São Paulo, 15 – O chairman e sócio-fundador do BTG Pactual, André Esteves, avaliou na quarta-feira, 13, que a valorização do real nos últimos meses está mais ligada à reversão do otimismo que existia no mercado com o governo de Donald Trump nos Estados Unidos no fim do ano passado do que propriamente a motivos domésticos.
“Na verdade, não aconteceu nada com o real; aconteceu com o dólar. O movimento que o real fez é muito parecido com o de outras moedas, outras moedas emergentes ou mesmo moedas de G7”, comentou Esteves durante painel sobre o cenário macroeconômico do AgroForum, evento promovido pelo BTG.
Conforme o banqueiro, a agressividade da política comercial americana, com tarifas aplicadas até mesmo a nações amigas, como o Canadá, “eclipsou” o entusiasmo dos investidores com as agendas de Trump consideradas pró-mercado, como o apoio ao empreendedorismo, a desregulamentação e o corte de impostos de empresas.
Em paralelo, lembrou, o dólar fechou o ano passado fortalecido pela performance “espetacular” do mercado de ações. Por um período prolongado – quatro ou cinco anos -, os Estados Unidos, disse Esteves, funcionaram como um “buraco negro financeiro”, atraindo capitais do mundo inteiro.
“Quando começa o governo Trump, percebemos que aquela agenda que todo mundo estava atrás foi um pouco subordinada a uma agenda muito mais agressiva do que se esperava em relação a tarifas”, afirmou o banqueiro quando abordou a inflexão de expectativas na maior economia do mundo.
A consequência, emendou, foi um movimento de reversão de preços. O sócio do BTG pontuou que o ataque tarifário dos EUA contra parceiros comerciais e aliados geopolíticos históricos contribuiu para gerar uma “certa insegurança” do resto do mundo em relação ao dólar.
“A percepção de segurança, previsibilidade, institucionalidade, rule of law Estado de Direito em relação aos Estados Unidos mudou. Isso é que fez o dólar se desvalorizar”, enfatizou Esteves.
Taxa de juros
O chairman e sócio-fundador do BTG Pactual avaliou também que os juros altos estão produzindo efeitos na convergência da inflação, o que pode dar espaço para o Banco Central (BC) começar a cortar a Selic a partir de dezembro ou janeiro.
Esteves disse que o IPCA deve fechar agosto com variação negativa, ou seja, mostrando deflação. “Parece que estamos ganhando a batalha, e o juro pode começar a cair ou em dezembro ou em janeiro. Muito provavelmente o juro vai cair ao longo do ano que vem todo, o que é uma boa notícia para todos nós”, afirmou o banqueiro.
Segundo Esteves, o Banco Central tem cumprido o papel de combater a inflação, mostrando sua independência “pelo menos no campo monetário”, o que tem ajudado a derrubar as expectativas do mercado ao comportamento dos preços.
Estadão Conteúdo