Menu
Brasil

Setor pode deixar de investir R$ 2,5 bi em botijões se nova regra para gás for adiante, diz líder do mercado

ANP disse que as propostas ainda estão em estudo, mas que todos os distribuidores de GLP com maior participação de mercado já envasam botijões que não estampam a sua marca.

Redação Jornal de Brasília

04/09/2025 19h58

gás

Marcello Casal/Agência Brasil

ARTUR BÚRIGO
BELO HORIZONTE, MG (FOLHAPRESS)
– O setor de gás de cozinha vê de forma positiva o novo programa do governo Lula (PT) que prevê distribuir botijões às famílias de baixa renda, mas avalia que novas regras regulatórias em discussão podem prejudicar a viabilidade do Gás do Povo.

O alerta é de Pedro Turqueto, CEO da Copa Energia, dona das marcas Copagaz e Liquigás, líder do mercado de GLP (Gás Liquefeito de Petróleo).

Ele afirma que a distribuição de vouchers no lugar da transferência em dinheiro, como acontece hoje com o Auxílio Gás, fará com que famílias deixem de cozinhar com lenha ou carvão para adotar o gás de cozinha, reduzindo a chamada pobreza energética.

Para dar conta de atender a essa nova demanda, que ele calcula em 11 milhões de residências, o setor teria que investir R$ 2,5 bilhões na compra de novos botijões.

Esse aporte, porém, poderia ser inviabilizado caso novas propostas regulatórias da ANP (Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) entrem em vigor, diz o executivo.

Entre elas, estão o enchimento parcial de botijões e o fim da exclusividade de marca, ou seja, a permissão que empresas encham botijões de concorrentes.
“É inimaginável você querer que o setor invista R$ 2,5 bilhões em novas embalagens e, ato contínuo, falar que essas embalagens não pertencem mais a quem comprou e quem fez o investimento”, diz Turqueto.

Procurada, a ANP disse que as propostas ainda estão em estudo, mas que todos os distribuidores de GLP com maior participação de mercado já envasam botijões que não estampam a sua marca.

“Ou seja, as empresas, atualmente, confiam a segurança de sua marca aos principais concorrentes”, afirmou a agência, que adicionou que os distribuidores teriam que adotar medidas de rastreamento caso as propostas entrem em vigor.
O executivo da Copa Energia também reforça uma crítica das grandes distribuidoras de que as novas regras, com o pretexto de aumentar a competitividade no mercado, podem abrir caminho para a entrada do crime organizado no setor.

Ele faz um paralelo com a operação Carbono Oculto, que mirou a atuação de facções no mercado de combustíveis.

“Quando a gente olha o que aconteceu no setor de combustível, basicamente você baixou a régua dos agentes para eles entrarem nesse mercado. Se você for para um caminho muito permissivo no GLP, terá as mesmas consequências”.
A ANP afirmou que não fica claro como possíveis alterações trariam risco de entrada do “crime organizado” nesse mercado, considerando que as atividades seriam realizadas por agentes autorizados e fiscalizados pela própria agência.
No lançamento do programa Gás do Povo nesta quinta-feira (4), em Belo Horizonte, Lula voltou a criticar o setor de GLP ao afirmar que o gás sai da Petrobras a cerca de R$ 37 e é vendido à população por um valor acima de R$ 100.

Em maio, o petista havia afirmado que alguém está “ganhando muito dinheiro” com essa diferença.

Para o CEO da Copa Energia, todos agentes do setor têm interesse em vender o botijão no menor preço, mas há um custo adicional para levar o produto às casas das pessoas.

“A Petrobras fornece a molécula do gás, que é o nosso maior custo, mas tem a incidência de impostos, a logística primária do produto, a última milha [para levar na casa das pessoas], e o investimento na própria embalagem, no botijão, que demanda manutenção”, diz Torquato.

“Eu entrego meu produto em 100% dos municípios e 91% das residências, isso requer bastante investimento”, completa o executivo.

    Você também pode gostar

    Assine nossa newsletter e
    mantenha-se bem informado