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Brasil

PF resgata 54 vítimas e prende 78 por tráfico de pessoas e contrabando de migrantes

Entre as vítimas, estão mulheres e crianças que foram exploradas sexualmente no Haiti e na Espanha, e outras submetidas a trabalho escravo na Europa e em São Paulo

Redação Jornal de Brasília

25/12/2025 12h26

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Foto: Rafa Neddermeyer – Agência Brasil

CONSTANÇA REZENDE
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS)

O Centro Especializado contra o Contrabando de Migrantes e Tráfico de Pessoas da Ameripol (Comunidade de Polícias das Américas) resgatou, em seu primeiro ano de funcionamento, 54 pessoas que estavam sob controle de criminosos e prendeu 78 suspeitos.

Entre as vítimas, estão mulheres e crianças que foram exploradas sexualmente no Haiti e na Espanha, e outras submetidas a trabalho escravo na Europa e em São Paulo. A maior parte foi atraída com ofertas de emprego que não se concretizaram, segundo as investigações.

O centro, que foi criado em 2022 e começou a operar no fim do ano passado, é sediado no Brasil e dirigido pelo delegado da Polícia Federal Daniel Daher. Por meio da cooperação entre as polícias dos países americanos, o grupo busca dar maior celeridade e resolução das investigações.

Nas ações focadas na imigração ilegal, o centro desarticulou redes que enviavam pessoas para a União Europeia usando passaportes de terceiros ou falsificando vistos.

De acordo como o delegado, os EUA são um dos lugares mais procurados como destino ilegal, e coiotes chegam a cobrar até US$ 20 mil (R$ 110 mil) por pessoa para esse serviço, alcançado cifras bilionárias.

Os meios para chegar no país incluem rotas terrestres que passam pela Floresta de Darién, na fronteira entre o Panamá e a Colômbia, considerada uma das selvas mais densas do mundo. A perigosa travessia deixa vítimas pelo caminho.

“Essas pessoas estão sujeitas a ataques de animais selvagens, doenças tropicais, abusos de coiotes e das organizações que cometem estes crimes. Além de oferecer risco de vida e de integridade física e mental muito grande”, disse Daher à Folha de S.Paulo.

Dados da agência federal americana de controle de fronteiras analisados pela PF mostram que, em 2024, 22.990 brasileiros foram detidos tentando entrar ilegalmente nos EUA.

No último dia 10, a embaixada dos EUA no Brasil divulgou um vídeo direcionado a imigrantes em situação irregular, no qual incentivava o uso de um aplicativo do governo para retorno ao país de origem.

A publicação se referiu à iniciativa como um “presente de fim de ano perfeito” do Departamento de Segurança Interna (DHS, na sigla em inglês) do governo de Donald Trump, que tem essa como uma de suas bandeiras políticas.

O número de brasileiros deportados dos Estados Unidos até outubro deste ano já é o maior desde pelo menos 2020, de acordo com dados da PF. Até o dia 1º daquele mês, foram 2.262 cidadãos do Brasil retirados do território americano, um aumento de 36,2% em relação aos 1.660 registrados em todo o ano de 2024, sob o governo Biden.

O delegado também diz ser importante frisar que criminoso, nestes casos, é quem explora a imigração ilegal para fins de vantagem, não quem tenta entrar em determinado país em busca de melhores condições de vida. Segundo ele, o migrante não deve ser preso quando pego, mas sim extraditado.

A legislação brasileira considera, como modalidades de tráfico de pessoas, a exploração sexual, o trabalho escravo ou análogo à escravidão, a remoção de órgãos ou partes do corpo e a adoção ilegal.
O Código Penal prevê, para estes crimes, pena de reclusão de quatro a oito anos, além de multa. Ela é aumentada em um terço se forem cometidos contra crianças e adolescentes.

As investigações do centro abrangeram pessoas que passaram pelo Brasil vindas, por exemplo, da América Central rumo à Europa como destino final.

A Operação Vuelta, de junho, mirou um grupo que organizava a logística da viagem, como passagem pelo território brasileiro utilizando documentos falsificados. Muitos eram cidadãos da República Dominicana.

Também foram identificados migrantes traficados para fins de exploração laboral, como bolivianos, africanos e venezuelanos.

Centros de telemarketing no Sudeste Asiático, por exemplo, atraíram pessoas com propostas de emprego, mas que, ao final, foram obrigadas a trabalhar para empresas de golpes virtuais, assim como falsas agências de modelos.

Daher alerta que boa parte desses crimes migrou para o ambiente virtual, em que são utilizadas redes sociais ou sites falsos para recrutar as vítimas. Antes, isso era feito apenas por agências de fachada, ou boca a boca, mirando sempre pessoas vulneráveis.

“As vítimas são seduzidas por uma boa proposta, com custos pagos. Isso salta os olhos. Só que elas chegam no local e encontram uma realidade diferente. São colocadas em cárcere privado, obrigadas a trabalhar em jornadas além da prometida e sofrem violência física e psicológica”, afirma.

Até exploração sexual, segundo o delegado, pode ser feita hoje virtualmente, com transmissões online.

O diretor afirma ser importante, para o próximo ano, investir em prevenção, fornecendo informações sobre estes crimes. Além disso, ele espera que o centro dê ainda mais apoio aos resgatados, com a capacitação de agentes.

O objetivo, segundo Daher, é que a polícia ajude a encontrar entidades que promovam o acolhimento dessas pessoas, tirando-as da situação de risco, para que não sejam revitimizadas.

“Quando se fala em polícia, prioritariamente se pensa em repressão. Só que tem um papel importantíssimo de dar assistência às vítimas, pois é a primeira que chega no local e tem o contato com elas. Não podemos prender o traficante e deixar a vítima sem apoio. Também temos esse papel humanitário”, disse.

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