FRANCISCO LIMA NETO
FOLHAPRESS
Um casal gay que estava abraçado no Mercadão de São Paulo relatou ter sido abordado por um segurança do espaço, que pediu que os homens fizessem “isso lá fora”. O caso aconteceu no domingo (30).
O Mercadão disse que episódio é inadmissível, e a empresa terceirizada que cuida da segurança afirmou que o funcionário foi demitido.
O autônomo Kawan Maia, 26, esperava um veículo por aplicativo junto do namorado, de 24 anos. Maia filmou a ação.
“Estou aqui no Mercadão de São Paulo e não posso estar abraçando meu namorado porque ele [segurança] disse que aqui tem um monte de família”, diz ele na gravação.
O segurança responde: “Cara, eu tô pedindo com respeito. Então, não dá pra você fazer isso lá fora? Estou pedindo para você respeitar as famílias”. O homem não foi identificado.
“Aqui é público, eu vou abraçar onde eu quiser. Quem é você para me falar alguma coisa? Eu não estou beijando ele, estou abraçando”, rebate Maia. Os dois, então, seguem a discussão.
Segundo a SSP (Secretaria da Segurança Pública), “as vítimas estavam abraçadas quando o funcionário iniciou a discussão e, ao deixarem o estabelecimento, ainda ouviram novas ofensas”.
O caso foi registrado como injúria no 1º Distrito Policial (Sé), e as vítimas foram orientadas sobre o prazo para representação criminal.
Maia disse à Folha de S.Paulo que seu advogado já deu início ao processo. “Quero apenas que a justiça seja feita, para que mais pessoas não passem por uma situação como essa. Só quem passa sabe a sensação horrível que é”, afirmou.
A Mercado SP, concessionária responsável pela gestão do Mercadão, afirmou que o episódio representa um fato isolado e inadmissível, que não reflete os princípios nem o compromisso do Mercadão com o respeito, a inclusão e a diversidade.
A concessionária disse que notificou a empresa terceirizada responsável pelo controlador de acesso e solicitou seu afastamento imediato. A Mercado SP afirmou que está reforçando suas políticas de diversidade e inclusão junto aos colaboradores diretos e com os prestadores de serviço.
“O Mercadão é, historicamente, um espaço de encontro entre culturas, origens e expressões, além de um patrimônio da cidade de São Paulo que preza pela convivência respeitosa, sendo, inclusive, integrante da Câmara de Comércio e Turismo LGBT do Brasil. A administração segue atuando com total transparência para assegurar que o Mercadão continue um espaço seguro, democrático e aberto.”
A Argus, empresa responsável pela gestão do controle de acesso no Mercadão, também em nota, manifestou profundo pesar e repúdio com o episódio.
A companhia afirmou que o funcionário foi demitido e que está intensificando e revisando seus programas de treinamento.
“Será promovido um novo ciclo de capacitação e sensibilização sobre diversidade, inclusão e combate a toda forma de discriminação para toda a equipe”, afirmou.