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Brasil

Quadro de Tarsila do Amaral por R$ 300 milhões é valor exagerado, diz especialista

É o que diz Gustavo Perino, especialista em perícia de obras de arte e fundador da Givoa Art Consulting

FolhaPress

10/08/2022 21h42

Agentes encontram a obra ‘Sol Poente’, de 1929, de Tarsila do Amaral (1886-1973), embaixo de cama de suspeitos de terem roubado idosa no Rio de Janeiro – Divulgação/Polícia Civil do RJ

Clara Balbi
São Paulo, SP

mbora as pinturas de Tarsila do Amaral roubadas num dos mais impressionantes escândalos da arte nacional estejam entre as mais importantes de sua produção, os valores atribuídos a ela e divulgados pela Polícia Civil do Rio de Janeiro são exagerados. É o que diz Gustavo Perino, especialista em perícia de obras de arte e fundador da Givoa Art Consulting.

Os valores de R$ 300 milhões por “O Sono”, R$ 250 milhões por “Sol Poente”, e “Pont Neuf”, de R$ 150 milhões, foram estabelecidos pelo perito Nilton Taumaturgo, do Instituto de Criminalística Carlos Éboli, em uma avaliação preliminar. “Posteriormente, será feita uma avaliação mais complexa laboratorial. É incontestável que as obras são verdadeiras. Apenas uma obra está com a moldura danificada”, ele afirmou.

Mas Gustavo Perino diz que R$ 200 milhões seria, por exemplo, o valor da atual apólice de seguro de “Abaporu”, talvez a obra mais importante da artista e uma das joias do Malba, o Museu de Arte Latino-Americana de Buenos Aires.

É claro que o valor de uma apólice não reflete necessariamente o valor de uma obra no mercado, ressalta o especialista –ele pode, por exemplo, ser ainda um valor declarado ou acordado entre as partes. Além disso, o valor estimado sempre é calculado a partir de preços registrados em leilões, em geral mais baixos do que aqueles de transações particulares.

Mesmo assim, o valor de uma avaliação deriva de uma série de etapas técnicas que seguem uma normativa internacional e que inclui, entre outros, sua condição no contexto de mercado, e o quanto ela representa ou não a produção do artista, o histórico de vendas anteriores da obra. E os valores anteriores de vendas públicas de obras de Tarsila não chegam a isso.

“A Caipirinha”, de 1923, bateu o recorde de trabalho mais caro de um artista brasileiro em uma venda pública ao ser arrematada por R$ 57,5 milhões num leilão na Bolsa de Arte, em São Paulo, há dois anos.

Enquanto isso, “Paisagem 3”, de 1971 –fora do período considerado o auge da artista, portanto– foi vendida em um leilão em 2011 por US$ 410 mil, num valor atualizado segundo a inflação é de pouco mais que US$ 540 mil.

Já a última transação mais importante de uma obra da artista, a aquisição de “A Lua”, de 1928, pelo MoMA, o Museu de Arte Moderna de Nova York, teria saído por cerca de R$ 75 milhões. A cifra, que circulava entre fontes na época da compra, nunca foi confirmada, porém.

A despeito dos valores das obras de Tarsila –”astronômicos” segundo Perino–, o perito afirma que as demais avaliações das obras roubadas soam razoáveis, embora ele não consiga cravá-los com certeza por não ter os dados de dimensões, ano e outras características das pinturas.

“O Menino”, de Alberto Guignard, aparece na lista como avaliado em R$ 2 milhões. “Vaso de Flores”, obra de 1930, foi comprada por R$ 5,7 milhões na Bolsa de Arte, em São Paulo, em 2015.

As obras integram uma lista de 16 trabalhos de arte supostamente roubadas por Sabine Boghici de sua mãe, Geneviève Boghici, idosa de 82 anos que teria sido mantida em cárcere privado por cerca de um ano. A filha foi presa em uma operação deflagrada por agentes da Deapti, a Delegacia Especial de Atendimento à Pessoa da Terceira Idade, na manhã desta quarta (10), no Rio de Janeiro.

Elas pertencem a uma das coleções privadas mais renomadas do país, fundada por Jean Boghici, morto em 2015. Há exatos dez anos, parte do acervo foi destruído em um incêndio que atingiu a cobertura duplex da família em Copacabana.

VEJA A LISTA DE OBRAS:

1 – “O Sono”, de Tarsila do Amaral, avaliada em R$ 300 milhões
2 – “Sol Poente”, de Tarsila do Amaral, avaliada em R$ 250 milhões
3 – “Pont Neuf”, de Tarsila do Amaral, avaliada em R$ 150 milhões
4 – “Ela”, aquarela de Cícero Dias, avaliada em R$ 1 milhão
5 – Aquarela sem título, de Cícero Dias, avaliada em R$ 1 milhão
6 – Desenho representando uma paisagem, de 1935, de Alberto Guignard, avaliada em R$ 150 mil
7 – “Rue des Rosiers”, de Emeric Marcier, avaliada em R$ 150 mil
8 – “Eglise Saint Paul”, de Emeric Marcier, avaliada em R$ 150 mil
9 – “Porto de Pesca em Hong Kong”, de Kao Chien-Fu, avaliada em R$ 1 milhão
10 – “Coruja ao Luar”, de Kao Chi-Feng, avaliada em R$ 1 milhão
11 – “Retrato”, de Michael Macreau, avaliada em R$ 150 mil
12 – “Mulher na Igreja”, de Ilya Glazunov, avaliada em R$ 500 mil
13 – “Mascaradas”, de Di Cavalcanti, avaliada em R$ 1,5 milhão
14 – “O Menino”, de Alberto Guignard, avaliada em R$ 2 milhões
15 – “O Maquete Para Meu Espelho”, de Antônio Dias, avaliada em R$ 1,5 milhão
16 – “Elevador Social”, de Rubens Gerchman, avaliada em R$ 1,5 milhão

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