Menu
Brasil

Ondas engolem muros de casas em praias de Florianópolis

Região atingida pela erosão costeira compreende uma área de aproximadamente 200 metros circundada por um ponto de elevação, onde fica uma rodovia e, no outro lado, por uma área de vegetação

Redação Jornal de Brasília

02/06/2021 18h06

Foto: Reprodução

Vanessa da Rocha
Florianópolis, SC

A maré alta devastou a beira da praia do Morro das Pedras, no sul de Florianópolis, e chegou até a porta de residências que ficam em frente ao mar.

“Dois postes de luz estão submersos. Embaixo d’água há pedaços dos muros. Árvores, deck e uma piscina também foram levados. São 12 casas que estão em risco. Um dos imóveis está a 70 centímetros da escarpa erosiva”, diz Alexandre Vieira, gerente da Defesa Civil do município.

A região atingida pela erosão costeira compreende uma área de aproximadamente 200 metros circundada por um ponto de elevação, onde fica uma rodovia e, no outro lado, por uma área de vegetação.

A força das ondas quebrou os muros e corroeu parte da areia. Um barranco se formou em frente às residências. “Ao sair de casa tem uma ribanceira de 5 metros de altura”, conta André Luiz Vieira, que mora próximo à área atingida.

“Tá bem perigoso aqui. Na madrugada, quando a maré sobe, é um barulho que não tem como dormir. O maré já comeu dez metros do meu terreno, e o barranco tá muito alto”, diz o servente de pedreiro Tiago Estevão Cristino, que mora em uma das 12 casas que estão sob risco.

Desde a subida da maré, no início de maio, os moradores fazem vigílias nas madrugadas. Já durante o dia, fazem mutirões para encher sacos de areia e montar defesas.

O servente de pedreiro conta que o trabalho de vigília reúne por vez dez pessoas ou mais. “A gente aproveita a hora que a maré desce para encher os sacos rapidamente. São muito pesados, quase uma tonelada, então a gente tem que encher direto no local que vão ficar. É um trabalho de formiguinha. Fazemos isso rápido porque em certo horário do dia a maré sobe de novo e aí temos que sair correndo.”

Apesar do risco, a maioria dos moradores permanecem nas casas. “Não tem como ir e abandonar tudo. Tem alguns que isso aqui é casa de praia de veraneio, mas a maioria mora aqui há mais de 40 anos. Não dá pra abandonar a casa.”

Os moradores fizeram dois protestos com bloqueio da rodovia SC-406, que fica na lateral da área atingida, e recorreram à Justiça para obrigar o poder público a tomar uma medida emergencial. O pedido é pela construção de uma barreira de proteção. Eles aguardam a decisão judicial e o anúncio de ações da prefeitura.

“Se nada for feito essas casas vão vir abaixo. Queremos uma medida paliativa. Que montem a paliçada ali com os troncos de madeira e mais sacos de areia. Os proprietários que têm dinheiro compraram uns e doaram outros para os mais humildes, mas não é suficiente. Não adianta fazer só de uma parte. Tem que montar uma barreira ali”, diz Tadeu Lins, que é diretor da Associação Comunitária do Morro das Pedras.

A prefeitura tem monitorado a situação através da Defesa Civil e ainda não confirmou se a barreira emergencial será construída pelo município.

Já no longo prazo, o pedido dos moradores é pelo enrocamento da praia, que é a construção de um muro de pedras para conter as ondas. A solução já foi implantada em outros dois pontos próximos ao local atingido. No entanto, depende da autorização dos órgãos de fiscalização.

“Fizeram o enrocamento numa parte em que a rodovia podia ser invadida pela água e fizeram na parte próximo à Lagoa do Peri para não correr o risco da água do mar invadir a lagoa. Nos dois casos o argumento para autorizar foi a abrangência pública. Aqui, eles alegam que o interesse é de particulares, não é público e por isso que barram”, diz Lins.

Conforme os moradores, havia distância do mar quando os imóveis foram construídos. “Está assustando muito a alteração na geomorfologia da praia. Há um empilhamento de fatores que formam a receita do desastre. Um efeito dominó”, diz Vieira.

“Nós, ‘manezinhos da ilha’, nascidos aqui, sempre estivemos acostumados com a maré alta de 7 em 7 anos. Era um fenômeno cíclico. Agora tem sido de mês em mês. A cada 3 meses, tem um fenômeno com alagamento, sendo que em quatro décadas que estou aqui é a primeira vez que chega com tanta força.”

Segundo o oceanólogo Carlos Eduardo Salles de Araújo, que tem monitorado o local, a subida da maré na região é causada por fatores diversos que têm influência da lua, do vento e da incidência de ciclones.

“São três fenômenos que geralmente ocorrem de forma isolada, mas quando um se soma ao outro, essas elevações do mar acontecem”, diz.

O professor do Departamento de Oceanografia da Univali Mauro Michelena alerta para a reincidência de fenômenos que causam a elevação do nível do mar. “Uma coisa que a gente consegue dizer com bastante certeza, já que temos estudos sobre isso, é que eventos de grande energia como esse tendem a se repetir”, disse.

As informações são da FolhaPress

    Você também pode gostar

    Assine nossa newsletter e
    mantenha-se bem informado