CRISTINA CAMARGO, BRUNA FANTTI E FRANCISCO LIMA NETO
SÃO PAULO, SP, E RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS)
O governo do Rio de Janeiro realiza nesta terça-feira (28) a Operação Contenção, uma ação conjunta das forças de segurança estaduais contra a expansão territorial do Comando Vermelho.
Policiais civis e militares estão nos complexos do Alemão e da Penha, na zona norte da cidade, para cumprir mandados de busca e apreensão e capturar lideranças criminosas do Rio e de outros estados. Os dois complexos abrigam 26 comunidades.
No início da manhã, dois homens foram presos e um fuzil foi apreendido na rua Uranos, na entrada dos policiais nos complexos. No total, a operação já apreendeu dez fuzis.
Os policiais tentam cumprir 69 mandados de prisão em 180 endereços. A operação já prendeu 23 criminosos. Dois suspeitos foram mortos em confrontos.
Um policial civil também morreu depois de ser atingido em uma troca de tiros, e um delegado ficou ferido. Outras seis pessoas foram baleadas, sendo três inocentes, incluindo uma mulher que estava dentro de uma academia.
Segundo o governo do estado, criminosos usaram drones para lançar bombas contra as equipes policiais e a população, no Complexo da Penha, para atrasar o avanço da operação.
Diversas barricadas foram colocadas nas vias pelos criminosos para impedir a entrada das forças policiais.
“A operação visa combater a expansão territorial do Comando Vermelho e capturar lideranças criminosas do Rio de Janeiro e de outros estados”, diz nota divulgada pelo governo do estado.
Segundo a Delegacia de Repressão a Entorpecentes, a expansão do Comando Vermelho foi investigada durante um ano.
Segundo o Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) do Ministério Público do Rio de Janeiro, por estar localizado próximo a vias expressas e ser ponto estratégico para o escoamento de drogas e armamentos, o complexo de favelas se tornou uma das principais bases do projeto expansionista do Comando Vermelho, especialmente em comunidades da região de Jacarepaguá.
Ao todo, a Promotoria denunciou 67 pessoas pelo crime de associação para o tráfico, e três homens também foram denunciados por tortura.
Edgar Alves de Andrade, o Doca, apontado como a principal liderança do Comando Vermelho no Complexo da Penha e em outras comunidades da zona oeste, como Gardênia Azul, César Maia e Juramento, também foi denunciado. Um dos presos na ação dessa terça é o operador financeiro do Doca, segundo a operação.
Segundo a denúncia, também exercem liderança na associação criminosa Pedro Paulo Guedes, conhecido como Pedro Bala; Carlos Costa Neves, o Gadernal; e Washington Cesar Braga da Silva, o Grandão.
A reportagem não teve acesso a defesa deles.
De acordo com a Promotoria, eles dão ordens sobre o tráfico de drogas, determinam as escalas dos criminosos nas biqueiras e nos pontos de monitoramento, e ordenam os assassinatos daqueles que contrariam seus interesses.
Além deles, foram denunciados 15 homens que gerenciam o tráfico e são responsáveis pela contabilidade, abastecimento, entre outras funções. Os outros denunciados, segundo a ação penal, atuavam como “soldados”, realizando o monitoramento e a segurança armada. A denúncia foi recebida e os mandados foram expedidos pelo Juízo da 42ª Vara Criminal da Capital.
Victor Santos, secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, afirmou, na manhã desta terça-feira (28), que não há como o estado enfrentar o crime organizado sozinho.
“Estamos falando de 9 milhões de metros quadrados de desordem urbana [nos complexos do Alemão e da Penha], com becos intransitáveis, casas irregulares e criminosos que dominam o território. É impossível enfrentar isso apenas com o efetivo do estado”, afirmou o secretário ao Bom Dia Rio, da TV Globo.
Por parte da Polícia Civil, participam da operação agentes da Core (Coordenadoria de Recursos Especiais), delegacias especializadas, distritais e o Departamento de Combate à Lavagem de Dinheiro e Subsecretaria de Inteligência. Da Polícia Militar participam o COE (Comando de Operações Especiais) e unidades da capital e da região metropolitana.
Drones, dois helicópteros, 32 veículos blindados terrestres e 12 veículos de demolição, além de ambulâncias, estão entre os equipamentos utilizados pelos policiais.
Moradores dos complexos do Alemão e da Penha relatam tiroteios e dificuldade para sair de casa desde o início da manhã.
Até o momento, cinco unidades de saúde que atendem a região da Penha e do Complexo do Alemão suspenderam o início do funcionamento e avaliam se poderão abrir nas próximas horas. Uma clínica da família mantém o atendimento à população, porém, as atividades externas realizadas no território, como as visitas domiciliares, estão suspensas.