PAULO EDUARDO DIAS E ANDRÉ FLEURY MORAES
FOLHAPRESS
A vigilante que estava na Biblioteca Mário de Andrade durante o roubo de obras de arte na manhã de domingo (7) prestou depoimento a policiais civis nesta terça-feira.
Ela estava acompanhada de um advogado e de representantes da empresa à qual presta serviço.
A funcionária saiu da delegacia de forma apressada e disse ter sido rendida por um homem armado. O outro ladrão teria sido o responsável por roubar os objetos, que seguem desaparecidos.
Um homem está preso. Felipe dos Santos Fernandes Quadra, 31, teve a prisão temporária de 30 dias decretada pela Justiça, conforme nota da defesa dele.
A polícia tenta localizar o segundo suspeito de envolvimento no roubo e assim tentar chegar em quem teria encomendado o roubo.
Segundo o consultor em segurança Alan Fernandes, conselheiro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a facilidade com que criminosos entraram e saíram com as obras mostra que a Prefeitura de São Paulo subestimou riscos em torno da exposição que ocorria no local com obras do francês Henri Matisse e do brasileiro Candido Portinari.
Ele avalia que a gestão Ricardo Nunes (MDB) não considerou o valor real das produções.
“A dinâmica do roubo mostra uma fragilidade muito grande na segurança do espaço”, afirma Fernandes.
Ao render a segurança que estava no local, a dupla a levou até uma sala e a obrigou a entregar o rádio de comunicação e o celular. Enquanto isso, o segundo suspeito retirou os quadros da parede. Não houve vítimas nem relatos de tiros disparados.
Em nota, a Secretaria de Cultura e Economia Criativa afirmou que “a biblioteca dispõe de equipe de vigilância e sistema de câmeras de segurança, cujas imagens foram encaminhadas às autoridades”.
Segundo a pasta, 24 pessoas trabalhavam na vigilância do local no momento do roubo.
Leiloeiros estimam que o valor total das produções atinja R$ 4,5 milhões, mas que isso não significa que os autores do crime conseguirão revendê-las a esse custo.
A Secretaria de Cultura e Economia Criativa disse que todas as obras possuem apólice de seguro, mas que “obras de acervos públicos têm valor cultural, histórico e artístico, não sendo passíveis de mensuração exclusivamente econômica”.
“Para fins administrativos e de gestão de risco, as obras contam com avaliação técnica e cobertura por apólice de seguro, conforme critérios de mercado e de preservação patrimonial.”
O conjunto fazia parte do acervo municipal e integrava a exposição “Do Livro ao Museu: MAM São Paulo e a Biblioteca Mário de Andrade”, encerrada no próprio domingo. O caso é investigado pela 1ª Cerco (Central Especializada de Repressão a Crimes e Ocorrências Diversas).
A rapidez da ação sugere que o crime se deu sob encomenda, afirma o pesquisador Tadeu Chiarelli, professor da Escola de Comunicação e Artes da USP (ECA-USP).
“Temos um problema muito grande no que diz respeito à venda dessas obras, sobretudo com relação às de Matisse. É um conjunto raro, no qual todo mundo vai ficar de olho”, afirma Chiarelli.
Por isso mesmo, segundo ele, “é difícil até de a pessoa colocar na sala de casa”.