Menu
Brasil

Secretário de Nunes refuta relação entre afastamento de diretores e privatização de escolas

Em entrevista à Folha, Padula, no entanto, negou qualquer relação entre o afastamento dos profissionais e o plano de privatização. “Não tem nada a ver, isso é um delírio total”, disse

Redação Jornal de Brasília

27/05/2025 16h54

Ricardo Nunes

Foto: Leon Rodrigues/Secom/Prefeitura de São Paulo

ISABELA PALHARES
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

O secretário de Educação de São Paulo, Fernando Padula, negou que o afastamento de 25 diretores tenha relação com os planos do prefeito Ricardo Nunes (MDB) de entregar a gestão de escolas municipais para a iniciativa privada.

No início do ano, o prefeito e o secretário anunciaram que estudavam levar a gestão privada para as 50 escolas municipais com menor desempenho. Na última sexta-feira (23), a prefeitura afastou diretores de 25 unidades sob o argumento de que elas têm os piores resultados da cidade em indicadores externos, como o Ideb.

Em entrevista à Folha, Padula, no entanto, negou qualquer relação entre o afastamento dos profissionais e o plano de privatização. “Não tem nada a ver, isso é um delírio total”, disse.

Em janeiro, o secretário afirmou que estudava os critérios para selecionar as 50 escolas a serem entregues para a gestão privada. Na ocasião, ele disse que esse era um compromisso de campanha do prefeito.

Agora, afirmou que apenas três novas escolas, ainda em construção, devem ser geridas em parceria com a iniciativa privada. Ele não explicou o motivo da mudança de planos.

Sobre o afastamento dos diretores, o secretário disse se tratar de apenas uma das medidas adotadas pela pasta para melhorar os indicadores educacionais da cidade. Ele também reforçou não ser uma medida “punitiva” contra os profissionais,

“Não se trata de um processo punitivo, como estão fazendo parecer. É um processo de dar as mãos e apoiar esse processo de desenvolvimento. É preciso entender que há pessoas com mais habilidade para a parte administrativa, outras com mais habilidade no diálogo com a comunidade e, talvez, seja preciso desenvolver mais a habilidade pedagógica.”

Padula explicou que esses 25 diretores foram convocados para um programa de requalificação, que foi organizado e será totalmente ministrado apenas por servidores da própria secretaria. Ele disse que nenhuma empresa ou fundação foi contratada para ofertar o curso.

O programa de requalificação termina em dezembro deste ano e, depois, os diretores voltam a assumir a direção das unidades.

“Não estamos tirando o diretor [da escola] nem demitindo. Estamos fazendo um processo formativo. Depois, o diretor volta para a unidade. Esses profissionais continuam lotados na mesma escola, mas ficarão totalmente dedicados a esse processo formativo, porque nós temos um indicativo de que essas unidades não estão garantindo o direito de aprendizagem dos estudantes”, disse o secretário.

Conforme mostrou a Folha, a maioria das escolas afetadas pela medida estão nas regiões de mais alta vulnerabilidade social da cidade e atendem crianças em situação de pobreza e que convivem com alto grau de violência urbana.

Também há casos de escolas com alto percentual de alunos recém-imigrados de outros países, muitas vezes sem ter aprendido a falar português, e com muitos estudantes com deficiência.

Os diretores relataram ainda não ter o quadro completo de docentes e ATEs (assistente técnico educacional), profissionais que auxiliam crianças com deficiência.

Questionado, Padula disse que o contexto de vulnerabilidade no qual estão inseridas as escolas não pode ser uma justificativa para o baixo desempenho. Ele, no entanto, não respondeu sobre a falta de profissionais -disse apenas que irá analisar “caso a caso”.

“A questão da vulnerabilidade é muito presente em toda a rede municipal de São Paulo. Só que o aluno ser pobre e vulnerável não pode ser um carimbo de que ele não consegue aprender. Por isso a gente tem que pensar em estratégias, apoiar, mandar mais recursos como a gente fez e fazer um processo de aprimoramento e aprofundamento para trabalhar isso”, disse.

Segundo ele, essas 25 escolas mostram que “claramente algo não está indo bem”, por isso, há a necessidade de um “um processo mais intensivo de formação desses diretores”.

Entre as escolas afetadas estão unidades reconhecidas em prêmios nacionais e internacionais. É o caso da Emef Espaço de Bitita, que foi selecionada pela Unesco pelo projeto inovador, e da Emef Campos Salles, vencedora de um prêmio do Ministério da Educação.

A decisão de afastar os diretores tendo apenas como critério o resultado em avaliações externas gerou críticas de acadêmicos. Eles dizem que a qualidade de uma escola não pode ser medida apenas com base em um indicador.

A Congregação da Faculdade de Educação da USP, por exemplo, aprovou uma moção de repúdio. Anota destaca que várias das escolas afetadas pela medida participam de projetos de formação inicial e continuada da universidade.

“Estas unidades são coformadoras de docentes junto a nossas unidades, atestamos, enquanto universidade pública e pertencente ao grupo das cem melhores do mundo, a qualidade do trabalho de tais escolas, considerando inadmissível o procedimento utilizado”, diz a moção.

A Congregação afirmou que irá acompanhar de perto a medida e vai atuar para reverter o afastamento dos diretores.

    Você também pode gostar

    Assine nossa newsletter e
    mantenha-se bem informado