo do Conselho Empresarial Brasil China (CEBC). No ano, entretanto, os embarques do Brasil ao país asiático tendem a ficar próximos da estabilidade na comparação com o ano anterior. No acumulado, de janeiro a setembro, os embarques brasileiros recuaram 1,3% ante igual período de 2024, a US$ 75,5 bilhões.
“Dificilmente deve haver mudança desse cenário porque o volume vendido dos principais produtos, soja, petróleo, minério de ferro, não vai aumentar muito, ao mesmo tempo que os preços continuam em baixa. Até o fim do ano, deve haver crescimento marginal ou queda nas exportações”, projetou o diretor de Conteúdo e Pesquisa do CEBC, Tulio Cariello.
Já as exportações totais do Brasil para o mundo cresceram 1,1% nos nove meses deste ano. No acumulado deste ano, apesar da leve queda, a China se manteve como o principal destino das exportações brasileiras, com participação de 29,3% de tudo que foi exportado pelo Brasil, queda de 0,7% em um ano. “Quase o triplo dos Estados Unidos”, destaca o CEBC no estudo.
O recuo na receita gerada com as vendas externas ao país asiático foi gerado, segundo o conselho, sobretudo pela contração no valor das vendas de minério de ferro e petróleo.
Entre janeiro e setembro deste ano, as exportações brasileiras para a China foram dominadas pela agropecuária, que manteve a participação de 39,7%, e pela indústria extrativa, que fechou o período com 39,4%. “As exportações das duas atividades econômicas chegaram a cerca de US$ 30 bilhões, em análise individual. A indústria de transformação, mesmo com a menor fatia, foi a única atividade econômica a expandir sua participação, subindo para 20,8%”, observou o conselho empresarial. As vendas deste setor para a China cresceram 19,5%, somando US$ 15,7 bilhões.
Em contrapartida, o CEBC alerta para a retração de 20% nas exportações brasileiras aos Estados Unidos no último mês. Dos dez principais destinos dos produtos brasileiros, apenas o mercado americano registrou queda em um momento marcado por elevadas tarifas comerciais impostas pelo governo Trump ao Brasil, mostra estudo do CEBC. No ano, a queda é de 0,6%, com os embarques ao mercado norte-americano respondendo por 11,3% de tudo que o Brasil exportou, com receita de US$ 34,3 bilhões.
A China também foi a principal origem das importações brasileiras, respondendo por 25% de tudo que foi internalizado pelo País, seguido dos Estados Unidos, com participação de 16%. De janeiro a setembro deste ano, o Brasil desembolsou 15,4% mais com produtos chineses na comparação com igual período do ano passado, alcançando US$ 53,4 bilhões. O incremento superou o aumento de 8,2% nas importações totais do Brasil e da alta de 11,8% na importação dos Estados Unidos. A indústria de transformação respondeu por 99,6% das importações nacionais com origem na China no acumulado deste ano. As importações de produtos químicos chineses pelo Brasil também avançaram, 28% na comparação entre janeiro-setembro de 2025 e 2024, somando US$ 10,4 bilhões, destes US$ 1,7 bilhão são referentes a compras de herbicidas, que aumentaram 38% em um ano.
No ano, a corrente comercial entre Brasil e China cresceu 5%, para US$ 128,9 bilhões, com superávit de US$ 22 bilhões para o Brasil – o equivalente a 48% do saldo de US$ 46 bilhões do país com o mundo entre janeiro e setembro de 2025. “Mesmo com um superávit largamente favorável, o saldo do Brasil com a China caiu 27% em relação ao registrado no mesmo período de 2024”, destaca o CEBC.
O saldo da balança comercial brasileira com a China no ano ficou positivo, diferentemente do saldo brasileiro com os Estados Unidos. “Superando com ampla margem o saldo nacional com os EUA, que gerou déficit de US$ 5,1 bilhões para o Brasil – quase o quádruplo do déficit verificado em janeiro-setembro de 2024. A aplicação de sobretaxas pelos EUA a produtos brasileiros resultou em forte desequilíbrio comercial entre os dois países”, observou o conselho.
A situação do Brasil em meio à guerra comercial entre Estados Unidos e China continua favorável para o fornecimento brasileiro ao mercado chinês, observa o conselho empresarial. “Temos um mercado aberto na China e garantido, e quando há suspensões são questões reversíveis de ordem sanitárias. Não há nenhum perigo iminente em relação a isso”, avaliou Cariello ao Broadcast Agro, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado.
Para Cariello, uma eventual aproximação entre Estados Unidos e China com potencial da redução das tarifas aplicadas mutuamente pode gerar vantagem aos produtos americanos no mercado chinês em produtos nos quais comumente o Brasil concorre com os Estados Unidos no acesso à China, caso da soja e das carnes. Mas o diretor do CEBC minimiza eventuais impactos de um acordo sino-americano sobre as exportações brasileiras para a China em 2025. “Não deve haver muita diferença no acumulado do ano, porque vemos muitas incertezas nessas negociações. Além disso, o Brasil já tem mercado muito forte na China para produtos agropecuários e, ao longo de todo o ano, as vendas americanas caíram para a China, o que dificulta uma recuperação imediata”, apontou.
Estadão Conteúdo