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Brasil

‘Sabia que ele estava sujeito a morrer. Me revolta a forma’

Agência Estado

21/11/2016 10h35

Atualizada

Após a madrugada de confrontos entre policiais e traficantes na Cidade de Deus, moradores da comunidade amanheceram no domingo procurando familiares desaparecidos. Os números eram desencontrados, mas a tristeza e a revolta estavam estampadas em todos os rostos.

O pastor Leonardo Martins da Silva, de 45 anos, descobriu logo cedo que o filho, Leonardo Junior, de 22, estava entre as vítimas. “Minha revolta não é pela morte, porque eu sei que ele fazia uma coisa errada e por isso estava sujeito a morrer. É pela forma como aconteceu: atiraram pelas costas, quando ele já tinha se rendido. Isso está errado, e agora não deixam nem o rabecão entrar para recolher os corpos. Eu pago impostos, sou cidadão, tenho direito pelo menos que meu filho seja recolhido de forma decente”, afirmou à reportagem, enquanto mostrava a carteira de trabalho do filho, recém-confeccionada e sem nenhum registro. “Ele queria mudar, eu pedia isso, mas não deu tempo.”

Ainda com as mãos cheias de terra por ter retirado o corpo do filho de um brejo, o pastor foi pedir aos PMs que agilizassem a chegada da perícia, o que só aconteceu duas horas depois.

Familiares de outras vítimas preferiram não falar. Quando a perícia chegou e tirou os lençóis que cobriam os corpos, os repórteres fotográficos foram pressionados a sair do local.

Um vídeo que circulou pelas redes sociais mostra uma mulher pedindo que PMs permitam sua entrada em uma área de mangue para procurar o filho.

“Meu filho está aqui dentro, eu tenho de procurar”, grita. O policial diz que está sem comunicação com outros PMs e por isso seria arriscado permitir a entrada. “Eu vou entrar. Meu filho está aí dentro do mato. Morto, morto! O sangue é meu. Eu sou mãe”, repetia a mulher.

Anistia.

A Anistia Internacional divulgou nota condenando a política de segurança pública no Estado do Rio. Segundo o comunicado, o governo tem falhado em proteger a vida tanto dos moradores quanto dos agentes de segurança pública.

“As operações policiais no Rio seguem um padrão de alta letalidade, deixando centenas de pessoas mortas todos os anos, inclusive policiais no exercício de suas funções. São operações altamente militarizadas, que seguem uma lógica de guerra, que enxerga as áreas de favelas e periferias como territórios de exceção de direitos e que resultam em inúmeros outros abusos além das execuções”, diz a nota da organização não governamental.

Ministro oferece ajuda federal; Temer lamenta mortes

O Ministério da Justiça ofereceu ao governo do Estado do Rio a ajuda de agentes da Força Nacional que estão na cidade para prestar apoio à segurança na comunidade de Cidade de Deus.

O ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, informou que está acompanhando os fatos e que vem mantendo contato com o secretário de Segurança Pública do Estado, Roberto Sá.

A assessoria de Sá informou que, por enquanto, a mobilização da Força não é necessária.

O presidente Michel Temer lamentou neste domingo em uma rede social a morte dos policiais militares na queda do helicóptero na Cidade de Deus. “Lamentável a morte dos 4 PMs que cumpriam o seu dever durante operação no Rio de Janeiro. A minha solidariedade aos familiares e amigos”, escreveu. “Reitero minha confiança e apoio ao trabalho das forças policiais, sempre comprometidas no combate ao crime.”

Fonte: Estadao Conteudo

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