Organizadores de um evento internacional sobre segurança pública decidiram cancelar visita à Cidade de Deus, zona oeste do Rio, devido aos “incidentes” registrados na comunidade este mês.
A programação original previa que policiais estrangeiros fossem à Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) local, mas a visita foi suspensa “por uma questão de imagem”.
Oficialmente, os responsáveis pelo I Encontro Estratégico de Segurança Pública e Políticas de Drogas afirmam que a ida à Cidade de Deus foi cancelada devido à distância entre a favela e o centro do Rio, onde acontecem os seminários e mesas-redondas.
Fontes ligadas à organização do evento admitem, no entanto, que tomaram a decisão de apresentar aos policiais estrangeiros apenas as UPPs do Cantagalo e do Chapéu Mangueira, ambas na zona sul, onde não há registros de ocorrências recentes de violência.
Embora a Polícia Militar seja uma das organizadoras do evento, ao lado da ONG Viva Rio, a corporação nega interferência na escolha das comunidades visitadas.
No início deste mês, houve dois confrontos entre moradores da Cidade de Deus e agentes da UPP. No dia 5, a sede da unidade foi atacada com pedras e garrafas, ferindo um policial na cabeça.
Policiais e agentes aposentados do Brasil, da Europa, dos EUA e da Austrália participarão até quarta-feira, 21, de uma série de discussões sobre as políticas de segurança pública.
Entre os convidados, estão representantes de organizações que defendem a descriminalização das drogas. Sede do evento, o Rio adotou cautela em relação ao debate.
“Ainda não temos uma posição firmada sobre o assunto, mas acredito que a melhor opção é atuar na prevenção, desestimulando o consumo de drogas”, avaliou o coordenador das UPPs, coronel Robson Rodrigues.
Diretor da organização Law Enforcement Against Prohibition, que reúne policiais e ex-policiais favoráveis à descriminalização das drogas, o americano Neill Franklin aprovou o modelo das UPPs, mas se mostrou cético quanto a sua aplicação a longo prazo.
“É um esforço fantástico, que certamente salva vidas. Mas será que é possível levar essa estrutura a todas as favelas do Estado?”, questiona. “Se não houver como financiar isso, é preciso buscar outras soluções.”
Quarta-feira, um grupo formado por policiais brasileiros e estrangeiros, além de representantes de organizações civis, apresentarão uma declaração com propostas de combate às drogas.