Menu
Economia

Apagão é risco, não certeza, mas conjunto de ações pode impedir o pior

O problema que o País pode ter que enfrentar é no horário de ponta, quando mais consumidores e empresas concentram o consumo ao mesmo momento

Redação Jornal de Brasília

20/06/2021 9h13

Foto: Reprodução

A exemplo de 2001, o País teve um período úmido muito ruim e registra baixos índices de armazenamento nos reservatórios. Mas para o presidente da PSR, maior consultoria de energia do País, Luiz Barroso, o apagão é um risco, mas não uma certeza, uma vez que o governo tem hoje um rol de alternativas maior do que tinha na época. “Existe risco de apagão, mas é importante deixar claro que isso é um evento que pode ocorrer, e que não necessariamente vai ocorrer. Há um conjunto de ações que podem ser decisivas para garantir que isso não ocorra.”

Se a situação é difícil no Sudeste e Centro-Oeste, onde ficam os reservatórios das principais hidrelétricas do País, o nível de armazenamento no Norte, Nordeste e mesmo no Sul é mais confortável, destaca Barroso. O sistema de linhas de transmissão é mais robusto do que há 20 anos, o que permite transferências de energia de uma região para outra antes impossíveis. A oferta de energia é maior, e as fontes, mais diversas, com maior participação de eólicas e solares, que antes nem existiam, e de termelétricas movidas a gás, diesel e óleo. É possível ainda recorrer à importação de energia da Argentina e do Uruguai.

O problema que o País pode ter que enfrentar é no horário de ponta, quando mais consumidores e empresas concentram o consumo de energia no mesmo momento. A contratação de usinas de forma emergencial e específica para atender o pico de consumo é uma opção, mas Barroso insiste em uma solução mais simples: o deslocamento das atividades da indústria para horários menos visados mediante sinais de preço, chamado de resposta à demanda. Por meio do programa, o governo “compra” o direito de mudar o horário do consumo das empresas, que são remuneradas por meio de um encargo na conta de luz.

“Sem dúvida, as térmicas são uma tecnologia sobre a qual temos mais controle para acionar e desligar, e também podem ser entregues em tempo relativamente curto. Mas podemos ‘comprar’ a redução de consumo da indústria, que é algo imediato e que não exige recursos nem tempo como uma usina nova”, afirmou.

Consumidor

Mesmo que o governo consiga evitar um racionamento, a fatura chegará já no próximo ano – e não será barata. A estimativa é que as termelétricas vão custar R$ 8,99 bilhões neste ano, o que representa um aumento adicional de 5% no custo da energia, que será repassado aos consumidores por meio das tarifas em 2022 – consumidores livres, como a indústria, já estão pagando neste ano.

“Gerar térmica como está se pretendendo significa atender o consumo a qualquer custo”, afirma o ex-diretor da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) Edvaldo Santana. “Seria mais barato pedir ao consumidor uma racionalização do consumo, pois a tarifa vai explodir no ano que vem. Não acho que isso seja uma boa solução. O problema é que ninguém no Brasil pode falar em racionamento, pois isso tem um efeito político muito grande”, afirma.

Algo que traz mais complexidade para o gerenciamento da crise é a quantidade de agentes e atores no sistema elétrico. Em 2001, a participação da Eletrobrás era mais relevante, e a maioria das distribuidoras ainda pertencia aos Estados. Todos os clientes eram atendidos por distribuidoras e não havia 5 mil consumidores livres — que podem escolher de quem comprar — e mais de 200 comercializadoras que hoje atuam no setor.

Há 20 anos, a meta de redução do consumo foi imposta a todos e variava de 20% a 50%, com diferença para cota residencial e industrial. Quem não cumpria pagava multa e poderia sofrer cortes. Os geradores foram mais penalizados e tiveram as maiores perdas financeiras.

Com o fim do racionamento em fevereiro de 2002, as distribuidoras tiveram direito a reajuste extraordinário, já que tiveram prejuízos em razão da queda forçada na demanda. A indústria teve que arcar com aumento de 7,9%, e os consumidores residenciais, de 2,9%, índices que permaneceram nas tarifas por seis anos, em média.

Estadão Conteúdo

    Você também pode gostar

    Assine nossa newsletter e
    mantenha-se bem informado