Terno, gravata e planilhas. Essa provavelmente seria a rotina de Gabriel Lira se o amor pelo design não o tivesse levado para trilhar os caminhos de criação e desenvolvimento de marcas. Assim como diversos jovens, escolheu o curso superior baseado em um desejo que foi desmontado ao longo do caminho..
Mesmo com os percalços, Lira se tornou o co-fundador da Gruv, uma das agências destaque em 2021, onde empreende e gere um time de 70 colaboradores.
Sua história com o empreendedorismo já tão jovem, serve de inspiração para quem, assim como esteve, se encontra em situação de mudança de área, investimento no próprio negócio e sonhos promissores criando ideias.
Aos 23 quando embarcou na abertura de uma loja de tênis, não imaginava que a empreitada lhe traria vivências tão decisivas para investir em uma agência. Dentre as marcas atendidas, destacam-se Uber, Skol e BRB Play.
Além do sucesso com as campanhas, Lira por meio da Gruv auxilia pequenos empreendedores a alcançar voos altos, dando-lhes a oportunidade de aprender e desenvolver com os melhores.
- Veículo: Quando você descobriu que queria ser um profissional do design e criações?
Gabriel Lira: Desde moleque eu desenhava. Eu gostava de recriar os logos de marcas, como Adidas, Nike ou das bandas que eu curtia… então sempre soube que faria isso. Eu pensava que teria apenas um estúdio focado em identidade visual, que não deixa de ser empreendedorismo. O que eu não imaginava, é que as coisas fossem caminhar para esse resultado, e que eu me tornaria esse empreendedor, que não apenas desenharia, mas que fundaria várias empresas e seguiria pelo ramo.
- Veículo: E como foi esse processo? Começou na faculdade?
Gabriel Lira: Minha história com a faculdade é peculiar. Eu sempre quis trabalhar com criação de marca, pois eu acho incrível o poder que elas têm. Quando eu tinha uns 16 pra 17 anos, durante uma conversa informal com o irmão de um amigo, falei sobre isso e ele me explicou que eu poderia ser diretor de arte ou de agências de publicidade. Aí eu pensei ‘ótimo, é isso que eu quero’. Pesquisei algumas coisas, mas nessa idade a gente não tem muitas referências, na real eu gostaria de desenho mesmo. Mas me identifiquei com algumas informações e me inscrevi no curso de publicidade, meio que erroneamente.
- Veículo: E essa entrada na faculdade de publicidade atrapalhou sua carreira como designer?
Gabriel Lira: Muito pelo contrário! Que bom que parei lá, porque se tivesse seguido um curso focado apenas como designer ou identidade visual, talvez eu não tivesse onde estou e com as empresas que eu tenho, como um empreendedor de resultados tão significativos. Busquei outros meios de me profissionalizar no desenho e segui na Publicidade porque formou a minha noção de mercado e eu gosto de quem me tornei profissionalmente. Poderia ter acontecido um resultado diferente, mas deu tudo certo!
- Veículo: Como você buscou esse conhecimento fora da faculdade?
Gabriel Lira: Conciliei os estudos a partir do segundo semestre da faculdade. Comecei a fazer cursos mais especializados em coisas que eu queria aprender, como o de identidade visual com Alexandre Wollner, que é um designer renomado no Brasil, e mais outras dezenas de métodos que fui absorvendo no processo. Aprendi muito dessa forma.
- Veículo: A Gruv é uma das suas marcas mais conceituadas, a agência já atendeu em torno de 300 empresas pelo Brasil e pelo mundo. O que você acredita ser o diferencial da Gruv no mercado hoje?
Gabriel Lira: A nossa forma de pensar, com certeza. É completamente diferente, nosso lema é desafiar o normal e tentamos fazer isso de diversas formas. Ao trocarmos ideias com as marcas, elas identificam isso, sempre. Esses dias, por exemplo, estávamos conversando sobre o desejo de atender uma grande marca nacional de bebidas e, velho! Eles quiseram conversar com a gente! Um cara que a gente considera referência nos procurou para uma campanha, inclusive com uma marca internacional gigantesca, então a gente acha incrível esse tipo de coisa e eu sei que isso acontece porque a gente consegue entregar diferenciais.
- Veículo: Bom, além disso, a Gruv tem um programa de responsabilidade social. Você pode falar um pouco mais sobre?
Gabriel Lira: Sim. A cada 6 meses a gente abre processo seletivo para empresas que queiram ser atendidas por nós, mas não possuem recursos no momento, então prestamos os serviços para a ideia escolhida, e revertemos parte do custo em cestas básicas e distribuímos a algumas instituições que precisam. É uma forma de devolver algo para a sociedade.
Temos outro projeto, que não é social, mas que abre portas do mercado aos jovens, que é o Gruv Start, onde selecionamos universitários para fazer uma espécie de treinee conosco. Nesse projeto, eles passam por diversas áreas e vivem situações do dia a dia que os ajudam a escolher a carreira, para que não aconteça com ele o que aconteceu comigo. Ainda bem que comigo deu certo, mas poderia não ter dado, eu poderia ter que largar a faculdade e fazer outra, então o que a gente faz é dar experiência para o universitário, na área que ele acredita ter mais aptidão.
- Veículo: E num cenário de tantas criações e conceitos de arte, porque a Gruv tem um logo “preto e branco”?
Gabriel Lira: A simplicidade é o último grau de sofisticação. A gente poderia ter várias cores, mas acreditamos muito que o simples é mais difícil de se conseguir. Quando se consegue chegar no resultado, no campo visual, com quase nada, realmente é um desafio tremendo num mundo completamente poluído e denso de tanta informação. A Apple, por exemplo, trabalha muito com esse conceito de tirar, tirar, tirar e deixar só o essencial e a mensagem disso é muito forte.
- Veículo: Você já criou algum conceito em um lugar inusitado, na rotina do dia a dia, por exemplo?
Gabriel Lira: O lugar que eu mais gosto de pensar e quando surgem várias ideias, é depois que eu faço exercício físico. Ou durante o exercício, mesmo enquanto estou correndo, minha cabeça produz, fica a mil! Eu pratico muitos esportes, gosto de academia e sinto que a mente se exercita em conjunto.
- Veículo: Sua marca defende desafiar o normal, e buscar a entrega de 122%. De onde veio esse cálculo filosófico?
Gabriel Lira: O número 22 pra gente tem uma relação interessante. A gente fundou várias empresas em dias 22, abriu o CNPJ, todos os sócios casaram em dias 22… é uma coisa meio mística que a gente tem na empresa e isso perdura na nossa jornada (risos). Então foi uma forma de trazer esse número para nossa cultura, pois entendemos que nem sempre vamos conseguir dar 100%, todos os dias. Somos humanos, isso é normal! Temos términos de relacionamentos para lidar, eventuais problemas de saúde física ou emocional… Mas se nos dias bons, a gente fizer mais que o esperado, entregar em torno de 122%, no final das contas o resultado sempre vai ser positivo, entende? Então se em algum momento eu entreguei 80% apenas, no dia que eu fiz 122% já cobriu meu gap.
- Veículo: Você é um modelo de sucesso no ramo, hoje bastante concorrido. Tem alguma dica pra quem está começando?
Gabriel Lira: Eu vou acabar entrando num clichê para responder essa pergunta, mas não tem jeito. A primeira coisa é acreditar no poder dos relacionamentos, ninguém faz nada sozinho. E se você quiser fazer alguma coisa sozinho, você vai ter problemas, então acredite que você precisa de ajuda e que a construção de relacionamentos vai te levar longe. A segunda coisa é não acreditar se alguém disser que você não vai conseguir, porque só quem pode dizer isso é você mesmo. Se você acredita no processo, na metodologia que você está utilizando, segue firme que você vai alcançar o que deseja. E pra finalizar, não compare o seu início com o meio de ninguém. As pessoas tendem a se comparar e às vezes o profissional que você se compara está há 10 anos atuando na área, enquanto você está começando agora. Use de inspiração, mas não comparação.