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Brasil

Testemunha liga líder de pesca ilegal a casos de Bruno e Dom e de servidor morto em 2019

Colômbia financia a prática de pesca ilegal há 24 anos, conforme a investigação da PF. Ele fornece barcos, motores e insumos

FolhaPress

14/08/2022 11h45

Foto: AFP

Vinícius Sassine
Manaus, AM

Uma testemunha sob proteção da polícia fez uma conexão entre os casos do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips, mortos em junho deste ano, e do assassinato de Maxciel Pereira dos Santos, funcionário da Funai, em setembro de 2019.

A testemunha, cujos depoimentos são usados na investigação da Polícia Federal sobre um esquema de pesca ilegal no Vale do Javari, afirmou que Maxciel foi morto porque as apreensões de pescados que fazia causaram grandes prejuízos ao suposto líder do esquema. O crime segue sem esclarecimento até hoje.

O líder do grupo criminoso, segundo a PF, é o colombiano Ruben Dario da Silva Villar, o Colômbia, que teria sofrido os prejuízos com as apreensões de peixes feitas por Maxciel.

Colômbia lidera e financia o esquema de pesca ilegal na terra indígena Vale do Javari e nas imediações, conforme a PF. A região fica na tríplice fronteira do Brasil com o Peru e a Colômbia.

Integrantes desse grupo criminoso assassinaram Bruno e Dom em junho, segundo denúncia apresentada à Justiça Federal pelo MPF (Ministério Público Federal) no Amazonas.

Colômbia está conectado aos dois crimes, conforme a testemunha levada em conta pela PF. A identidade da testemunha, que está sob proteção, não é revelada.

No caso de Bruno e Dom, a embarcação usada pelo pescador Amarildo Oliveira, o Pelado, para cometer o duplo homicídio foi comprada por Colômbia, segundo o depoimento da testemunha.

O suposto líder do grupo criminoso também foi o responsável por comprar o barco onde foram apreendidos 400 kg de pirarucu, 400 kg de carne de animal silvestre, 2 tartarugas e 35 tracajás pescados e caçados de forma ilegal na região do Vale do Javari, afirmou a testemunha.

A carga foi flagrada enquanto ocorriam as buscas pelos corpos de Bruno e Dom, em junho.
Procurada, a defesa de Colômbia não respondeu aos questionamentos da reportagem.

Todos esses elementos foram levados em conta pela Justiça Federal para decretar sete prisões preventivas no curso do inquérito que investiga o esquema de pesca ilegal no Vale do Javari. A Justiça também autorizou buscas e apreensões nas casas dos investigados.

A PF fez uma operação na região no sábado (6) para cumprir os mandados de prisão e de busca.

Entre os presos estão três suspeitos de participação na ocultação dos corpos de Bruno e Dom. Eles são todos parentes de Pelado. A decisão inclui Pelado e Colômbia, que já estavam presos preventivamente.
O primeiro, pelos assassinatos de Bruno e Dom. O segundo, por uso de documentos falsos. A PF ainda investiga a possibilidade de Colômbia ter atuado como mandante.

O grupo é perigoso e há diversos indícios disso, o que justificou as prisões preventivas, conforme a decisão da Justiça.

Um dos indícios citados é o homicídio de Maxciel, que teria sido motivado por apreensões de peixes e consequente prejuízo a Colômbia, segundo a decisão judicial.

Outros elementos da periculosidade são o fato de os integrantes do grupo andarem armados; a pressão a pescadores que têm material apreendido em fiscalizações; e a influência de Colômbia sobre comunidades ribeirinhas onde vivem os familiares de Pelado, assim como sobre pescadores que vivem nas cidades de Atalaia do Norte (AM) e Benjamin Constant (AM).

Colômbia financia a prática de pesca ilegal há 24 anos, conforme a investigação da PF. Ele fornece barcos, motores e insumos para garantir a conservação dos peixes, segundo a polícia.

A execução de Maxciel nunca foi solucionada. O colaborador da Funai pilotava sua moto na avenida mais movimentada de Tabatinga (AM), cidade colada a Leticia, na Colômbia, quando foi alvejado com dois tiros na nuca.

Maxciel trabalhou por 12 anos na Frente de Proteção Etnoambiental Vale do Javari, da Funai, em ações de vigilância e fiscalização.

Menos de três anos depois, Bruno e Dom foram assassinados quando retornavam para Atalaia do Norte, cidade que fica na região da tríplice fronteira e ponto mais próximo da terra indígena Vale do Javari.

Bruno era servidor licenciado da Funai e atuava para a Univaja (União dos Povos Indígenas do Vale do Javari). Ele estruturou um serviço de vigilância indígena, que fazia dois comunicados por dia sobre presença de pescadores e caçadores ilegais na região.

Um novo inquérito foi aberto pela PF para investigar os crimes de associação criminosa armada, pesca ilegal e contrabando no Vale do Javari.

A investigação corre em paralelo com a dos homicídios de Bruno e Dom, que já resultou em denúncia pelo MPF. Pelado; seu irmão Oseney de Oliveira, o Dos Santos; e Jefferson Lima, o Pelado da Dinha, viraram réus na Justiça Federal.

Advogada de Pelado e familiares, Goreth Rubim disse que a defesa analisa todo o conjunto probatório usado para embasar as prisões preventivas. Segundo ela, o “clamor público” de um caso de grande repercussão nacional não é motivo suficiente para uma prisão.

“A fundamentação da prisão preventiva deve ser pautada em elementos concretos presentes na investigação e não com base em meras conjecturas, por simples suposições de que sujeito solto corre risco de empreender fuga”, afirmou.

A decisão judicial não demonstrou que outras medidas cautelares, que não a prisão, se mostrariam ineficazes, conforme a advogada.

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